Um País que corre, mas de olhos fechados!

  • Ricardo Valente
  • 23 Setembro 2024

Será que os decisores políticos mais importantes (os eleitores) querem tomar as rédeas de decisões de políticas públicas de forma a mudarem o estado das coisas?

Num mês marcado por mais uma tragédia ligada aos incêndios, tratada como se tal fosse o fruto de desígnios de vingança divina, é chegada a altura de assumir de uma vez por todas de que o Pais precisa de critério como base para as suas decisões, critério esse associado à execução/operacionalização de uma estratégia para o Pais e sobretudo para o papel do Estado na gestão do mesmo.

O que assistimos mostra pela enésima vez a falência de pretensas estratégias que ficam no papel. E ficam porque não existem os meios para a sua efetiva execução, sendo, portanto, não uma estratégia, mas antes um conjunto de desejos e bons princípios para se chegar ao objectivo(s) da estratégia.

No tema dos incêndios, como podemos aceitar que Portugal seja o país da Europa com a maior área ardida em termos absolutos: 97.081, 83 hectares anuais (média 2006-2022)?

Como aceitar um sistema escolar onde alunos não têm professores no primeiro dia de escola? Como podemos também aceitar termos Tribunais a cair, com meios de trabalho vergonhosos e com falta de recursos humanos? E as forças de segurança? Sem meios e com níveis de remunerações desajustados da sua função de exercício da segurança de pessoas e bens? E um sistema de saúde que não mostra capacidade de resposta?

Em suma, um Estado falido no exercício das suas funções básicas, mas supostamente rico pois apresenta superavit em sede de contas públicas. À custa do quê? De uma carga de impostos obscena sobre os rendimentos de trabalho, um IVA que equivale a quase um quarto doe preço da maioria dos bens e uma série de taxas e taxinhas administrativas ao nível dos serviços centrais e locais.

Um Pais que investe mais de 4.000 milhões de euros numa companhia área, um pais onde o setor empresarial do Estado representa cerca de 20% dos empregos públicos teria condições de, alienando a companhia área (um luxo de países árabes e de economias de terceiro mundo) e privatizando a esmagadora maioria das empresas ou pura e simplesmente fechando-as, de investir na sua floresta e investir também nascem pessoas e bens nestas cinco áreas fundamentais da intervenção do Estado: Segurança, saúde, justiça, educação e gestão de território.

Mas quererão os decisores políticos mais importantes (os eleitores), tomar as rédeas destas decisões de forma a mudarem o estado das coisas? Se sim, mudem de políticos porque exigem novas políticas, se não, não se queixem e assumam que querem as TAP’s e todo o conjunto de empresas e instituições que tal qual “monstro das bolachas” engorda à custa dos impostos sofregamente cobrados a todos os residentes em Portugal.

Por último, e num momento em que o relatório Draghi dá à luz, tenhamos a capacidade de, enquanto Pais, ser um exemplo transformador para que a Europa, como um todo, tenha a capacidade real ambição de competir à escala global, investindo fortemente nessa palavra-chave: capacidade de COMPETIR.

  • Ricardo Valente
  • Vereador da Economia e Finanças da Câmara Municipal do Porto

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