Talento, inovação e decisão. A afirmação de Cascais
O 10º debate ECO Local/novobanco abordou os desafios e oportunidades para o crescimento económico da região. A criação do primeiro aeroporto universitário é uma das grandes novidades do município.
Cascais é um concelho com poder de compra elevado face à média nacional, mas tem desafios pela frente, por exemplo a correção de desigualdades. Esta é a conclusão da análise de research do Novobanco que serviu de mote para o décimo debate ECO Local/Novobanco, que juntou Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, Filipe de Botton, chairman Executivo da Logoplaste, João Silveira, gestor do grupo de saúde Farmácias Silveira, e de Luís Ribeiro, administrador do Novobanco.
A atração de talento foi logo um dos primeiros desafios apontados pelos oradores, inclusivamente pelo presidente da Câmara de Cascais, que revelou o trabalho que têm vindo a fazer e ainda anunciou a criação de um aeroporto universitário na região, que será o primeiro do país: “Nós temos vindo a fazer um esforço naquilo que acreditamos ser um caminho de desenvolvimento, que passa por recuperarmos as grandes infraestruturas essenciais e prioritárias, como a educação e a saúde. Na captação de talento, temos vindo a fazer um esforço muito grande para atrair universidades. Nesse sentido, já temos a Nova SBE, que tem sido um sucesso diferenciador, está em curso a Nova Medical School, e estaremos em breve para anunciar o primeiro aeroporto universitário do país. As necessidades de formação na área da aviação são brutais, são mais de dois milhões e meio de pessoas que precisam de ser formadas nos próximos anos”.
Já Filipe de Botton, Chairman Executivo da Logoplaste, que tem a sua sede em Cascais, considera que para haver uma maior atração de talento, o mais importante é, primeiro, perceber “onde estão as pessoas que decidem” e, depois, “localizar a empresa para atrair mais talento e para criar uma estrutura”. Apesar de, atualmente, Portugal representar um número pequeno das vendas da empresa, o responsável da Logoplaste garante que o centro da empresa continua a ser português: “Portugal representa 2,2% das nossas vendas e não é por ter decrescido em compra, simplesmente os outros países é que cresceram. Hoje em dia, os EUA representam 58% das nossas vendas. Mas o centro de decisão está em Cascais”.
Por sua vez, João Silveira, Farmácias Silveira, partilhou toda a inovação que o grupo de Farmácias Oliveira tem feito, mas garantiu que todo o sucesso que tem se deve aos recursos humanos e aos produtos. E, relativamente ao capital humano, João Silveira partilhou que só contrata pessoas sem experiência: “97% das minhas pessoas não têm experiência porque assim as pessoas vão crescendo connosco e com a nossa cultura”.
“Recruto farmacêuticos, que são licenciados e fazem o estágio connosco, ou pessoas com o 12º ano, às quais pago mil euros. Estas ficam no backoffice da farmácia, estão lá seis meses a dois anos, e quando achamos que estão preparados oferecemos um curso de técnico profissional e eles vão para o balcão”, continuou. Ainda assim, reconheceu que um salário de mil euros para alguém que vive em Cascais é insustentável, o que justifica a falta de recursos humanos.
Habitação: 4 mil euros por metro quadrado
Esta insustentabilidade de viver em Cascais com mil euros de ordenado justifica-se, em muito, pelo custo de vida, a começar pela habitação. Luís Ribeiro partilhou alguns dados que demonstram que o número de fogos de habitação nova disponíveis em Cascais, bem como o número de licenças de construção solicitadas, são relativamente reduzidos. “Isso faz com que haja uma procura maior do que a oferta e o preço da habitação cresça. Cascais apresenta um valor mediano de vendas superior à grande Lisboa, com um preço por metro quadrado de quase 4 mil euros“, disse.
O desafio, de acordo com o administrador do novobanco, passa por “uma política habitacional integrada“, na qual não é necessário acabar com a habitação de luxo, mas sim criar habitação para outros segmentos da sociedade.
Contudo, o presidente da Câmara de Cascais teve uma opinião diferente: “A habitação não está cara, nós estamos é a ganhar pouco. Não temos rendimentos suficientes para acompanhar. No caso concreto de Cascais, o preço por metro quadrado é dos mais elevados, mas também é o segundo maior concelho com habitação pública em Portugal. Temos 2500 fogos e vamos acrescentar mais de 3500. Somos dos concelhos que mais habitação pública tem. O facto de termos esta capacidade de ter algum poder de compra mais elevado e algum imobiliário é o que permite que Cascais seja um dos concelhos que mais apoios sociais tem. Nós apoiamos os mais fragilizados como nenhum outro concelho apoia”.
Nesse sentido, Luís Ribeiro relembrou que a situação do imobiliário em Portugal é diferente da do resto da Europa. “Portugal é um dos países da Europa em que maior percentagem da população tem casa própria. Cerca de 78% das famílias portuguesas têm casa própria. E uma grande parte da poupança das famílias portuguesas está em imobiliário, portanto, quando se fala em evolução positiva ou negativa dos preços, não se pode esquecer do impacto que isto tem na poupança das famílias. Isto porque, se houver uma desvalorização do imobiliário, uma parte significativa da poupança das famílias também tem essa desvalorização”, referiu.
O administrador do novobanco considerou, assim, que Cascais tem um conjunto de vantagens grande, o que lhe beneficia na captação de investimento: “Quando nós financiamos, temos de perceber quais são as vantagens competitivas do médio prazo da própria região. O novobanco não tem uma exposição demasiado grande ao imobiliário, mas está disponível para apoiar os bons projetos“.
Poder de compra estrangeiro ajuda a região
“Temos em Cascais mais de 80% das nacionalidades do mundo. Destas nacionalidades, estamos a falar de algumas figuras com grande poder de compra e capacidade financeira, com empresas e redes de contacto. E nós estamos a aproveitar estes residentes que não nasceram em Portugal nem em Cascais, de forma a potenciar que eles possam trazer essas redes, essas empresas e esses investimentos para o concelho“, revelou Carlos Carreiras.
A mesma opinião foi partilhada por João Silveira, que partilhou que o grupo Farmácias Silveira tem beneficiado do crescimento de pessoas na região com maior poder de compra. “Temos beneficiado muito com a vinda de estrangeiros para a zona de Cascais” e, prova disso, são 50% dos atendimentos de uma das farmácias que têm em Cascais serem para estrangeiros.
O fator de atratividade de Cascais para estrangeiros pode ser justificado, em parte, pela “qualidade do português”, referida por Filipe de Botton. “Quanto mais nós vamos para fora, mais percebemos que a qualidade do português é, em média, superior à do não português. Portanto, nós somos muito melhores do que nos achamos. E esse é que é o grande problema: nós achamo-nos sempre menos do que aquilo que somos”, disse.
Ainda assim, esta qualidade tem vindo a ser valorizada e os dados partilhados por Luís Ribeiro demonstram claramente isso: “Quando olhamos para o capital humano, o concelho de Cascais não é muito diferente daquilo que tem sido a realidade nacional. Apresenta o maior crescimento da população nos últimos anos (de 3,6%), enquanto Portugal apresenta um decréscimo da população” E, apesar de, na sua maioria, Cascais ser composto por microempresas (97%), apresenta um poder de compra superior à média nacional. “Cascais apresenta um poder de compra superior em 21,8% àquilo que é a média nacional, que compara com Lisboa, que tem um poder de compra superior em 80% à média nacional“, concluiu.
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