“Depois das legislativas, há mais pessoas a quererem aderir às listas” do Chega para as autárquicas

Com a arregimentação de candidatos autárquicos, o Chega sabe que pode voltar a ter de tirar a confiança política a eleitos, mas vai procurar "não errar no futuro", diz Pedro Pinto ao ECO/Local Online.

“Podemos chegar lá. Podemos ganhar câmaras”. O coordenador autárquico do Chega, Pedro Pinto, em entrevista ao ECO/Local Online, reconhece que a fasquia subiu bastante a 18 de maio, dia em que o partido foi elevado a segunda força no Parlamento português. “Sendo segunda força política, temos mais relevância ainda, e torna-nos mais no foco das atenções”.

Agora, diz, “há muito mais abertura de candidatos. O processo era feito praticamente ao contrário, éramos nós que tentávamos que fossem nossos candidatos. Depois das Legislativas, há mais pessoas a quererem aderir às listas”.

Após o resultado de 18 de maio nas Legislativas, houve alguma alteração da estratégia?

As autárquicas estão a ser trabalhadas há mais de um ano, temos uma equipa de trabalho aqui na sede do partido dedicada exclusivamente às autárquicas. O que estes resultados de 18 de Maio nos fizeram foi [trazer] mais responsabilidade, porque sentimos que podemos chegar lá.

Podemos ganhar câmaras. Agora sendo segunda força política, temos mais relevância ainda, e torna-nos mais no foco das atenções. Não houve mudança de estratégia, escolher as melhores pessoas, quer da sociedade civil, quer também em militantes do partido, pessoas que têm estado connosco desde o princípio.

Há câmaras, de que Oeiras é exemplo, onde o presidente da câmara convida eleitos de outros partidos a integrarem o Executivo. O Chega vai estar disponível?

Vamos aguardar serenamente, vamos ver o que vai acontecer. No caso de Oeiras não estaríamos certamente disponíveis para isso, porque com Isaltino Morais nós não pactuamos, e não estaremos certamente no executivo liderado por Isaltino Morais.

O único paralelo partidário que há com o Chega é o do PRD, que ganhou três câmaras municipais, Almeirim, Belmonte e Lamego, com ex-presidentes de Câmara do PS e PSD. No vosso caso, vão incorporar ex-autarcas, considerando até que têm ido buscar votos a municípios PSD, PS e PCP?

Procuramos sempre escolher os melhores e temos em vários sítios autarcas candidatos a câmaras municipais que já vieram de outros partidos políticos. No caso de Matosinhos, onde o nosso candidato é o António Parada, que já foi candidato e vereador pelo Partido Socialista. Vamos ter outros casos até no interior do país, de pessoas que já foram também presidentes de junta pelo Partido Socialista e agora serão nossos candidatos.

Acontece isso também com alguns que já o foram pelo PSD. O Chega conseguiu ser um movimento abrangente, incorporando pessoas de todos os partidos. E porquê? São pessoas que não só estão chateadas com o sistema, com estes 50 anos de democracia que nós vivemos, mas também que veem aqui uma solução para o futuro do nosso país.

E chegam ao Chega, passe o pleonasmo, com essa intenção. Há muitas pessoas que vão dizer “eles estão à procura de cargos e de tachos”.

Pode acontecer…

Se estão à procura de tachos no Chega, bateram à porta errada, porque aqui, como sabem, não há tachos e tachinhos para ninguém. Aqui há pessoas que estão disponíveis e vestem a camisola do Chega. Vou dar-lhe um exemplo, a Inês Louro, que é vereadora na Câmara de Azambuja e que em 2021 era ainda presidente da Junta pelo Partido Socialista.

E foi nossa candidata em 2021, tem sido uma excelente vereadora na Azambuja e agora volta a ser nossa candidata. Lá está um bom exemplo daquilo que o Chega consegue abranger.

Temos várias conversas com pessoas que iam em grupos independentes e agora vão pelo Chega. Achamos que a política deve ser feita pelos partidos. Apesar de respeitarmos os movimentos independentes, obviamente, mas achamos que existem partidos políticos para as pessoas se inserirem na sua estrutura.

Vão apoiar candidatos a presidente de câmara que se apresentem por movimentos independentes?

Não. Quem quiser ir como independente poderá ir no nosso partido. Como disse, o partido abriu à sociedade civil, é um partido de quem se revê nos seus valores. Poderá ser um independente, não tem obrigatoriamente de ser militante. Temos várias conversas com pessoas que iam em grupos independentes e agora vão pelo Chega.

A política deve ser feita pelos partidos. Apesar de respeitarmos os movimentos independentes, obviamente, mas achamos que existem partidos políticos para as pessoas se inserirem na sua estrutura.

Também em freguesias?

O símbolo do Chega tem que estar representado em todo o país e a nossa estratégia é essa. O símbolo do Chega em todos os boletins de voto, no máximo de freguesias possível, sabendo que é muito difícil as freguesias… infelizmente, em Portugal, ainda existe, particularmente nas terras pequenas, alguns pequenos poderes que ameaçam as pessoas que querem ir numa lista.

Porque o filho, ou a filha, trabalha na câmara… infelizmente, ainda acontece em Portugal e tem acontecido muito com o nosso partido. Em 2021, sentimos mais isso, em 2025 sentimos um pouco menos.

Vão apresentar candidatos nos 308 municípios?

Estamos a lutar para isso. Tem sido um processo difícil, diariamente, e estamos a fechar dezenas de municípios.

Está mais fácil após as legislativas?

Há muito mais abertura de candidatos. O processo era feito praticamente ao contrário, éramos nós que tentávamos que fossem nossos candidatos. Depois das Legislativas, há mais pessoas a quererem aderir às listas.

Dê-nos alguns exemplos.

A zona sul, particularmente, Algarve, Lisboa também. Pode dizer que foram os sítios onde tivemos melhor votação. É verdade. Mas têm aparecido pessoas de norte a Sul do país, e até do interior, com a dificuldade que disse há pouco, de as pessoas serem condicionadas.

Temos que perceber que vivemos num país onde existem muitas terras com dois mil e poucos eleitores, particularmente no interior do país, e o grande empregador é a Câmara Municipal.

Temos, felizmente, gente em todo em todo o país. Agora, há uma coisa que não podemos garantir, é que não haja pessoas que tenham algum problema, como aconteceu com o Miguel Arruda. Há uma coisa que nós fazemos: estamos a pedir o registo criminal a todos os candidatos, a pedir certidão de não dívida a todos os candidatos, o que significa que o partido está protegido contra isso.

O partido tem meia dúzia de anos, uma única candidatura a autárquicas e, conforme referiu, está a abrir-se à sociedade civil. Como asseguram que não surgirá um caso que, nas suas palavras, procure um tacho, ou como o do deputado dos Açores acusado de furtar malas?

O Chega, como disse e muito bem, foi um partido que cresceu brutalmente. Nasceu há seis anos e neste momento estamos à beira dos 76 mil militantes. Isso significa que temos, felizmente, gente em todo em todo o país. Agora, há uma coisa que não podemos garantir, é que não haja pessoas que tenham algum problema, como aconteceu com o Miguel Arruda. Há uma coisa que nós fazemos: estamos a pedir o registo criminal a todos os candidatos, a pedir certidão de não dívida a todos os candidatos, o que significa que o partido está protegido contra isso.

Agora, os partidos são feitos por pessoas, as candidaturas também, e nós não sabemos o que vai na cabeça das pessoas. Tentamos perceber ao máximo, fazemos essa análise, reunimos com os candidatos, tentamos perceber quais são as suas intenções. Houve cabeças de lista que recusámos, porque achámos que não seria a pessoa ideal para ser cabeça de lista. Como nós queremos os melhores, achamos que havia pessoas que não estavam capacitadas para isso.

Assume então que pode haver casos como os que criticam nos outros partidos.

Vamos errar? Vamos errar. É normal. Se conseguirmos fazer 308 candidaturas às câmaras municipais, 308 candidaturas às assembleias municipais, e se conseguirmos 60% das juntas de freguesia do nosso país – estamos a falar de 1.300 ou 1.400 –, nós vamos errar, é normal que se erre. Agora, há uma coisa que os portugueses sabem e já perceberam.

Aqueles que fugirem da linha do partido, que estejam envolvidos num esquema de corrupção no futuro, é tolerância zero. Não têm lugar nem futuro no partido. Retiraremos automaticamente a confiança política. Se tivermos de perder um autarca, perdemos. Já perdemos um deputado aqui na Assembleia, na noutra legislatura, mas não perdemos a nossa cara e a nossa dignidade.

Elegeram apenas 19 deputados municipais em 2021. Ao do Seixal, o partido retirou a confiança política, porque, segundo o presidente da câmara explicou ao ECO/Local Online, o deputado votou ao lado do PCP para dar direitos à comunidade cigana. A disciplina de voto é imposta também nas autarquias?

Não foi por isso. Não é verdade. Esse vereador, a primeira coisa que fez foi ir contra as indicações do partido. Foi apoiar este Executivo, votar a favor deste orçamento do Partido Comunista, por uma coisa muito simples, é porque trabalhava na câmara. Até creio que subiu de escalão por causa disso. Não tem nada a ver com a comunidade cigana, tem a ver com não ter seguido as diretrizes do partido.

Aconteceu com ele, aconteceu com o vereador em Sesimbra, que a primeira coisa que fez foi logo um acordo com o Executivo anterior, e que nós metemos de fora. E na Moita do Ribatejo, porque assim que deram o lugar ao nosso vereador, [ele] foi contra as indicações do partido. A primeira coisa que quis fazer foi ter um lugar como vereador. Durará quatro anos. Creio que já nem vai na lista do Partido Socialista.

As pessoas têm de pensar que se querem política efémera, para durar quatro anos como vereador, tudo bem. Mas acho que a política é outra coisa, acho que quando nós somos eleitos temos de respeitar quem vota em nós e respeitar o partido. Não estamos nada preocupados com o que aconteceu no passado. Procuraremos não errar no futuro.

Até quando tivemos um mau resultado […] nas eleições europeias, que são eleições diferentes, percebemos que tínhamos ali 10% do eleitorado. Conseguimos fixar mais eleitorado, quase ao nível do PS e do PSD. Têm eleitorado fixo e o Chega também já conseguiu fazer isto.

Referiu vários ex-candidatos políticos ou que tenham concorrido pelo PS anteriormente ou que já têm, por exemplo, ex-presidentes de junta de freguesia ou atuais. A que partidos vai o Chega buscar votos? E a que forças vão captar ex-militantes?

Se nós repararmos no que aconteceu nestas eleições, não foi a AD que perdeu votos, foi o Partido Socialista. Automaticamente, se foi o Chega que subiu, estes votos foram buscados ao PS. Mas não só. Houve muito voto que veio da abstenção. Vou dar-lhe um exemplo, que vamos utilizar muito nas eleições autárquicas, porque tocou muito no bolso das pessoas, que é o das portagens. O Chega, desde que foi fundado, em 2019, sempre teve no seu programa eleitoral o fim das portagens nas SCUT. Sempre.

E sempre foi chumbado pelo Partido Socialista. O Partido Socialista passa para a oposição e a primeira coisa que faz é o fim da portagem nas SCUT. O povo já não é burro, e percebeu que era pura demagogia. O Partido Socialista não queria acabar com as portagens. Porque pensou “o Chega agora vai votar contra”. Só que o Chega é um partido coerente, não é por a proposta vir do Partido Socialista, do PCP, do Bloco de Esquerda, do CDS, do PSD, que nós vamos votar contra ou a favor.

Se a proposta é boa para os portugueses, se a proposta é boa para melhorar a vida dos portugueses, nós votaremos a favor. Nas autarquias vamos fazer o mesmo. Se a proposta for boa para os munícipes, venha de que partido vier, nós estaremos ao lado dessa proposta. E nós temos que estar sempre ao lado de quem nos elegeu.

O importante no futuro é conseguirmos que essas pessoas – como temos conseguido até agora – se mantenham no partido. Até quando tivemos um mau resultado, que não estávamos tanto à espera, como foi nas eleições europeias – são eleições diferentes –, percebemos que tínhamos ali 10% do eleitorado. Conseguimos fixar mais eleitorado, quase ao nível do PS e do PSD. Têm eleitorado fixo e o Chega também já conseguiu fazer isto.

Uma parte do vosso eleitorado, segundo se ouve entre analistas políticos, é de cidadãos descontentes com a imigração. No Algarve, o turismo é uma fonte de receita incontornável, e os grandes grupos de hotelaria anseiam por mais imigrantes para fazer o que os portugueses não querem fazer. Qual é a vossa resposta?

A resposta que dou para isso é muito fácil: faz falta a imigração de qualidade. Porque só com uma imigração de qualidade podemos dar um turismo de qualidade às pessoas.

E o que é a imigração de qualidade?

É uma imigração que vem qualificada, que já sabe que vem trabalhar para o turismo, uma imigração que seja controlada. Não é esta imigração. É normal as pessoas virem à procura de uma vida melhor, mas não vêm com qualificações, não vêm com nada. Acredito que os operadores turísticos estarão a dar formação àquelas pessoas, que nem português sabem falar.

Pode dizer que a grande maioria dos turistas não são portugueses. Não é verdade, o turista português ainda vai muito para o Algarve. Não podemos chegar a um restaurante em várias zonas do Algarve e os empregados não saberem falar português. Acho que é o mínimo. Começamos logo mal.

O Chega consegue ter deputados que são contra a tauromaquia, mas outros que gostam e vão às corridas de touros. Conseguiu conciliar as duas coisas. Não é por termos deputados que não gostam que a linha do partido vai mudar.

Por curiosidade, fizemos uma análise dos resultados das Legislativas nos concelhos inscritos na Associação de Municípios como autarquias com tauromaquia. Só nos Açores e Santarém o Chega ficou abaixo da sua votação média nacional. Aqui, recordo o passado do Pedro Pinto como jornalista ligado à tauromaquia. É coincidência?

(Sorriso) Pode ser coincidência. Mas não só. O mundo rural entende que há um partido que defende a si e às suas tradições. E esse partido somos nós. Fomos nós que estivemos na linha da frente, sempre a falar do mundo rural no parlamento. Quando foi preciso baixar o IVA da tauromaquia para os 6%, o Chega lá esteve.

O Chega consegue ter deputados que são contra a tauromaquia, mas outros que gostam e vão às corridas de touros. Conseguiu conciliar as duas coisas. Não é por termos deputados que não gostam que a linha do partido vai mudar.

Não é por estarmos ao lado das tradições e do mundo rural que deixamos de estar ao lado da defesa dos animais. As pessoas às vezes embarcam na conversa que a defesa dos animais é só as touradas.

A defesa dos animais é muito além das touradas, é nós protegermos quer os cães quer os gatos, quer os animais de companhia que por vezes são violentados e mal tratados em casa, que são abandonados. Defesa dos animais é isso também. Eu acho que aquilo que o PAN faz é uma tentativa a nível da tauromaquia de ter visibilidade e dizer “somos nós que defendemos os animais”.

É difícil dizer, em simultâneo, que se defende as touradas e se defende os animais.

Eu sei que sim.

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