
Pela não normalização da ideia de interior. Pelo futuro de todos
Juntos, concretizaremos a missão da Fundação Mendes Gonçalves: Nutrir Futuros, Regenerar Legados. Da Golegã para o Mundo.
Da crescente utilização de tecnologias no nosso dia-a-dia ao que vivemos aquando da pandemia por COVID-19. Do espectro da guerra na Europa a mudanças no quadro sociopolítico que nos pareciam impossíveis não há muitos anos. Enquanto seres humanos, tendemos a naturalizar quase tudo. Fizemo-lo, no país, com a ideia de interior – e, particularmente, com o que resulta da ideia.
Se a tendência para a normalização decorre da condição humana, para a polarização é muito influenciada pelo contexto social. Das condições de vida à forma como as redes sociais determinam, hoje, o fluxo de informação e influenciam a formação de opiniões e identidades, tendemos para a criação de um “nós” versus “outros” e a afastar-nos, a polarizar. Fizemo-lo, no país, com uma progressiva clivagem litoral-interior – e, particularmente, com o que dela resulta.
Basta sairmos dos grandes centros urbanos para que a ideia de interior se comece a impor, como se passássemos uma fronteira física a caminho de uma outra realidade. O discurso no espaço mediático, as diversas categorizações da ruralidade aos territórios de baixa densidade, muitas das quais “bem-intencionadas”, reforçam uma certa diferença, que não deveria ter e ser sentido, mais num país relativamente pequeno do continente europeu, como é Portugal.
Mas, se a ideia de interior, verdadeiramente, começa na nossa cabeça, é inegável que temos um exigente caminho pela frente, sobretudo na construção de um futuro equitativo, sustentável e com mais possibilidade e oportunidade de bem-estar para todas as pessoas. Uma ação colaborativa, entre diferentes entidades e atores, de diversos setores, público, social e privado, é essencial para atingir este fim, comunidade a comunidade, território a território.
Queremos para isso contribuir, na Golegã e a partir da Golegã e da região ao seu redor, co-construir e inspirar outros a fazerem-no noutras cidades, vilas e lugares. Queremos fazê-lo aqui, numa Golegã a pouco mais de uma hora de distância de Lisboa e duas do Porto, onde cresce o sonho e floresce a ideia de cuidar das pessoas e dos ecossistemas. Do que nasce, cresce e se regenera. Cuidar é cultivar o potencial das ideias, das pessoas, das famílias e da comunidade. Com “inquie-tudo”. Com ética, transparência e integridade, sabendo que há sempre mais para aprender, melhorar, contribuir e transformar.
A Fundação Mendes Gonçalves nasce do compromisso da Casa Mendes Gonçalves e do seu fundador, Carlos Mendes Gonçalves, com o cumprir deste objetivo, agindo localmente, mas colaborando e inspirando globalmente. A partir dos verbos “educar”, “regenerar” e “nutrir” definiremos e concretizaremos a nossa ação, procurando revitalizar uma filantropia comunitária ou de proximidade, pelo futuro de todos.
A ciência demonstra que investir nos primeiros anos de vida tem um impacto duradouro na saúde, aprendizagem e bem-estar individual, bem como na produtividade, equidade e coesão social. Heckman, prémio Nobel de Economia, define numa célebre equação que o melhor “retorno em desenvolvimento na primeira infância ocorre quando se investe o mais cedo possível”, principalmente “desde o nascimento e até os cinco anos de idade e em famílias com maiores vulnerabilidades”.
Devemos, assim, concentrar-nos nos primeiros anos para uma maior eficiência e eficácia do investimento, reforçando, desde logo, a qualidade em educação que depende de relações seguras, práticas pedagógicas baseadas em evidência científica sólida, do envolvimento das famílias e da comunidade, bem como do contacto com a natureza. Queremos fazê-lo a partir do Centro Educativo (Berçário, Creche, Jardim-de-infância e EB 1.º ciclo) que construiremos, que ambicionamos que integre a rede pública na Golegã e das colaborações que dele resultarão na criação e transferência de conhecimento.
Os princípios da produção e da agricultura regenerativa propõem uma mudança de paradigma fulcral: não apenas proteger, mas, antes, regenerar. Regenerar o solo, aumentar biodiversidade e os sistemas vivos. Isto minimizando a perturbação do solo, mantendo a cobertura vegetal, valorizando a biodiversidade, integrando, intencionalmente, animais e, principalmente, compreendendo e respeitando o contexto local. É uma visão que será por nós advogada, de cooperação com a natureza, de cuidado coletivo e de construção de resiliência e de futuro para as gerações que se nos seguem.
Hábitos de nutrição saudável e segurança alimentar contribuem para prevenir ou adiar o surgimento de doenças não transmissíveis, algumas crónicas e, hoje, responsáveis maiores pela perda de anos de vida com qualidade no nosso país, como são exemplo as doenças cardiovasculares, a diabetes ou a obesidade. Paralelamente, e porque relacionada com o bem-estar, uma nutrição saudável surge associada a menores níveis de ansiedade, depressão e declínio cognitivo, diminui gastos em saúde, aumenta a produtividade, melhora o comportamento e desempenho escolar das crianças, bem como o seu desenvolvimento cerebral e imunitário. Mais, facilita a adoção de outros comportamentos parte de um estilo de vida saudável, nomeadamente a cessação ou menor consumo de tabaco e álcool e a prática de atividade física, mitigando desigualdades sociais e de saúde. É, portanto, fulcral a um pensamento e investimento de futuro, equidade e desenvolvimento.
O desafio que abraçamos é grande, ainda que o ponto de partida seja um território com cerca de 80km2 e 5000 habitantes. Mas contribuiremos mesmo para uma educação de qualidade, capaz de gerar mudança. Contribuiremos mesmo para a regeneração dos solos e para modos produção e consumo mais inclusivos e sustentáveis, que desenvolvam os ecossistemas e preservem o planeta. Contribuiremos mesmo para uma nutrição e estilos de vida saudáveis como fontes de bem-estar e florescimento.
Contribuiremos. No plural. Com todas e todos e para todas e todos. Pela cocriação, através de alianças estratégicas que empoderem comunidades. Pela promoção da literacia e transferência de conhecimento. Advogando e comunicando, para influenciar políticas públicas, inspirar e disseminar boas práticas. Validando cientificamente e monitorizando o impacto.
Juntos, concretizaremos a nossa missão: Nutrir Futuros, Regenerar Legados. Da Golegã para o Mundo.
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