
Europa precisa de mais grandes empresas
Seria interessante que o acesso das grandes empresas, agora permitido no Compete, tivesse continuidade e fosse extensível a outros programas de apoio. Tecido empresarial ainda é muito fragmentado.
O anúncio recente da reprogramação do Portugal 2030 para permitir o alargamento do acesso por parte de grandes empresas nacionais aos apoios do programa Compete 2030 para investimentos alinhados com a iniciativa STEP (Strategic Technologies for Europe Platform) da União Europeia, nas áreas específicas de biotech, cleantech e digital, deve de ser destacado.
Desta forma, para além da possibilidade de acesso aos programas promovidos diretamente pela Comissão Europeia no contexto STEP, as empresas portuguesas de maior dimensão poderão também ter acesso a programas diretos de apoio nacional, com ênfase nos de natureza de inovação produtiva nos domínios STEP.
Recorde-se que a iniciativa STEP, lançada pela Comissão Europeia no primeiro trimestre de 2024, tem como objetivo reforçar a soberania tecnológica da União Europeia através do apoio a tecnologias críticas em setores estratégicos como inteligência artificial, computação de alto desempenho, semicondutores, cibersegurança, tecnologias verdes e biotecnologia. Esta iniciativa centraliza e coordena fundos como o InvestEU, Horizon Europe e o Fundo de Inovação, direcionando-os para tecnologias estratégicas, e cobre um espectro alargado de níveis de maturidade tecnológica, com ênfase nas fases mais avançadas (TRL 5 a TRL 9) de demonstração, validação e escalabilidade industrial de tecnologias estratégicas.
A possibilidade das empresas portuguesas poderem integrar esta iniciativa é totalmente relevante para assegurar um posicionamento nacional em áreas onde a Europa procura ganhar competitividade industrial, e a medida de permitir o acesso às grandes empresas parece mais do que necessária e justificada.
Por um lado, como já foi comentado neste espaço e como defendido por Mario Draghi no seu relatório sobre a competitividade europeia, a Europa necessita de mais grandes empresas, e com maior dimensão, sendo que a realidade nacional, ao nível da demografia e dimensão das nossas grandes empresas, nos coloca num nível de escala inferior aos nossos congéneres europeus. Recordando alguns números recentemente divulgados pelo Business Roundtable Portugal, Portugal continua a ter um tecido empresarial muito fragmentado, com apenas 0,3% de grandes empresas, que são, no entanto, responsáveis por 33% do VAB nacional e 58% das exportações, sendo reconhecido que ganhos de escala são essenciais para competir nos mercados globais e aumentar a produtividade. Assim, a não consideração das grandes empresas em temas tão relevantes para o futuro, como as tecnologias estratégicas, seria um contrassenso.
Por outro lado, a ambição associada à iniciativa STEP, em termos de áreas de atuação, maturidade tecnológica e capacidade de inovação, obriga à formação de ecossistemas empresariais, nos quais as empresas de maior dimensão terão maior facilidade de mobilização, de investimento, e de arrastamento de outras empresas parceiras para a integração de cadeias de valor coerentes.
Assim, a abertura ao envolvimento de grandes empresas nacionais deve ser analisada também como uma vantagem para as pequenas e médias empresas, que ao integrarem projetos conjuntos, terão acesso a apoios que de forma isolada e orgânica, lhes seria mais difícil de aceder, alavancando nas vantagens de escala e maturidade de mercado que as grandes empresas podem trazer.
Seria interessante que esta medida do Compete2030, no que concerne ao acesso das grandes empresas, tivesse continuidade e fosse extensível a outros programas de apoio. O país necessita que mais pequenas empresas se transformem em médias empresas, que mais médias empresas passem a ser grandes empresas, e que mais grandes empresas nacionais ganhem escala internacional. Estar perto da inovação e integrar as cadeias de valor em que a Europa visa assumir um papel de liderança competitiva pode ser parte da resposta a esse desafio.
Nota: Os pontos de vista e opiniões aqui expressos são os meus e não representam nem refletem necessariamente os pontos de vista e opiniões da KPMG em Portugal.
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