Enxarrama, o novo-velho vinho de António Maçanita

  • Rita Ibérico Nogueira
  • 13:01

António Maçanita tem vindo secretamente a preparar o regresso do mítico vinho Enxarrama, uma referência de antigamente, conhecida como o arqui-rival do Pêra Manca.

Depois de passar anos a fazer alguns dos melhores vinhos do país – distinguido diversas vezes em prémios e nomeações –, António Maçanita tem vindo secretamente, com a sua Fita Preta, a preparar o regresso do mítico vinho Enxarrama. O tinto, feito com uvas colhidas em 2014, tem o preço de 480€ a garrafa.

O vinho Enxarrama existe desde finais do séc. XIII. É proveniente de uma das zonas vinhateiras mais antigas de Évora de que há registo e deve o seu nome ao rio Xarrama, que nasce a noroeste da cidade. No final do séc. XIX, antes da filoxera, chegou a ser considerado o melhor vinho da região, de acordo com registos de Ferreira Lapa, em 1867: “De todos os vinhos da região eborense, o Enxarrama é o mais apreciado e obtém o melhor preço (…) ele é mais do que nenhum outro (…) procurado para a venda a retalho nos armazéns da capital (…). Em Évora há outros sítios mais ou menos nomeados pelos seus vinhos; entre eles os de Pêra Manca.”

Nesta edição agora lançada, António Maçanita fez um esforço para conseguir recuperar o espírito deste icónico vinho alentejano, com as mesmas técnicas usadas na época: vinhas de 25-30 anos cultivadas em sequeiro, em solo predominantemente granítico com algum xisto, produção biológica, certificada e sustentável; vindima manual noturna, sendo as uvas posteriormente selecionadas em mesa de escolha, para garantir que apenas a melhor fruta entra na cuba; fermentação espontânea (25-40 dias) feita por gravidade, sem recurso a bombas, permitindo uma extração suave e longa; fermentação malolática parcialmente em barrica (30%) e cuba. Por fim, um estágio total de 10 anos antes do lançamento, divididos por 36 meses em barricas de 228 litros de carvalho francês, 12 meses em cubas de 500 litros e 6 anos em garrafa.

Recordando as notas de prova do agrónomo e professor Ferreira Lapa, em 1867: “O vinho do Enxarrama é bastante tinto e encorpado, crystallino, cheiro tartsoso, e não suave, de sabor quente e macio, com travo (…) bem pronunciado. Não é um vinho alcoólico, nem aromático, é um vinho forte e bastão, que bem por causa do seu tanino pode tolerar o seu volume em álcool (…) Talvez por estas rasões, quasi tanto por suas outras qualidades, é elle mais que nenhum outro de Évora procurado para a venda a retalho nos armazéns de Lisboa”.

Foram produzidas 1218 garrafas deste vinho, lançado neste final de ano. É juntar já à lista de presentes de Natal.

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