“O TGV é tão importante como o futuro aeroporto de Lisboa”, defende Francisco Assis

Presidente do Conselho Económico Social defende que Portugal "tem de ser claro" nas negociações para futuras ligações ferroviárias com Espanha e defender os interesses de forma inflexível.

Francisco Assis defende que a questão da alta velocidade é tão importante como o debate sobre o futuro aeroporto de Lisboa. O presidente do Conselho Económico e Social (CES) entende que Portugal tem de tomar decisões claras na ferrovia para depois poder negociar com Espanha.

A questão do TGV é tão importante como o futuro aeroporto de Lisboa para o país”, entende o líder do CES em declarações ao ECO à margem de um debate sobre a futura linha ferroviária de Trás-os-Montes. Além de um entendimento “pluripartidário”, Francisco Assis considera que “qualquer decisão política deve ser precedida de um rigoroso estudo técnico e de uma informação técnica bastante séria”.

O ex-autarca de Amarante, concelho atravessado pela proposta de linha ferroviária, recusa-se a tomar partido sobre a construção desta infraestrutura. A decisão “cabe ao Governo”. Assinala, no entanto, que “os espanhóis são inflexíveis”, pelo que “Portugal tem de ser muito claro e saber o que quer. Sabendo muito bem o que quer tem de ser muito claro com Espanha. A articulação com Espanha não pode ser feito apenas em função das prioridades espanholas mas em função de entendimentos que têm de ser alcançados”.

A nova linha de Trás-os-Montes permite colocar o Porto a menos de três horas de comboio de Madrid, Bragança a pouco mais de duas horas de Lisboa, e Braga e Aveiro a pouco mais de oito horas de Paris. Entre Porto e Zamora são 256 quilómetros de novo traçado ferroviário. Além dos passageiros, a solução também pretende facilitar o tráfego de mercadorias sobre carris de todo o norte de Portugal para Espanha e mesmo para lá dos Pirenéus. O investimento necessário varia entre 3,5 e 4,4 mil milhões de euros, segundo o estudo da Associação Vale d’Ouro. Também há apoio dos municípios que pertencem à comunidade intermunicipal Terras de Trás-os-Montes.

Com velocidades máximas de 160 a 250 km/h, a nova linha poderá receber comboios regionais e de longo curso, incluindo ligações de alta velocidade. Também está prevista a conexão à alta velocidade espanhola – a partir de Zamora –, às linhas do Minho e do Douro e às futuras ligações Porto-Vigo e Porto-Lisboa. As principais estações serão Paços de Ferreira, Amarante, Vila Real, Alijó-Murça, Mirandela-Valpaços, Macedo de Cavaleiros, Bragança e Terra de Miranda, na fronteira. A proposta responde ao desafio do Plano Ferroviário Nacional de repor o comboio em todos os distritos.

A nível local (e não só), promete-se uma revolução nos tempos de viagem:

  • Porto-Amarante – 33 minutos (contra 46 minutos de carro);
  • Porto-Vila Real – 44 minutos (contra 1h06 do carro);
  • Porto-Bragança – 1h15 (contra 2h06 do carro);
  • Porto-Madrid – 2h45 (contra 3 horas do avião, considerando embarque e desembarque no aeroporto)

O traçado com passagem por Vila Real e Bragança foi escolhido em detrimento das ligações por Chaves e por Viseu-Salamanca porque é a única opção em que os comboios poderão ultrapassar os 160 km/h – derrotando a concorrência do carro e do autocarro – e a inclinação máxima é de 15 por mil – afastando a competitividade do camião. Também foi afastada a hipótese de aproveitar as linhas Porto-Guimarães, Porto-Caíde e a futura linha do Vale do Sousa (Valongo-Felgueiras): a velocidade máxima não ultrapassa os 120 km/h, tornando-as impróprias para serviços de longo curso.

A opção por Vila Real e Bragança ganhou ainda porque é onde se verificam os principais fluxos de entrada de trabalhadores e de estudantes que trabalham ou estudam no concelho de residência. Para Madrid, a ligação de Aveiro por Trás-os-Montes é mais rápida do que via Viseu e Salamanca.

Solução para mercadorias

Para as mercadorias, o traçado garante uma velocidade constante de 120 km/h, pendentes máximas de 1,5% (ou 15 por mil) e ligação imediata ao Porto de Leixões, o que diminui os custos de operação. A linha de Trás-os-Montes quer ser uma alternativa à ligação Aveiro-Viseu-Vilar Formoso-Salamanca, que já foi chumbada duas vezes pela Comissão Europeia por avaliação custo-benefício negativa.

No caso das cargas, a associação quer que a linha de Trás-os-Montes seja o novo corredor internacional do Norte do país, pois o “centro de gravidade das exportações do noroeste de Portugal encontra-se na zona do Porto de Leixões e do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, onde já estão localizadas as principais empresas de transportes e logística”. Sem o novo percurso, as cargas do Porto de Leixões, por exemplo, continuarão a ter de atravessar a Linha do Norte – a mais congestionada do país – até à estação da Pampilhosa, para escoarem as cargas até à fronteira com Espanha.

A linha também está preparada para ser construída em bitola ibérica e europeia, assim como receber comboios com eixos variáveis. Se a opção for pela bitola ibérica, serão necessários comboios com eixos telescópicos para seguirem para Madrid e Paris depois de passarem no intercambiador de Zamora. Se for escolhida a bitola europeia, serão necessários intercambiadores junto ao aeroporto Francisco Sá Carneiro e nos acessos à Linha do Minho.

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