Funchal recebeu 7º debate ECO Local/Novo banco
O sétimo debate ECO Local/novobanco aconteceu ontem, no Funchal, onde vários especialistas refletiram sobre os diferentes desafios e oportunidades para o crescimento económico da região.
O Master Novobanco do Funchal recebeu ontem, dia 29 de junho, o sétimo debate ECO Local/novobanco. O estado da economia da região e os desafios a enfrentar foram os temas do evento, que contou com a moderação de André Veríssimo, redator principal do ECO.
O evento começou às 17h00 e teve como convidados Pedro Calado, Presidente da Câmara do Funchal; Bruno Freitas, CFO da hotéis Savoy; Carlos Soares Lopes, CEO da Startup Madeira; e Luis Ribeiro, Administrador do novobanco.
Entre os desafios que a região autónoma da Madeira está a enfrentar, Luis Ribeiro começou por falar sobre a qualificação dos recursos humanos: “Temos um nível de escolaridade bem mais baixo do que os indicadores do país. Cerca de 8,1% da população não tem nenhum nível de ensino completo e isso é, de facto, um desafio muitíssimo importante. Se somarmos a isso o facto de que só existem 28 diplomados por cada mil habitantes (quando a média do país anda nos 82), isto mostra que há um desafio na qualidade dos recursos humanos e nas suas competências”.
Além disso, o administrador do novobanco também mencionou a prevalência de micro empresas na região como um desafio. “Existem cerca de 30 mil empresas na região com um bom crescimento desde 2013. Mas 96% das empresas são micro, 3% são pequenas, 1% são médias e há 24 empresas grandes, 22 das quais no Funchal”. O responsável acrescentou que “estas empresas têm um bom nível de autonomia financeira, superior à média nacional, mas têm uma maior vulnerabilidade relativamente aos custos financeiros porque também têm níveis de rentabilidade mais baixos“.
1.8 mil milhões de euros de investimento na Madeira
Como solução, Luis Ribeiro sugeriu a canalização do investimento de uma forma estrutural. “No PT2020 foram aprovados 6800 projetos na Madeira, cerca de 1.8 mil milhões de euros, dos quais 4300 projetos e mil milhões de euros foram aqui no município do Funchal”, afirmou, acrescentando que, na perspetiva do Novobanco, é importante canalizar o investimento para a criação de valor adicional, nomeadamente na área tecnológica e de empresas que possam trazer outro nível de crescimento para a região.
Por sua vez, Pedro Calado, presidente da Câmara Municipal do Funchal, garantiu que, com a pandemia, a região autónoma da Madeira percebeu que não podia depender só do setor do turismo, que representa 25% do PIB, e, nesse sentido, começou logo a apostar na área tecnológica, na informática, na robótica, “que hoje já se aproximam muito da faturação que temos na hotelaria e turismo”.
O autarca referiu, por isso, que é necessário apostar numa diversificação da oferta que passe, obrigatoriamente, pela tecnologia. Isto porque, apesar da Madeira ter produtos característicos da região que podem ser exportados, como a banana, o vinho e os bordados, o facto de ser uma região pequenina, tira-lhe a capacidade produtiva e exportadora para poder dinamizar um segmento de mercado internacional. “Nós temos que orientar bem e escolher determinados nichos de mercado onde colocar os nossos produtos regionais, com qualidade e com preço porque não conseguimos produzir em massa. E um fator determinante tem de ser a área tecnológica”, disse.
Perda de jovens para o exterior
“Metade dos nossos jovens universitários vão para o continente estudar. Nós temos de ter capacidade de trazê-los de volta, mesmo depois de experiências internacionais. E trazê-los de volta por duas razões – uma para trazer conhecimento e outra para terem filhos cá”, afirmou Carlos Lopes, CEO da Startup Madeira.
Nesse sentido, o presidente da Câmara do Funchal destacou que o governo português deveria tomar outras medidas para valorizar o talento nacional: “85% dos jovens da Madeira que acabam o ensino secundário ingressam no ensino superior e, desses 85%, há 92% que acabam a licenciatura. O problema não está nos que entram na faculdade, mas sim nos que, depois disso, saem do país. Ou seja, nós passamos 12/15 anos a investir nos jovens e depois perdemo-los porque eles ganham três vezes mais fora do que ganham aqui e isso é que está errado no nosso país”.
Por outro lado, Carlos Lopes também ressalvou a necessidade de haver uma maior abertura para ideias inovadoras. “Temos um campus universitário, onde há pequenos empreendedores a tentar testar ideias de negócio, mas muitas vezes é preciso chegar às grandes empresas para que essas ideias sejam testadas. Ou seja, temos empreendedores com ambição, mas também temos de ter estruturas flexíveis, que queiram inovar, que estejam dispostas a receber capital de risco. O que torna esta junção complicado é que, por um lado, temos os investigadores, que são avaliados pela sua atividade académica, e, por outro lado, temos as empresas, que querem soluções rápidas e pensos rápidos para a inovação”, explicou.
Top 5 nos destinos mundiais para nómadas digitais
No entanto, apesar de os salários serem mais atrativos fora do país, o nomadismo digital tem permitido a cada vez mais pessoas trabalharem a partir de destinos menos lucrativos profissionalmente para outros lugares do mundo onde são melhor remunerados.
Desde a pandemia, a Madeira tem tido um enorme crescimento de nómadas digitais na região e Carlos Lopes afirmou mesmo que a ilha se encontra no “top 5 mundial como um dos destinos mais atrativos para nómadas digitais”. O responsável afirmou que esta adesão aconteceu devido ao projeto dos nómadas digitais, desenvolvido pela Startup Madeira, “que soube perceber o que eles queriam”.
“A Ponta de Sol serviu como incubadora. Até agora temos mais de 17 mil inscritos de 136 países. A idade dos inscritos varia dos 18 aos 80 anos, mas a maioria está entre os 30 e os 40 anos”, disse.
Mas, para que mais pessoas se fixem na Madeira, o preço das habitações tem um peso crucial nessa decisão. Nesse sentido, Pedro Calado explicou que, ao contrário do que muitas vezes é referido, “a habitação no Funchal não está cara por causa dos Vistos Gold ou porque foi dada a facilidade em termos de alojamentos locais”. De acordo com o autarca, “o que leva a habitação a estar cara agora é porque nos últimos 20 anos não houve construção, ou seja, se houve décadas sem construção, hoje não há habitação e a que existe torna-se cara”.
No entanto, o presidente da Câmara Municipal do Funchal referiu, ainda, que “o investimento que vai ser feito na construção de mais fogos, através do PRR, vai permitir, principalmente aos mais jovens, terem um acesso diferente à habitação”.
“Nós não teremos uma segunda oportunidade de beneficiar de tantos fundos comunitários como neste momento. O problema de Portugal não é receber fundos, mas sim saber como os utilizar e que rentabilidade quer dos projetos. E essa análise tem que ser feita muito rapidamente, bem como a diminuição da burocracia associada processo”, acrescentou.
Setor hoteleiro não pode crescer, mas pode aumentar valor
“Temos mais de cinco milhões de pessoas que nos visitam anualmente”, afirmou Pedro Calado. Este número tem vindo a aumentar, mesmo depois da pandemia, e Bruno Freitas, administrador financeiro dos hotéis Savoy, justifica essa tendência com a criação de novas linhas aéreas pós-pandemia, com deslocações ponto a ponto, que faz ponte com os principais destinos europeus.
Contudo, o responsável alertou para o facto de a Madeira não poder crescer mais em termos de espaço geográfico. “Há condições do ponto de vista estrutural que não permitem esse crescimento. A nível de volume, o crescimento está limitado pela condição física da região, mas tem que crescer em valor. E esse crescimento em valor tem-se sentido nos últimos tempos”, afirmou.
No que diz respeito ao número de camas disponíveis, a região autónoma da Madeira tem, na rede de hotéis, 30 mil camas e, na rede de alojamento local, 25 mil. Apesar de considerar que este número não poder crescer mais, Bruno Freitas garantiu que é possível aumentar o preço dos serviços: “Foram muitos anos a ter preços baixos e podemos melhorar ainda mais o nosso preço para a qualidade do serviço que nós oferecemos aos nossos turistas. E isso passa por valorizar a oferta que temos”.
O administrador financeiro do grupo Savoy referiu, ainda, que não sentem um “arrefecimento económico” porque, segundo ele, os mercados que sustentam o turismo da região são mercados tradicionais, onde há uma faixa etária que procura destinos seguros, que ainda tem um certo bem-estar económico e financeiro. “São esses que nós captamos e procuramos. O arrefecimento económico sente-se mais em destinos massificados”, concluiu.
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