Lançado originalmente em 2008, o projeto de reabilitação da frente de rio na margem sul do Tejo continua parado. No Seixal, há ali 300 hectares de terreno para empresas, nota o autarca Paulo Silva.
Concelho que reclama para si o lugar daquele que mais empresas cria no distrito de Setúbal, o Seixal vive constrangimentos de espaço para prosseguir esta expansão, apesar de ter no seu território 300 hectares da antiga Siderurgia Nacional num nó que o Estado tarda em desatar. “Fazem-se excelentes vídeos e apresentações, mas não se concretiza”, aponta o presidente da autarquia, Paulo Silva.
Sobre o Arco Ribeirinho Sul, projeto que, desde a primeira apresentação há 17 anos, soma avanços e recuos sucessivos, e que em março último foi rebatizado de Parque Cidades do Tejo, “o que temos visto são muitas promessas, constituição de várias empresas para o desenvolvimento do projeto, cargos de administradores das empresas, mas depois, trabalho em concreto, não se vê nada”, critica o autarca. “Portugal vai tendo custos com o desenvolvimento de projetos que não dão em nada”, lamenta Paulo Silva, em entrevista ao ECO/Local Online.
Quanto à nova Comunidade Intermunicipal (CIM), esta está pronta a avançar, mas a realização das eleições para os seus corpos dirigentes farão mais sentido no próximo mandato autárquico do que neste, que está a meses de terminar, considera o autarca.

O Arco Ribeirinho teve um anúncio de avanço a 29 de março de 2023, quando António Costa reuniu o Governo aqui em Setúbal. A 28 de março de 2025, o Governo de Luís Montenegro convocou os autarcas para mostrar um vídeo do que chamou Parque Cidades do Tejo. O que espera deste projeto que começou a ser anunciado ainda no tempo de José Sócrates?
O presidente Isaltino [Morais, autarca de Oeiras] diz que foi ele, quando esteve no Governo, que falou a primeira vez disto, no início dos anos 2000.
Temos pena que o projeto do Arco Ribeirinho Sul não avance mais rápido, porque há ali mais de 300 hectares para instalar muitas empresas e começa a haver falta de terrenos disponíveis para instalação de empresas. Temos aquele espaço ali desaproveitado.
O que espero é que se passe das palavras aos atos, que é isso que é essencial. Vão apresentando projetos, nomes, empresas, mas tudo não sai do papel. É fácil apresentar um projeto, o difícil é executá-lo. Nós, autarcas, queremos que haja a execução e que finalmente se dê o pontapé de saída nesse projeto que consideramos essencial para o desenvolvimento de toda a Península de Setúbal. Mas o que temos visto são muitas promessas, constituição de várias empresas para o desenvolvimento do projeto, cargos de administradores das empresas, mas depois, trabalho em concreto, não se vê nada. Portugal vai tendo custos com o desenvolvimento de projetos que não dão em nada. Fazem-se excelentes vídeos, excelentes apresentações, mas depois não se concretiza.
O que estão os municípios a fazer? Vão continuar à espera do Estado Central?
Não temos poder para intervir sobre aquele território, que é propriedade do Estado. O que se tem de fazer é continuar a fazer pressão. Como digo, há empresas que querem vir para o concelho Seixal e começa a faltar espaço disponível para a sua instalação.

No âmbito desta Península de Setúbal houve uma desagregação daquilo que era a NUT da Grande Lisboa. Foi uma das batalhas dos municípios do distrito. Como está o processo?
Foi constituída a CIM [Comunidade Intermunicipal], que irá avançar. Já todos os municípios aprovaram a constituição da CIM. Agora, é fazermos o ato constitutivo e eleger os órgãos eleitos. Não sei se a eleição ainda vai ser neste mandato, se vamos aguardar para o próximo. Se calhar, é melhor guardarmos para o próximo. Não faz muito sentido estarmos a avançar agora. Toda a Península de Setúbal tem sido muito prejudicada por estarmos, em termos de fundos, inseridos na Área Metropolitana de Lisboa, em que há três municípios que conseguem desvirtuar a realidade que é de toda esta área metropolitana.
Toda a Península de Setúbal tem sido muito prejudicada por estarmos, em termos de fundos, inseridos na Área Metropolitana de Lisboa, em que há três municípios que conseguem desvirtuar a realidade que é de toda esta área metropolitana.
Oeiras, Cascais e Lisboa.
Que têm rendimentos acima da média nacional. No Porto, não se fez só da área Metropolitana do Porto, fez-se da região Norte. O peso de alguns municípios da zona do Porto não se faz sentir porque é diluído por toda a região Norte. Aqui, há municípios que conseguem desvirtuar pelo grande número de empresas lá sediadas e que fazem, sem dúvida, depois a diferença em termos de rendimento per capita de toda esta zona. O que nos tem prejudicado.
E dentro desta nova CIM, que cenário existe em termos empresariais?
Somos o concelho da Península de Setúbal onde se criam mais empresas, onde existem mais empresas PME Líder, PME Excelência. A Hovione, que se está a instalar aqui no concelho do Seixal — para 2027, já foi anunciado que vai entrar em funcionamento a fábrica no concelho. Da Siemens, toda a estrutura de mobilidade elétrica está a ser desenvolvida aqui no concelho do Seixal. Eles já tinham aqui instalações, mas estão a desenvolver estas instalações com um projeto de ampliação. E há também outras grandes empresas a virem para o concelho do Seixal.
O que faz a câmara para levar a melhor nesta conquista de empresas?
Temos um técnico a fazer o acompanhamento. Os grandes projetos, quando entram, passam a ser acompanhados por esse técnico, que é sempre o nosso ponto focal no contacto com as empresas. E as empresas sabem que, qualquer coisa, não têm de fazer um requerimento à câmara nem pedir uma reunião. Têm de fazer um telefonema, e à distância de um telefonema contactam com a câmara municipal. Isto consegue, sem dúvida, agilizar procedimentos e assim trazer mais investimentos para o concelho do Seixal, que consideramos indispensáveis, principalmente se forem de empresas qualificadas, como é o caso da Hovione e da Siemens. Mas também há outras, como a DST que também se vai instalar aqui no concelho do Seixal, todo o seu polo para a zona Sul do país. A sede continua em Braga, mas estão aqui assim o polo para zona sul. Saiu agora a licença e vão começar também a construir as instalações aqui no Seixal.
Como está a câmara a preparar o futuro na ótica empresarial?
Estas empresas vão acompanhando o nosso projeto do Seixal Criativo, que lançámos neste mandato para o ensino aos nossos jovens. Conceitos e linguagens que são fundamentais para o futuro deles, como a prototipagem, a robótica, realidade virtual, realidade aumentada. Fizemos uma parceria com o professor António Câmara, que está a desenvolver este projeto, porque achávamos fundamental que os nossos jovens tivessem acesso a todo este mundo, e não apenas na universidade, mas anteciparmos o futuro no concelho do Seixal. Sete dos projetos que estão a ser desenvolvidos no Seixal Criativo vão à fase final do Concurso Nacional de Jovens Empreendedores.
Referiu a parceria com o professor catedrático da Universidade Nova, António Câmara. E trazer mesmo uma instituição de ensino superior para o Seixal, está na equação?
De há muitos anos, desde o projeto da Universidade Aberta até um pólo do Politécnico de Setúbal, temos tentado trazer para aqui o ensino superior. Até ao momento ainda não se conseguiu concretizar esse nosso desejo.
Porque vêm estas grandes empresas para o Seixal e não para os vizinhos Almada ou Barreiro, por exemplo?
Como eu digo aqui dentro, temos competição com os outros municípios da Área Metropolitana de Lisboa e temos de ser melhores que eles para conseguirmos trazer mais projetos para o concelho. Temos de ser dinâmicos, ter capacidade de resposta rápida, é tudo isso que tem de fazer a diferença do nosso serviço para conseguimos atrair mais empresas. As empresas não vêm por geração espontânea – eu estou nestas lides autárquicas desde as últimas eleições autárquicas, em que decidi aceitar este desafio e vir para o executivo municipal, mas tive uma vida de 30 anos como advogado e acompanhei muitos processos de constituição de empresas, de instalação de empresas.
Temos pena que o projeto do Arco Ribeirinho Sul não avance mais rápido, porque há ali mais de 300 hectares para instalar muitas empresas e começa a haver falta de terrenos disponíveis para instalação de empresas. Temos aquele espaço ali desaproveitado. O que eu espero é que se passe das palavras aos atos, que é isso que é essencial.
Essa vida de advogada foi interrompida com a entrada no Executivo em 2021. Entretanto, logo ao fim de um ano de mandato, o vencedor das eleições entregou-lhe a presidência da autarquia.
O engenheiro Joaquim Santos veio para a Câmara Municipal do Seixal como vereador com 25 ou 26 anos, tinha acabado a licenciatura em Engenharia. Tinha começado a trabalhar numa construtora e aceitou este desafio e veio para a Câmara Municipal e esteve aqui durante 20 anos. Ao fim de um ano, em que trabalhávamos diariamente, disse-me que tinha de ir à procura de começar a sua carreira profissional, que não tinha começado com 25 anos. E é preciso muito atrevimento para hoje em dia se deixar uma carreira profissional para vir fazer serviço público, e muito amor à camisola. Uma coisa é começar com 46 anos, outra coisa é começar com 50. Mas ele saiu para começar a sua carreira profissional. Pois o PS, que tanto criticou essa saída, passado pouco tempo substituiu o presidente da Câmara do Montijo, que estava em limite do mandato, mas ele não foi começar nenhuma carreira profissional. O PS arranjou-lhe outro lugar na administração da Amarsul. Substituiu a presidente da câmara da Amadora, que também estava em limite de mandatos, mas também ela não foi começar nenhuma carreira profissional, o PS arranjou-lhe outro lugar como eurodeputada. Portanto, é uma diferença o que aconteceu aqui no Seixal, aconteceu também em municípios do PS, só que o engenheiro Joaquim Santos foi para começar a sua carreira profissional, não foi porque tinha outro lugar à espera, porque nós no PCP não estamos aqui por lugares, estamos aqui por serviço público. Ele viu que ia acabar o seu ciclo autárquico e tinha que começar a sua carreira profissional, e depois do contacto que tivemos durante um ano, ele viu que tinha condições para poder sair mais cedo, deixando o lugar.
Suspendi a minha inscrição na ordem. Não passei para os filhos, passei a gestão para os sócios e eles sabem que não podem ter relações com a câmara do Seixal. Se for reeleito, venderei a minha quota aos meus sócios.
Deixou a sua vida de advocacia para vir para a câmara. O seu escritório é no Seixal?
Por acaso é em Almada. Não é para me gabar, mas tenho o maior escritório de advocacia a sul de Lisboa. Trabalham lá 25 pessoas. Mas decidi, pelo meu concelho, mudar de vida e estar aqui todos os dias, sem sábados, sem domingos, com férias reduzidas a trabalhar diariamente em prol do desenvolvimento deste concelho, com os meus camaradas de partido, com os trabalhadores da autarquia, com o nosso movimento associativo, com a população e vamos sem dúvida continuar este trabalho.
Como compatibiliza a propriedade de um escritório de advogados com o lugar de presidente da câmara?
Suspendi a minha inscrição na ordem. Não passei para os filhos, passei a gestão para os sócios e eles sabem que não podem ter relações com a câmara do Seixal. Se for reeleito, venderei a minha quota aos meus sócios.
Qual o seu projeto de vida?
Vida autárquica até à reforma. A população e o meu partido é que vão decidir.
E se a população agora não decidir a favor?
Tenho de voltar para a advocacia, tenho de ir trabalhar, tenho uma família para sustentar. Aliás, só aceitei este repto porque também achei que no outro lado tinha pessoas capazes para continuar com o projeto. Como sempre disse no meu partido, comecei da advocacia do zero, mas tinha 25 anos e não tinha família para sustentar. Agora, tenho essas obrigações. Nunca vi a política como uma profissão, mas como um serviço que estou a prestar. Tenho que ter algo sempre para sustentar a minha família e não quero andar a bater à porta de ninguém, porque nunca o fiz. Sempre fui de construir os meus projetos.
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Seixal exige rapidez na requalificação dos 300 hectares do Arco Ribeirinho Sul para acolher empresas
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