Em Portugal, a suíça Beyond Gravity tem mais de 150 trabalhadores, cerca de 50 engenheiros espaciais. São "o maior empregador do setor espacial" local, diz o managing director, Mário Guedes Vidal.
Depois de ‘aterrar’ o seu Innovation & Digital Hub em Lisboa, a empresa espacial suíça Beyond Gravity tem planos para reforçar as valências do hub e já olha para a possibilidade de estreitar laços com “fornecedores e empresas de engenharia locais”.
“Embora não tenhamos planos de abrir uma unidade de produção em Portugal, com a nossa equipa central de compras sediada em Lisboa, iremos explorar oportunidades de parceria com fornecedores e empresas de engenharia locais”, adianta Mário Guedes Vidal, managing director da Beyond Gravity Portugal, ao ECO/eRadar. “Procuramos parcerias com empresas que supram lacunas de produtos e materiais industriais que aprimorem a competitividade da Beyond Gravity”, diz, sem mais detalhes.
Em Portugal, o Innovation & Digital Hub já tem mais de 150 trabalhadores, dos quais cerca de 50 engenheiros espaciais. “O que nos torna o maior empregador do setor espacial no mercado local“, afirma o gestor.
O hub de Lisboa foi lançado com o objetivo de ter 200 pessoas até 2025 e a ambição de “ser o maior centro de tecnologia espacial” em Portugal. Alcançaram esse objetivo?
De apenas cinco pessoas em setembro de 2023, a Beyond Gravity Portugal cresceu para mais de 150 “pioneiros” sediados em Lisboa. Continuamos a procurar um maior crescimento, construindo centros globais de excelência que servem os nossos clientes em todo o mundo. Especificamente na área de engenharia, a Beyond Gravity Portugal emprega atualmente cerca de 50 engenheiros espaciais, o que nos torna o maior empregador do setor espacial no mercado local. As competências em analysis, engenharia térmica e design engineering são desenvolvidas a partir de Lisboa, apoiando importantes missões espaciais como SAS, VEGA E, Kuiper KDS, Atlas e muitas outras.
Estou impressionado com a rapidez com que nossos engenheiros espaciais de Lisboa estão a entregar um trabalho de altíssima qualidade para nossas missões nos EUA e na Europa. O que nos diferencia no mercado português é que servimos tanto clientes institucionais quanto uma parcela significativa dos nossos clientes comerciais — onde vemos o maior potencial de crescimento e onde outros players portugueses são muito menos ativos.
Estou impressionado com a rapidez com que nossos engenheiros espaciais de Lisboa estão a entregar um trabalho de altíssima qualidade para nossas missões nos EUA e na Europa.
O hub serve várias localizações. Qual é exatamente a sua contribuição para o desempenho da companhia?
Respondo a esta pergunta sob a perspectiva do mercado espacial, a crescer a taxas de dois dígitos e a tornar-se cada vez mais competitivo. Estimamos que o número de satélites triplique em menos de dez anos, enquanto o preço médio por satélite diminuirá quase pela metade.
O hub de Lisboa foi criado para aproveitar tanto esta oportunidade como responder a estes desafios. Na Beyond Gravity Portugal, centralizámos e transformámos funções globais essenciais, como a Tecnologia, a Engenharia, as Finanças e o Recrutamento. Embora ainda estejamos numa fase inicial, já somos mais rápidos, mais inovadores e mais competitivos. Isto é demonstrado pela rapidez com que crescemos — e planeamos continuar a crescer.

Em termos de áreas de serviços, quais os passos planeados para o próximo ano?
Olhamos para Lisboa como uma plataforma para a mudança. Vamos continuar a expandir o nosso âmbito de atuação em Recrutamento, TI, Engenharia e várias outras áreas, criando equipas globais centrais que impulsionem a transformação na Beyond Gravity. Em 2026, planeamos expandir a nossa função de compras [procurement] e estabelecer o núcleo para novos projetos de inovação em engenharia.
Isso irá mudar o perfil de talento que procuram para o hub?
Contratamos pessoas com um mindset para a mudança, inovação e iniciativa própria, de diferentes origens e trazendo consigo experiência de outros setores. Assim como o setor espacial está a passar por uma grande transformação e processo de industrialização, indústrias como a automóvel e a de aviação também estar a passar por mudanças semelhantes. Temos uma equipa diversificada, com mais de nove nacionalidades, e promovemos uma cultura de diversidade e inclusão.
Vamos continuar a expandir o nosso âmbito de atuação em Recrutamento, TI, Engenharia e várias outras áreas, criando equipas globais centrais que impulsionem a transformação na Beyond Gravity. Em 2026, planeamos expandir a nossa função de compras [procurement] e estabelecer o núcleo para novos projetos de inovação em engenharia.
Há planos uma segunda localização, em Lisboa ou em outra zona do país?
Atualmente, temos um escritório moderno no centro de Lisboa (Entrecampos), ainda com capacidade para receber mais ‘pioneiros’. Por enquanto, não há planos para abrir um segundo escritório.
Que tipo de sinergias têm ou planeiam ter com universidades ou empresas portuguesas?
Desde o início, temos estado envolvidos com o meio académico, como principais patrocinadores em feiras de carreiras e eventos estudantis, como a “Formula Student” e a “Semana Aeroespacial” no Técnico.
Como recém-chegados, também desenvolvemos laços estreitos com a PT Space para projetos da ESA e com outros intervenientes locais para melhor compreender as competências do mercado português. Atualmente, temos uma parceria com uma startup da Faculdade de Ciências e Tecnologia para nos apoiar no desenvolvimento de análises térmicas.
O nosso plano é aprofundar esses relacionamentos e contribuir ainda mais para o mercado português — não apenas dando visibilidade aos nossos clientes, mas também interagindo com empresas locais que possam preencher lacunas no nosso portefólio. Também estamos a começar a apoiar estudantes de mestrado como futuros ‘pioneiros’.
Desenvolvemos laços estreitos com a PT Space para projetos da ESA e com outros intervenientes locais para melhor compreender as competências do mercado português. Atualmente, temos uma parceria com uma startup da Faculdade de Ciências e Tecnologia para nos apoiar no desenvolvimento de análises térmicas. O nosso plano é aprofundar esses relacionamentos e contribuir ainda mais para o mercado português.
O setor espacial europeu está a crescer a ritmo acelerado. Que impacto está a ter na empresa e, especificamente, no polo de Lisboa?
A Beyond Gravity existe há mais de 50 anos — embora sob nomes diferentes, incluindo o antigo RUAG Space — e, desde o início, temos sido um parceiro fundamental em importantes missões da Agência Espacial Europeia (ESA), garantindo que também acompanhemos o crescimento do setor. Contribuímos significativamente para o sucesso das missões espaciais europeias, sejam elas viagens a planetas distantes ou para a observação do meio ambiente, do clima ou do tempo na Terra. Exemplos de missões europeias para as quais contribuímos incluem EarthCARE, Hera, MetOp e ESA Biomass. Somos, e continuaremos a ser, um parceiro industrial comprometido com a Agência Espacial Europeia e outros clientes institucionais, bem como com clientes comerciais em todo o mundo.
Portugal faz parte desta história, trazendo novos talentos que podem se adaptar rapidamente às oportunidades e aos desafios que o setor espacial enfrenta.

Há planos para incluir empresas portuguesas na cadeia de abastecimento da Beyond Gravity? Para que tipo de empresas ou setores estão a olhar?
Embora não tenhamos planos de abrir uma unidade de produção em Portugal, com a nossa equipa central de compras sediada em Lisboa, iremos explorar oportunidades de parceria com fornecedores e empresas de engenharia locais. Procuramos parcerias com empresas que supram lacunas de produtos e materiais industriais que aprimorem a competitividade da Beyond Gravity.
Consideramos o mercado português muito dinâmico, com mais de 80 empresas dedicadas ao setor espacial e com o excelente trabalho da Agência Espacial Portuguesa na promoção da criação do [Atlantic] Spaceport Consortium e de um centro de lançamento em Santa Maria. São tempos verdadeiramente entusiasmantes para Portugal.
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