“Problemas financeiros” ditam fecho de portas da livraria Ferin ao fim de 183 anos

É oficial. A lisboeta Ferin, a segunda livraria mais antiga do país, fechou mesmo portas. A administração da empresa justifica o encerramento com "problemas financeiros e contabilísticos".

“É com uma lágrima a espreitar” que administração da Ferin, a segunda livraria mais antiga do país, anuncia o encerramento da livraria histórica na Rua Nova do Almada, em Lisboa. Os “problemas financeiros e contabilísticos” ditaram o fim da livraria fundada em 1840.

“Nem as instituições públicas, nem os investidores privados, nem os parceiros livreiros nem os acionistas e amigos da Ler Devagar conseguiram fazer face ao problema financeiro e contabilístico da Ferin. As vendas caíram drasticamente e a livraria Ferin entrou num ciclo do qual já dificilmente recuperaria. Seguindo o exemplo de tantas outras lojas da Baixa que foram obrigadas a fechar portas”, lê-se no comunicado enviado esta quinta-feira às redações.

Em 2017, José Pinho, proprietário da livraria Ler Devagar, foi contactado pelos herdeiros para tentar salvar a centenária livraria da capital, que já então corria o risco de fechar. Comprou a livraria, o espólio e toda a estrutura de recursos humanos por um euro, mas herdou uma “monumental dívida histórica acumulada”.

José Pinho conseguiu dar um novo rumo à livraria, mas “quando finalmente a casa parecia começar a estar arrumada”, surgiu a pandemia da Covid-19. Em 2021, é diagnosticada ao empresário uma doença oncológica incurável e acabou por falecer em maio deste ano.

O filho João Pinho comunica que este ano “foi duplamente triste”, pela morte de José e agora pelo fecho de portas da Ferin. No entanto, prometendo seguir a premissa do pai — “sempre que uma livraria fechar, a Ler Devagar abrirá uma outra” –, acaba de abrir uma livraria no Bairro Alto.

“Uma livraria que é também um centro cultural onde se podem ler e comprar livros, ver filmes, beber um copo, ouvir um concerto ou uma sessão de leitura. E assim, na Casa do Comum do Bairro Alto, a Ler Devagar volta de novo à sua vocação original: a de reinventar o conceito de Livraria, ao mesmo tempo que gera espaços de encontro e de acesso a todas as expressões artísticas e da palavra”, destaca a administração.

“Esperamos que este choque nos possa ajudar a pensar o que podemos fazer de diferente no futuro para não perdermos os espaços que mais amamos na cidade”, conclui o filho de José Pinho, em comunicado.

Esperamos que este choque nos possa ajudar a pensar o que podemos fazer de diferente no futuro para não perdermos os espaços que mais amamos na cidade.

João Pinho

A livraria Ferin foi fundada em 1840 pelo belga Jean Batiste Ferin, que se instalou em Lisboa durante as guerras napoleónicas. Jean-Baptiste teve 11 filhos, sete dos quais começaram a trabalhar em profissões ligadas aos livros (Gabinete de Leitura, Encadernação, Tipografia, entre outras).

Duas das suas filhas, Maria Teresa e Gertrudes, abriram no Chiado, em Lisboa, no local onde fica a livraria Ferin, um Gabinete de Leitura que funcionava mais como uma biblioteca. As pessoas pagavam o aluguer dos livros e era com esse dinheiro que conseguiam aumentar o número de exemplares do Gabinete. Mais tarde, Maria Teresa transformou o Gabinete de Leitura na atual livraria.

A partir dessa altura e até meados do século XX, a livraria dispôs também de uma oficina de encadernação. O rei D. Pedro V mandava encadernar nela todos os seus livros e resolveu mesmo nomeá-la Encadernadora Oficial da Casa Real Portuguesa. Desde 1840, passaram pela Ferin grandes personalidades da vida literária do país, como Eça de Queiroz.

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