Campanha da castanha em queda. Vem aí ano difícil

Campanha da apanha da castanha ainda está a decorrer em Valpaços e Bragança, e os produtores já calculam quebras de produção entre os 70% e os 90%. Receiam aumento de preços.

Depois da “excessiva” subida do preço dos adubos e das matérias orgânicas, os produtores de Bragança e de Valpaços veem-se agora a braços com uma quebra entre 70 a 90% da produção da castanha e consequentes prejuízos com a baixa de lucros. Muitos destes agricultores receiam, por isso, que o preço da castanha dispare com o escoamento no mercado e chegue aos consumidores a um preço mais elevado.

Numa época em que a castanha acaba por ser um suplemento ao rendimento de muitas famílias de Valpaços e de Bragança, e o país vive assolado com as consequências económicas da inflação, os produtores receiam viver ainda mais dificuldades financeiras.

Jorge Espírito Santo, técnico responsável da Associação de Agricultores para Valorizar o Futuro (Agrifuturo), avisa que se avizinham tempos complicados. “Prevê-se um ano difícil para os produtores de castanhas com avultados prejuízos, com quebra na ordem dos 70% na produção devido à seca e à falta de água”, alerta o técnico responsável da Agrifuturo, uma associação criada para valorizar o setor da castanha em Valpaços e apoiar os produtores em diversas matérias.

“Ainda não fechamos a campanha deste ano, mas calcula-se uma quebra de 70% na produção, em Valpaços, em relação à colheita habitual de 10 mil a 12 mil toneladas deste fruto nos anos anteriores”, estima Jorge Espírito Santo.

Prevê-se um ano difícil para os produtores de castanhas com avultados prejuízos, com quebra na ordem dos 70% na produção devido à seca e à falta de água.

Jorge Espírito Santo

Técnico responsável da Associação Agrifuturo

Este é, por isso, um ano atípico com falta de castanhas, ainda que com alguma qualidade, segundo os produtores com os quais o ECO/Local Online falou. E é unânime o receio de que o preço deste fruto possa disparar no mercado, alerta Jorge Espírito Santo.

São muitos os produtores que se queixam à associação Agrifuturo dos prejuízos, porque além da quebra de produção, também acabam por “vender entre os 2,5 e os três euros o quilograma deste fruto aos operadores que depois distribuem o fruto no mercado”. Como acontece com o produtor Gualberto Alves, de Valpaços: “Estou a vender a três euros o quilograma ao operador que depois coloca as castanhas à venda no mercado”, desconhecendo o valor com que depois o fruto é colocado à venda ao consumidor final.

Gualberto Alves ainda não terminou a campanha deste ano da apanha da castanha que é manual, nos terrenos na freguesia de Carrazedo de Montenegro e Curro, em Valpaços. “Temos de esperar que o ouriço abra e a castanha caia”, vai contando enquanto explica que calcula uma quebra na ordem dos 70% a 80% na produção deste fruto refletida num prejuízo de milhares de euros. “Este ano devemos apanhar cerca de mil quilogramas, quando em 2021 colhemos três toneladas de castanhas”, lamenta o produtor que fez “um investimento bem superior às receitas” que vai obter este ano.

Os agricultores também se queixam dos preços das matérias-primas que dispararam e nalguns casos para o triplo, como o adubo. “Com a guerra na Ucrânia subiram o triplo os preços do adubo e das matérias orgânicas. Gastei mais no investimento na produção do que o valor que vou receber com a venda das castanhas”, afirma Gualberto Alves, explicando que, para isso, em muito contribuíram as alterações climáticas e o violento incêndio que consumiu quase metade dos 696 castanheiros que tem plantados. Entre as causas para a quebra da produção o agricultor aponta ainda “o verão muito quente, a pouca água, assim como as pragas e algumas de difícil controlo”. Estas queixas são unânimes entre os diversos agricultores.

“Os produtores fazem tratamento durante todo o ano e os preços das matérias subiram bastante”, alerta o representante da associação Agrifuturo que também presta assistência técnica aos produtores no terreno, por exemplo ao nível de análises do solo, certificados e candidaturas a subsídios.

Ainda assim, Gualberto Alves diz que, “apesar de não haver quantidade de castanha no mercado, há qualidade”. E conta que tem mais variedade Judia – a que tem maior procura da parte dos consumidores – do que Longal. “Esta última caracteriza-se por ser mais pequena, cor mais escura, e é mais barata. Costuma ser mais para consumo próprio”, descreve. Já a judia tem mais brilho e é de maior calibre.

A apanha da castanha é ainda feita, na maior parte dos casos, à mão e requer muitos trabalhadores. E a falta de mão-de-obra é outro dos problemas apontados pelos agricultores.

As queixas são transversais a outros produtores com os quais o Eco/Local Online falou, como é o caso do professor Nuno Veiga, de Bragança, que acrescenta o problema da praga das vespas que prejudicou o crescimento da castanha nos 70 hectares de terreno que tem, na região, lamentando ainda “o calor excessivo prolongado” que se registou e que se refletiu na quebra de 90% na variedade da castanha Longal. “Já na variedade Boaventura a quebra foi de 60%”, acrescenta o produtor que, no ano anterior, colheu 20 mil quilogramas deste fruto.

Este produtor também se queixa do valor das matérias-primas. “Comprei adubo cujo preço duplicou com cada saco a 18 euros. Imagine o quanto gastei. Ainda não sei quanto vou receber pela venda das castanhas, porque ainda não terminei a campanha, mas já sei que não vou ter lucro. Peço, pelo menos, que dê para cobrir o prejuízo”, adianta Nuno Veiga.

Se não tivesse outra profissão, não sei como iria recuperar dos investimentos que fiz nos adubos e noutras matérias-primas e nos consequentes prejuízos”, afirma o professor de Bragança. O mesmo não podem dizer os produtores que dependem da agricultura para subsistir.

Também o produtor Telmo Afonso, de Bragança, receia que esta situação económica possa afetar muitas famílias cuja subsistência tem por base a venda da castanha nesta época do ano. Não é o seu caso, que é enfermeiro e vê a produção deste fruto como um complemento financeiro. Mas acredita que este problema da quebra vai afetar todo o comércio da região.

Telmo Afonso não anda muito longe das queixas dos outros agricultores transmontanos. Também calcula uma quebra de 70% na produção da castanha nos seus sete hectares de terreno, em Espinhosela, Bragança, e queixa-se do “bicho na castanha”, e das pragas das vespa das gralhas do castanheiro, além da falta de água e das más condições climatéricas. Este ano calcula colher bem menos dos que os 15 mil quilogramas do ano passado nas diferentes variedades. “A maior quebra que tenho é na variedade Longal”, conclui o também enfermeiro de Bragança.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Campanha da castanha em queda. Vem aí ano difícil

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião