Num investimento de cinco milhões de euros, a sede e escritórios da centenária Livraria Lello, na Baixa do Porto, vai funcionar a partir de abril de 2026 e com um espaço cultural aberto ao público.
Entramos num edifício de valor histórico e arquitetónico de seis pisos, portas 66-80, na Rua da Galeria de Paris, na Baixa do Porto. Subimos uns quantos lanços de uma escadaria, com vestígios de poeira das obras, que nos conduzem até ao segundo andar onde, corria o ano de 1910, funcionava o Salão Bechstein, palco de concertos memoráveis à época. A partir de abril de 2026, num investimento de cinco milhões de euros, o imóvel vai dar lugar à sede e escritórios da centenária Livraria Lello e, no piso térreo, a um espaço mais cultural aberto ao público e à cidade.
Os vestígios de obra, com andaimes e tapumes, são visíveis enquanto percorremos os vários pisos deste edificado que Pedro Pinto, administrador da Livraria Lello — ali a escassos metros de distância — comprou por 2,6 milhões de euros e onde vai gastar outro tanto na reabilitação, segundo cálculos do próprio durante a visita a este imóvel, um dos 70 inscritos no programa da iniciativa Open House Porto, que acontece até este domingo. E que abre as portas ao público de edifícios de valor arquitetónico, alguns deles privados, situados no Porto, Matosinhos, Maia e Vila Nova de Gaia, sob a curadoria da Casa de Arquitetura.

Neste imóvel em particular, com alvenaria de pedra, rodapés e soalho antigo, ficamos a conhecer um pouco da história narrada por Nuno Valentim, arquiteto que assina o projeto, e autor da obra de reabilitação do Mercado do Bolhão. “A pesquisa histórica confirmou que este é um projeto especial. Em 1910, o pianista Raimundo de Macedo, um dos grandes impulsionadores do Conservatório de Música do Porto, instala no edifício o Centro Musical Raimundo de Macedo e o Salão Bechstein”, conta o arquiteto.
Apoiado por uns quantos elementos, como uma cartografia de finais do século XIX ou bilhetes de espetáculos no Salão Bechstein, dispostos numa mesa no segundo andar, Nuno Valentim acrescenta mais capítulos à história deste imóvel localizado na Rua da Galeria de Paris. Esta artéria portuense acolheu, em tempos, o Convento das Carmelitas até ser expropriado em 1834.
Há ainda por ali fragmentos de estuques decorativos originais, que foram encontrados no decurso da empreitada, que serão restaurados e reintegrados neste edifício, como vai detalhando o arquiteto, enquanto desvenda como ficará o edifício depois de concluída a reabilitação. “A obra ficará concluída por altura da Páscoa de 2026“, asseguraria depois ao ECO o administrador da Livraria Lello, também dono do Lionesa Business Hub (LBH), em Matosinhos.
Os escritórios funcionarão nos pisos dois e superiores. No último andar, o imóvel vai “ganhar três grandes trapeiras para a rua e um belvedere”, uma espécie de torre de observação com vista para a Sé e a torre da Câmara do Porto, lê-se no guião de visita que foi distribuído aos presentes, entre eles Filipe Araújo, candidato à liderança da Câmara do Porto, onde é atualmente o número dois do presidente Rui Moreira. Mas já lá vamos.
A obra ficará concluída por altura da Páscoa de 2026.
Já o piso térreo será transformado num espaço cultural aberto ao público, com a realização de eventos, numa espécie de extensão da rua. “A própria escadaria/plateia pode ser palco, cenografia e bancada”, descreve o arquiteto enquanto mostra as maquetas do projeto. Já a cave será um espaço de apoio aos colaboradores da empresa, com cozinha. A intervenção nestes dois pisos, onde atualmente funciona uma discoteca, ficará para uma segunda fase da empreitada. “Vamos respeitar os direitos do arrendatário”, garante o empresário Pedro Pinto que comprou o edifício já com este espaço de diversão noturna em funcionamento.
Numa altura em que se debate na praça pública a especulação imobiliária, Filipe Araújo, candidato independente às autárquicas de 12 de outubro, elogia a postura da administração da Lello ao apostar na reabilitação deste imóvel. “Acho que é muito importante percebermos que há pessoas que estão muito interessadas na recuperação do património, em dar à cidade esta perspetiva cultural que é importantíssima”, destaca Filipe Araújo em declarações ao ECO, esclarecendo que participou na iniciativa a convite da organização da Open House.
Outros candidatos à Câmara terão sido convidados a visitar esta obra, que faz parte de um projeto mais abrangente da Livraria Lello para trilhar “uma cidade dos 15 minutos”, onde é possível aliar trabalho, cultura e bem-estar.

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O passado e o futuro da nova sede da Livraria Lello, na Baixa do Porto
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