Barcos de Águeda “navegam” para Espanha e França

Obe&Carmen produziu 72 embarcações de pesca e recreio em 2023. Conheça a história da empresa familiar de Águeda, que nasceu de um amor em Moçambique, emprega 9 pessoas e fatura meio milhão de euros.

Fundada em 1972, a Obe&Carmen, empresa de construção de embarcações de recreio e de desporto localizada em Águeda, nasceu pelo gosto e “mão” de Obe da Silva. No ano passado, a empresa familiar produziu 72 embarcações, sendo que um terço da produção teve como destino os mercados de Espanha e França, que procuram sobretudo embarcações de pesca desportiva. A Obe&Carmen emprega nove pessoas e fatura meio milhão de euros.

Tudo começou com a construção de embarcações a remos, até porque o meu pai foi um dos pioneiros na canoagem do Rio Águeda. Na altura a canoagem não era uma modalidade e hoje temos grupos bastantes conceituados em Águeda, que se devem a esta semente que ele acabou por semear”, conta ao ECO/Local Online Dora Silva, filha do fundador e administradora da empresa.

Em 1957, Obe da Silva emigrou para Moçambique e foi trabalhar para uma companhia açucareira. No entanto, a paixão pela canoagem fazia-o olhar para o Rio Zambeze como uma “tentação”. E foi neste país que construiu o primeiro barco em contraplacado marítimo para uso próprio.

Seis anos depois, no local de trabalho, conhece Carmen, com quem viria a casar um ano depois. Natural de Paredes de Coura, era a única mulher na aldeia que sabia ler e escrever. Dora Silva conta como “sabiamente” a avó lhe disse que devia juntar-se à irmã mais velha, que era secretária na Sena Sugar Estates, em Moçambique.

Com apenas 14 anos, a mãe de Dora Silva embarcou sozinha num navio com destino a Moçambique, em busca de um futuro melhor. Fez uma formação de secretariado no país africano e foi trabalhar para os serviços administrativos da empresa em que a irmã trabalhava. “A minha mãe foi uma mulher de coragem”, recorda.

Em 1971, Obe da Silva foi desafiado pelo irmão a ir ter com ele ao Rio de Janeiro, no Brasil. Aceitou o desafio e foi aprender a trabalhar com fibra de vidro. Um ano depois regressa a Portugal e começa a construir embarcações a remo e, posteriormente, embarcações de pesca profissional. A empresa detém as marcas Obe (marca de embarcações de pesca profissional e amadora) e Sirius (embarcações de recreio).

Gosto da atividade, dos cheiros, da parte criativa. Sempre acompanhei o meu pai e nunca larguei o estaleiro.

Dora Silva

Filha do fundador e administradora da Obe&Carmen

“A Obe foi crescendo, ganhou nome, reputação, credibilidade. Depois foi só pensar mais à frente e começar a apostar na construção de embarcações de recreio”, conta Dora Silva, de 54 anos. A administradora, que nasceu em Moçambique, “quase aprendeu a andar no estaleiro”. Começou a trabalhar na empresa da família com 18 anos, conciliando com a formação no Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração (ISCIA), em Aveiro. “Gosto da atividade, dos cheiros, da parte criativa. Sempre acompanhei o meu pai e nunca larguei o estaleiro”, afirma com orgulho.

Até morrer aos 89 anos, no início de março deste ano, Obe da Silva continuou ligado “emocionalmente” à empresa e a acompanhar a filha na criação de novos projetos. “Continuou a ser o mentor e uma presença muito positiva e motivadora para todos nós”, acrescenta a líder da empresa, que já começou a integrar a terceira geração.

Dora Silva, Obe da Silva, Carmen e Bruno AlogoaObe & Carmen

O filho da administradora, Bruno Alagoa, de 31 anos, deixou o cargo de chefe de cozinha no conhecido restaurante Cafeína no Porto e começou há dois anos a trabalhar na Obe&Carmen. Já a filha está a frequentar o curso de Gestão na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda e resta a esperança de que um dia “possa vir a ser mais um elemento a reforçar a equipa”.

As embarcações, que podem custar entre 5 e 25 mil euros, podem ser personalizadas de acordo com o cliente. São precisos seis dias úteis para construir uma embarcação standard e entre duas a três semanas para ter pronta uma personalizada. O mercado externo representa 50% das vendas, mas Dora Silva não olha para outros mercados, além de Espanha e França, devido à logística e ao custo do transporte.

A Obe é ainda parceira oficial da Yamaha há 20 anos, fornecedora do Metro do Porto com peças específicas para as composições, fornecedora de capacetes homologados para as forças de segurança, fornecedora do Grupo Sanitana com painéis para a banheira topo de gama ou fornecedora de cascos, por subcontratação, para a Zodiac.

(Notícia atualizada a 12 de março com informação sobre a morte do fundador)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Barcos de Águeda “navegam” para Espanha e França

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião