Agricultura e golfe reduzem em 69% consumo de água no Algarve
Agência Portuguesa do Ambiente fala numa redução "muito significativa para as reservas de água e um sinal de que todos estão a fazer um esforço para enfrentar a pior seca de sempre na região".
Os setores agrícola e do golfe no Algarve gastaram, no total, menos 90.000 metros cúbicos de água em fevereiro comparativamente com o mesmo mês de 2023, disse à Lusa o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). “É uma redução de 69%, muito significativa para as reservas de água e um sinal de que todos estão a fazer um esforço para enfrentar a pior seca de sempre na região”, referiu José Pimenta Machado.
No mesmo sentido da agricultura e do golfe, também o setor urbano reduziu em 0,5% o consumo de água em fevereiro, mas ainda aquém dos 15% que constam das medidas de contingência propostas pela Comissão da Seca e aprovadas pelo Governo.
Para a rega agrícola, a comissão definiu uma redução em 25% do consumo e de 18% para a rega dos campos de golfe. Para o responsável da APA, a redução do consumo nestes setores demonstra que “as medidas estão a resultar, num esforço que está a ser feito por todos” os setores em conjunto. “É verdade que em janeiro e fevereiro não se rega, mas mesmo assim, verifica-se um grande esforço, sendo uma percentagem muito animadora e muito importante”, sublinhou.
Para Pimenta Machado, os consumos em fevereiro em todos os setores – urbano, turismo e agrícola -, refletem “a grande cooperação, trabalho de equipa e compromisso para enfrentar este grande desafio”, acrescentou. “É verdade que algumas medidas estão em fase de implementação, mas é preciso reorganizar, planear, porque há outras que têm alguma complexidade técnica e que obrigam aqui a um esforço maior para serem implementadas”, apontou.
Para fazer um balanço das medidas atualmente em vigor e definir outras a aplicar, está prevista para meados de março uma reunião de coordenação geral entre a APA, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) e a Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL). A reunião visa também definir o modelo de governação dos cinco grupos de trabalho técnicos (GT) especializados: o GT1- agricultura e golfe; GT2-turismo; GT3-gestão da água em baixa; GT4-campanhas de sensibilização e o GT5-fiscalização.
Face à situação de seca extrema que o Algarve enfrenta e para sensibilizar a população para a importância de poupar água, a Agência Portuguesa do Ambiente vai lançar em breve o portal da seca, uma aplicação informática. “É uma aplicação que visa informar todos os cidadãos para as reservas de água nas albufeiras e os consumos nos diversos setores e alertar comportamentos mais sustentáveis”, notou.
Através da aplicação, os cidadãos podem monitorizar e acompanhar a evolução no momento, quer dos consumos nos vários municípios, bem como das reservas das albufeiras e das águas subterrâneas. “No fundo, serve para monitorizarmos os consumos e percebermos se estamos ou não a conseguir atingir o objetivo de reduzirmos o consumo de água”, concluiu.
O Algarve está em situação de alerta devido à seca desde 5 de fevereiro, tendo o Governo aprovado um conjunto de medidas de restrição ao consumo, nomeadamente a redução de 15% no setor urbano, incluindo o turismo, e de 25% na agricultura. A estas medidas somam-se outras como o combate às perdas nas redes de abastecimento, a utilização de água tratada na rega de espaços verdes, ruas e campos de golfe ou a suspensão da atribuição de títulos de utilização de recursos hídricos.
O Governo já admitiu elevar o nível das restrições, declarando o estado de emergência ambiental ou de calamidade, caso as medidas agora implementadas sejam insuficientes para fazer face à escassez hídrica na região.
Redução de 0,5% no consumo urbano de água
O consumo urbano de água no Algarve desceu 0,5% em fevereiro, comparativamente com o mês homólogo de 2023, uma redução “animadora, mas longe” dos 15% pretendidos. Apesar da redução dos consumos nos setores urbanos, turismo e agrícola, o Algarve mantém-se em situação de seca hidrológica extrema, com níveis “baixíssimos da água subterrânea e reservas superficiais”, destacou José Pimenta Machado.
“Esta ligeira redução é um sinal positivo de que as pessoas estão a gastar menos água e mostra uma tendência relevante das medidas que estão a ser implementadas, quer no setor urbano, no turismo e na agricultura”, realçou. Ainda assim, adiantou, a redução “está longe dos 15% pretendidos” para garantir a sustentabilidade hídrica no Algarve, de acordo com as diretrizes da Comissão da Seca.
Apesar das últimas chuvas, que permitiram uma subida de 25% para 34%, a situação de seca extrema mantém-se e é preocupante, sendo essencial a redução dos consumos para a sustentabilidade.
Se no mês de janeiro houve um aumento de 4,6% no consumo, em relação ao mesmo período do ano passado (mais 200.000 metros cúbicos (m3), em fevereiro consumiram-se menos 20.000 m3 de água na região, notou.
Pimenta Machado considerou que a redução reflete as medidas implementadas, nomeadamente a suspensão da rega de jardins públicos, lavagens de ruas e o fecho de fontes ornamentais, “um caminho que os municípios estão a fazer” de acordo com as recomendações da Comissão da Seca.
De acordo com os dados disponibilizados pela APA, das 19 entidades responsáveis pelo abastecimento urbano de água no Algarve, apenas sete dos 16 municípios algarvios registaram a redução de consumos: Albufeira (-0,85%), Alcoutim (-26,91%), Castro Marim (-16,04%), Lagoa (-2,26%), Loulé (-0,49%), Silves (-9,14%) e Vila do Bispo (-5,23%). No mesmo sentido, estão três empresas municipais do concelho de Loulé: Infralobo (-20,07%), Inframoura (-11,97%) e Infraquinta (-17,18%).
Com consumos superiores estão os municípios de Aljezur (+4,19%), Lagos (+9,24%), Monchique (+18,36%) e São Brás de Alportel (+7,39%). O aumento verificou-se também nas empresas municipais: Águas de Vila Real de Santo António (+9,98%), AmbiOlhão (+0,23%) EMARP, em Portimão (+1,79%), Fagar, em Faro (+5,73%) e Tavira Verde (+1,61%).
As seis albufeiras – Bravura, Odelouca, Arade, Funcho, Odeleite e Beliche – que abastecem a região do Algarve totalizam um volume de cerca de 151 hectómetros cúbicos (hm3), o que corresponde a 34% da capacidade total de armazenamento. Na última semana de janeiro ocorreu um aumento de cerca de 0,01 hm3 no armazenamento das principais reservas superficiais, mas existe uma diminuição de 50 hm3 face ao período homólogo de 2023.
De acordo com o vice-presidente da APA, o Algarve atravessa “a pior seca, com os níveis mais baixos de sempre de reservas de água no conjunto das seis albufeiras”. “Apesar das últimas chuvas, que permitiram uma subida de 25% para 34%, a situação de seca extrema mantém-se e é preocupante, sendo essencial a redução dos consumos para a sustentabilidade”, alertou Pimenta Machado.
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