Espanha exclui projeto da Altri na Galiza de fundos europeus
Governo espanhol decidiu que a fábrica de fibras têxteis que a Altri quer instalar na Galiza não receberá apoio de fundos europeus. A empresa portuguesa não se conforma e vai recorrer da decisão.
O projeto da empresa portuguesa de pasta de papel Altri para a Galiza não receberá fundos europeus, como solicitou a companhia, disse esta quarta-feira o Governo espanhol, tendo a empresa já anunciado que vai recorrer da decisão.
A exclusão da candidatura da Altri a 30 milhões de euros de fundos europeus destinados a projetos de descarbonização foi confirmada pela ministra do Trabalho e vice-presidente do Governo, Yolanda Díaz, e pelo ministro da Idústria, Jordi Hereu.
“Dissemos sempre alto e claro: Altri, não. E hoje dizemo-lo também desde o Governo, como defendemos desde o início”, escreveu na rede social Bluesky Yolanda Díaz, que é da Galiza e dirigente do Somar, o partido de esquerda que, com os socialistas, integra a coligação no Governo de Espanha.
Yolanda Díaz acrescentou que o Governo central espanhol não vai apoiar “nenhum projeto que ponha em risco a população, a natureza, o ecossistema, a própria vida”, numa referência ao projeto da Altri, que tem sido alvo de contestação por parte de setores políticos e da sociedade civil, sobretudo, organizações ambientais.
Já o ministro da Indústria, o socialista Jordi Hereu, garantiu que a exclusão da candidatura da Altri resultou de uma “avaliação estritamente técnica” e afirmou que o projeto, tal como aconteceu com o de outras empresas, não obteve “a pontuação mínima”.
A filial da Altri em Espanha, Greenfiber, assegurou que vai recorrer desta decisão e realçou que o projeto não está em risco.
A Greenfiber disse, num comunicado, não ter ainda recebido qualquer “comunicação oficial” e assegurou que avançou com uma candidatura a fundos europeus apesar de saber que poderia ser excluída por uma questão de prazos, uma vez que as verbas em causa se destinam a projetos que têm de estar concluídos antes de 31 de março de 2026, a menos que o Governo espanhol consiga um prolongamento por parte da Comissão Europeia.
A empresa insistiu nos méritos ambientais do projeto, que visa a produção de fibras têxteis a partir de celulose, realçando que reduz as emissões poluentes de dióxido de carbono em 91% comparando com a fabricação convencional e em unidades não integradas (que têm em pontos diferentes do planeta as matérias-primas ou as várias fases de produção).
A Altri vai recorrer da exclusão destes fundos europeus “confiando em que o Governo de Espanha possa alcançar um acordo com a Comissão Europeia para a ampliação do prazo de execução e que se tomem em consideração as alegações da empresa”.
A empresa ressalvou que a execução do projeto, que tem um investimento inicial estimado em 1.000 milhões de euros, nunca dependeu destes fundos, pelo que se mantêm os calendários e planos previstos.
A organização ambiental Greenpeace, que tem protagonizado a oposição ao projeto da Altri para Palas de Rei (Lugo), congratulou-se com a exclusão da candidatura a fundos europeus, considerando-a “um grande passo”, mas acrescentou que é preciso cautela, por se desconhecerem os fundamentos da decisão, e prometeu manter-se atenta a próximos desenvolvimentos.
Para a Greenpeace, é preciso saber se está em causa “uma questão de prazos” ou dúvidas em relação “à sustentabilidade e viabilidade do projeto”, que classifica como “enormemente prejudicial para o meio ambiente e a sociedade galega”.
A organização acrescentou, num comunicado, que, além destes fundos europeus, o projeto da Altri reclama outros financiamentos públicos, num total de 250 milhões de euros.
No mês passado, entre 20 mil pessoas (segundo as autoridades locais) e 50 mil (segundo a organização) manifestaram-se em A Pobra (Corunha, Galiza) contra o projeto da Altri para Palas de Rei.
Dias depois, o Governo de Espanha, através da ministra da Transição Ecológica, Sara Aagasen, assegurou que o projeto seria submetido às “máximas garantias ambientais”.
No mesmo dia, o delegado do Governo espanhol na província de Pontevedra (Galiza), Abel Losada, culpou o executivo regional galego (conhecido como Xunta e liderado pelo Partido Popular) de um “engano inicial”, por ter apresentado o projeto como uma fábrica de fibras têxteis “de vanguarda e com a última tecnologia”, algo que, defendeu, agora não se confirma.
“De repente, quando passamos do power point à realidade, vemos que é uma produção de pasta de papel, de celulose, que herda todos os problemas que tem este setor na Galiza”, acrescentou Abel Losada.
O Governo regional, através da conselheira com a tutela do Ambiente, Ángeles Vázques, reiterou na altura que o projeto não terá impactos negativos na saúde e nos “diferentes setores produtivos”, afirmou que “não mudou em absoluto” desde que foi anunciado e sublinhou que antes das eleições regionais do ano passado tinha o apoio dos vários partidos representados no parlamento autonómico.
O executivo galego aprovou no mês passado uma Declaração de Impacto Ambiental (DIA) favorável ao projeto, o que a Altri considerou “um importante reconhecimento” de que “cumpre todas as exigências ambientais da União Europeia”.
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