Novos barcos não se adequam às águas agitadas do Tejo, reclama o autarca do Seixal. Ainda nas infraestruturas, já não virá o dinheiro do PRR para equipar o hospital, porque este não saiu do papel.
Os barcos elétricos utilizados pela Transtejo desde novembro de 2023 “não são os mais apropriados” para as águas agitadas do Tejo, assegura o presidente da câmara do Seixal. “Quando as águas estão mais agitadas, ou nem sequer fazem o serviço, ou se o fazem, tem de ser numa velocidade muito reduzida por questões de segurança”, diz Paulo Silva em entrevista ao ECO/Local Online.
Para incentivar o uso de transportes públicos, a autarquia está a pagar renda para cerca de 3000 lugares junto dos barcos e da linha ferroviária que liga à capital por via da Ponte 25 de Abril, mas os planos para aumento da capacidade através da disponibilização de parques com pouca utilização estão a esbarrar no aumento de preços por parte da Fertagus, explicita o autarca, que, ainda no capítulo das infraestruturas, continua a insistir na construção do Hospital do Seixal.

A Transtejo tem barcos recentes para ligar Lisboa e o Seixal, mas a empresa não consegue cumprir o serviço, conforme a câmara tem criticado. Desde logo, faltam os carregadores.
Antes disso, compraram-se os barcos, mas não se compraram as baterias (riso). Avançou-se com a compra dos barcos sem as baterias. Depois, compraram as baterias, mas não havia pontos de carregamento. O carregamento continua a ter muitos problemas, às tantas têm de estar a fazer carregamentos com recurso a geradores a gasóleo. Vamos para uma mobilidade verde e depois a mobilidade verde são carregamentos com geradores a gasóleo. Mas o que se tem estado a ver é que com todos estes problemas aqueles barcos não são os mais apropriados. Quando as águas estão mais agitadas, ou nem sequer fazem o serviço, ou se o fazem, tem que ser numa velocidade muito reduzida por questões de segurança. O que nos chegou é que são barcos mais apropriados para o transporte em águas calmas, não em águas por vezes batidas. Não é sempre, felizmente, mas às vezes o Tejo não tem águas assim tão calmas.
De onde lhe chegou essa informação?
Chegou-nos quer através de contactos com os trabalhadores da empresa, quer através de algumas cartas que recebi de engenheiros navais a denunciar isso. Mas temos de dizer que a atual administração da Transtejo é mais vítima que outra coisa, porque foi a anterior que fez este negócio desastroso da compra das embarcações elétricas. É sempre tudo muito bonito, da mobilidade verde, mas era um processo que não estava devidamente estudado e que sem dúvida está a ter repercussões graves para o país.
O [transporte] fluvial está subutilizado. As carreiras não vão na lotação máxima, por dia vão cerca de 50%. Isto acontece porque as pessoas não têm confiança no serviço, estão cansadas de chegarem tarde ao trabalho porque a carreira foi suprimida ou está atrasada.
O que pode uma autarquia fazer nesta situação face a uma empresa do Estado central e outra privada?
Primeiro, fazendo pressão junto do Governo e da Transtejo para que o serviço funcione. A população do concelho do Seixal para ir para Lisboa tem dois meios de transporte primordiais: o ferroviário e o fluvial. O ferroviário está superlotado, porque são muitas as pessoas a recorrerem. O fluvial está subutilizado. As carreiras não vão na lotação máxima, por dia vão cerca de 50%. Isto acontece porque as pessoas não têm confiança no serviço, estão cansadas de chegarem para ir para o trabalho e verem a carreira suprimida ou atrasada, e chegarem tarde ao trabalho. Ou, ao final do dia, a não conseguirem chegar a horas de ir buscar o filho à escola ou à creche. Isto faz com que as pessoas não confiem no transporte fluvial. Seria importante haver essa confiança para tirar pessoas do transporte ferroviário e assim, desanuviar o problema existente, em que as pessoas são transportadas quase como sardinhas em lata, que é um termo que utilizei quando fui à Fertagus. E depois temos aqui um transporte com todo o conforto, mas que as pessoas não acreditam no mesmo porque são constantes as supressões de carreiras e os atrasos nas carreiras.
Perante esse potencial do transporte fluvial, a câmara deu algum passo para contribuir para a solução?
Ficámos com o parque de estacionamento e tornámo-lo gratuito para a população. É menos um custo para quem preferir o transporte fluvial. Mas era fundamental que a nível da Transtejo se conseguisse dar resposta para as pessoas voltarem a confiar no transporte fluvial.
De quanto foi o investimento?
Anualmente, cerca de 50 mil euros. Temos dois parques de estacionamento, o da Transtejo que já está gratuito, em que estamos a pagar esses 50 mil euros à administração do Porto de Lisboa, e depois o parque de estacionamento da Fertagus na estação de Foros de Amora – também ficámos com esse parque de estacionamento e está gratuito para a população, e pagamos também cerca de 60 mil euros anuais.
Queríamos ficar com mais parques de estacionamento, até porque há mais parques de estacionamento que estão subaproveitados, quer na estação de Corroios, quer na estação do Fogueteiro. Só que a Fertagus já veio com preços muito elevados, quase 30 mil euros por mês por esses dois parques, um em cada uma das estações, e já começa a ficar muito pesado para a câmara municipal. Enquanto no da Cruz de Pau, estão a cobrar à volta de cinco mil euros por mês, que dá os 60 mil euros por ano, aqui já estavam quase 15 mil euros por cada parque, o triplo.
Queríamos ficar com mais parques de estacionamento, até porque há mais parques de estacionamento que estão subaproveitados, quer na estação de Corroios, quer na estação do Fogueteiro. Só que a Fertagus já veio com preços muito elevados, quase 30 mil euros por mês por esses dois parques, um em cada uma das estações, e já começa a ficar muito pesado para a câmara municipal.
Ainda nas infraestruturas, o Seixal, que sempre foi uma câmara comunista, reclama há anos o hospital, mas os vossos munícipes continuam a ter de recorrer ao Garcia de Orta, em Almada.
É urgente a construção do hospital no concelho do Seixal. O Hospital Garcia de Orta foi projetado para servir um universo de 200 mil pessoas. Atualmente, os concelhos de Almada e Seixal têm 350 mil habitantes. É urgente a construção de uma nova unidade hospitalar para, em coordenação com o Hospital Garcia de Orta, e no âmbito da Unidade Local de Saúde, aumentar a resposta dos cuidados de saúde hospitalares à população. Como também é necessário que os centros de saúde funcionem melhor e cheguem, com a construção de novos centros de saúde a zonas onde houve o crescimento populacional e que de momento a questão do centro de saúde começa a ficar longe. Por isso estamos a construir, no âmbito de candidaturas PRR, mas que mais uma vez não são financiadas a 100%, duas novas unidades de saúde nos Foros de Amora e Paio Pires vai também ter que despender cerca de um milhão e meio de euros para as duas.
Mas depois tem de se pôr as unidades de saúde em funcionamento. E tem de haver a valorização das carreiras médicas, que é necessário para não deixarmos que continuem a fugir médicos para o privado. E depois tem de se aumentar a capacidade formativa das nossas universidades.
No vosso caso, câmara liderada pela CDU, se pudessem ter um hospital no imediato em PPP, o que responderiam?
Defendemos o setor público.
Mas, façamos o exercício, em PPP poderia avançar já.
Defendemos o setor público… É claro que a questão da PPP para o Hospital Garcia de Orta – meteram-me essa cenoura – iria dizer que no âmbito do caderno de encargos teria a construção do Hospital do Seixal. Nós achamos que tem de ser mais rápido, e tudo estava preparado para poder avançar com financiamento público. E há dinheiro no Orçamento do Estado para o arranque do hospital com financiamento público. Está lá. O pior é que também está no âmbito do PRR da Saúde o equipamento para o Hospital do Seixal, e como não avança a construção do Hospital do Seixal, vamos perder o financiamento do equipamento, que temos de executar até junho de 2026. Vai-se perder esse financiamento, quando se podia equipar o Hospital do Seixal com fundos do PRR e teríamos um hospital de excelência.
Há dinheiro no Orçamento do Estado para o arranque do hospital com financiamento público. Está lá. O pior é que também está no âmbito do PRR da Saúde o equipamento para o Hospital do Seixal, e como não avança a construção do Hospital do Seixal, vamos perder o financiamento do equipamento, que temos de executar até junho de 2026. Vai-se perder esse financiamento.
O PRR também tem dinheiro para creches. Como estão a usá-lo?
As creches estão a avançar, mas o financiamento PRR é uma falácia. Foi publicidade. Para o conjunto de creches, será à volta dos 15% de financiamento do PRR. A primeira das creches, do Pinhal do General, que já está em obras, tem um valor de cerca de 2,4 milhões de euros, e do PRR são 390 mil euros. Estamos a contar que haja algum reforço do PRR. Estas candidaturas a equipamentos sociais são feitas pelas Instituições Particulares de Solidariedade Social, o concurso do PRR abriu com números de financiamento muito baixos, 4.000 euros por vaga. O concelho do Seixal é o único que está a incentivar as instituições a participarem e depois damos apoio do valor não comparticipado pelo PRR. Mas outros concelhos não estão a fazer isto, o que quer dizer que muitos projetos aprovados não vão avançar. Esse valor, o que temos conhecimento, é que vai ser distribuído por aqueles que vão avançar, para suprir valores em falta, que neste caso das creches são valores muito avultados.
Então, sempre há PPP no Seixal, mas nas creches?
É um projeto de coordenação e de trabalho em conjunto entre a câmara municipal e Instituições Particulares de Solidariedade Social. Mas isto serve para as creches, para lares da terceira idade, para equipamentos para a deficiência. São equipamentos essenciais para o desenvolvimento do concelho e que nós estamos a aprovar. Em termos de equipamentos sociais, temos 14 projetos aprovados no concelho do Seixal, que, é claro, é necessário aí sim um grande esforço financeiro da autarquia. Mas estamos a responder.
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Transtejo fez “negócio desastroso” na aquisição de barcos elétricos para o Seixal
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