Independentes são “a terceira maior força política do país” nas autarquias

Um dos 19 presidentes de câmara eleitos em 2021 num movimento independente, Sérgio Costa, autarca da Guarda, pede estabilidade na solução governativa que venha a sair das legislativas de 18 de maio.

Sem o guarda-chuvas de um partido, o autarca da cidade mais alta do país foi eleito em 2021 com o movimento Sérgio Costa pela Guarda. Em entrevista ao ECO/Local Online, salienta a importância dos partidos na democracia, embora não veja incompatibilidade num Presidente da República sem partido, tal como acontece atualmente em 19 câmaras e começou por surgir nas juntas de freguesia.

Sérgio Costa diz desejar estabilidade na próxima legislatura e, recorrendo ao único primeiro-ministro maioritário do partido em que esteve quase 26 anos, pede que o deixem trabalhar.

No seu percurso político já foi vereador eleito pelo PSD, mas agora preside à câmara num movimento independente. Saiu do partido numa dissensão que teve a ver, pelo que é público, com o desacordo sobre quem deveria ser o candidato apoiado pelo PSD. Na República, sondagens apontam a possível vitória do almirante Gouveia Melo, que vem de fora da política. Como vê a política feita sem partidos?

Devemos recordar que a democracia portuguesa surgiu em 1974, e depois com a Constituição, com base nos partidos políticos, e devemos olhar sempre a nossa história. Mas de 50 anos depois do 25 de Abril, houve esta boa evolução dos movimentos independentes que começaram pelas juntas de freguesia – desde há muitos anos que existem movimentos independentes nas juntas de freguesia – que estão nas autarquias, devo recordar que existem 19 câmaras municipais no país entre as 308 que são governadas por movimentos independentes.

Em termos autárquicos é a terceira maior força política do país. Ainda mais natural é que no caso concreto da Presidência da República, apareçam pessoas que não estejam ligadas a qualquer partido. Isso já aconteceu no passado. As candidaturas à Presidência da República não são apresentadas por partidos políticos. Sabemos bem que há pessoas que acabam por vir de um ou outro espetro político, e há pessoas que surgem sem ser de espetro político algum, são cidadãos. É perfeitamente normal que essas coisas aconteçam. E em democracia devemos respeitar-nos uns aos outros.

As candidaturas à Presidência da República não são apresentadas por partidos políticos. Sabemos bem que há pessoas que acabam por vir de um ou outro espetro político, e há pessoas que surgem sem ser de espetro político algum, são cidadãos. É perfeitamente normal que essas coisas aconteçam.

Sérgio Costa

Presidente da Câmara Municipal da Guarda

Considerando que vamos entrar num período de campanha eleitoral para legislativas, que mensagem enviaria para Lisboa, em nome dos autarcas, para os líderes partidários nacionais?

Coloquem investimento nos territórios de baixa densidade. Coloquem investimentos, promovam o investimento.

Que investimento? Infraestruturas?

Há infraestruturas que são necessárias, mas investimento privado também. Postos de trabalho. E criem condições para que as pessoas possam sair da grande Lisboa e do Grande Porto. Nós temos atraído, ao longo destes anos, dezenas e dezenas de pessoas oriundas da Grande Lisboa, da grande área metropolitana, que estão fartas de viverem em Lisboa, do ponto de vista humano e financeiro também.

Com o mesmo ordenado em Lisboa ou na Guarda, fazemos coisas completamente diferentes. Na Guarda temos verdadeira qualidade de vida. Temos uma oferta cultural, no caso concreto da Guarda, que é das melhores da região centro. Temos os equipamentos desportivos, e com a requalificação e construção de novos equipamentos, que estamos a fazer, estamos no patamar daquilo que melhor se faz no país.

Já para não falar na gastronomia, no ar puro, nos bons vinhos que nós temos na região. E estamos numa cidade dos 15 minutos. Eu resido numa aldeia que dista 15, 16 quilómetros da cidade. Em 15 minutos estou no meu posto. Isto faz toda a diferença.

Espera um Governo estável após 18 de maio?

Esperamos que sim. O país precisa de estabilidade para podermos implementar as reformas necessárias que o país ambiciona e necessita. Precisamos que haja uma governação estável e progresso.

Falemos de governabilidade no seu município. Nas eleições de 2021 houve um empate do seu movimento com o PSD. O PS ficou com um vereador. Em 2024, governou com duodécimos, agora em 2025 tem um orçamento votado por maioria porque o PSD se absteve. Como se trabalham consensos a nível autárquico?

No caso concreto da Guarda, tem sido uma governação difícil. Eu nunca confundo os partidos com as pessoas, as instituições com as pessoas que as representam. Mas quando as pessoas estão mais preocupadas com os seus umbigos político-partidários do que em governar bem e pugnar pelo desenvolvimento da nossa terra, às vezes as coisas não correm bem.

Quando o Orçamento de 2024 foi chumbado, eu tive os representantes do PS e PSD a pedir eleições antecipadas. Confundem as coisas, porque estamos numa câmara, não estamos na Assembleia da República. Mas a Guarda não nos elegeu a todos para andarmos a brincar às eleições. Não, de todo. E por isso governámos e fizemos jurisprudência, e até ensinámos como é que se governa sem orçamento.

Com dificuldades? Sim. Queríamos fazer mais? Queríamos. Conseguimos? Não. Mas não foi só o orçamento que a nossa oposição chumbou. Os empréstimos para investimentos estratégicos para a Guarda, tudo o que eram medidas estratégicas que foram à câmara, foram chumbados até agora pela nossa oposição. O povo continua a ser quem mais ordena, na altura certa saberá decidir essas coisas.

Essa jurisprudência, como lhe chama, pode valer algo na República, para o Orçamento do Estado de 2026, com uma Assembleia da República previsivelmente fragmentada após as eleições de 18 de maio?

O país precisa de estabilidade e aquilo que o cidadão mais comum, onde me incluo, pede, é que haja entendimentos. As regras de governação numa câmara são diferentes das regras de governação num Governo. Sabemos que a nossa Constituição dita que as regras são diferentes. Mas aquilo que nós pedimos é que haja entendimentos, da parte de quem governa e da parte da oposição.

O país já está farto de eleições. Tivemos eleições há um ano para as legislativas, vamos ter agora outra vez para legislativas, a seguir vamos ter para as autárquicas, depois para as Presidenciais. As pessoas começam a ficar um bocado fartas.

O país precisa de estabilidade e aquilo que o cidadão mais comum, onde me incluo, pede, é que haja entendimentos. As regras de governação numa câmara são diferentes das regras de governação num Governo. Sabemos que a nossa Constituição dita que as regras são diferentes. Mas aquilo que nós pedimos é que haja entendimentos, e da parte de quem governa e da parte da oposição.

Sérgio Costa

Presidente da Câmara Municipal da Guarda

Os comentários trocados entre os principais partidos a nível nacional não permitem antever onde estão as pontes para uma solução governativa.

As pessoas querem estabilidade para o país, para poderem ser produzidas as reformas necessárias, e também por uma questão de ordem mundial. Nós estamos a assistir a uma nova ordem mundial, à transformação da ordem mundial, perigosa, depois da Segunda Guerra Mundial. Coisas que julgávamos que já não pudessem acontecer.

Começou com a guerra às portas da Europa, na Ucrânia. Vamos assistindo agora aos novos líderes que estão a surgir no mundo, que estão a colocar em causa as bases da democracia mundial. E a Europa está cada vez mais entregue a si própria e os Estados-membros da União Europeia têm uma responsabilidade muito grande em criar a estabilidade necessária para que a Europa também possa estar cada vez mais una em torno do mesmo objetivo.

Na grave crise após a queda do Lehman Brothers, os municípios ficaram numa situação de grande fragilidade financeira. Agora, estarão preparados para um potencial choque vindo de novo dos EUA?

Esperemos que isso não aconteça, porque se acontecer, teremos que nos reinventar todos. Tal como no tempo da troika, o país teve que se reinventar em muitas coisas.

Espera ser contactado pelo PSD?

Não estou preocupado com isso. A minha preocupação é governar. Até ao último dia do meu mandato, é isso que eu vou fazer. A forma como me vou candidatar, não é tempo ainda para essas coisas. Começa a chegar o tempo, mas não estou preocupado com isso agora.

Li uma entrevista sua de há dois anos, em que dizia que queria ser presidente nos próximos dez, portanto, vou dar como adquirido que se vai recandidatar…

Se Deus quiser. Ainda não chegou o tempo da decisão final.

Não quer dizer se vai estar disponível para um chamamento do PSD?

Não estou nem deixo estar, nem pelo PSD, nem pelo PS, nem por outros partidos. A minha preocupação é a Guarda sempre, como sempre foi. Nos meus cerca de 26 anos de militância no PSD, sempre fui muito irreverente e sempre me preocupei muito em defender as populações. Sempre o fiz, dentro do partido, fora do partido, quando lá estava e, portanto, a minha missão é desenvolver a Guarda.

O futuro a Deus pertence e, portanto, começa a chegar o tempo dessas definições e a seu tempo falarei sobre isso. Por agora não estou preocupado com isso.

Fechamos com uma frase popularizada por um dos mais destacados social-democratas, Aníbal Cavaco Silva, “o futuro a Deus pertence”…

Há outra expressão que eu costumo usar, também do professor Cavaco Silva, que é “deixem-me trabalhar”. Aconteceu isso no Orçamento, quando chumbaram, aconteceu nos empréstimos, e tantas outras vezes, aconteceu, não quererem deixar trabalhar.

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