
Tesla Model Y: Para quem quer um carro do futuro mas evita política no café
Entre buracos e lombas, só o Musk faz mais barulho que o novo Model Y. E este é o exemplo da nossa relação complicada com a tecnologia moderna: sabemos que tem problemas, mas ainda assim queremos um.
A revolução silenciosa da Tesla continua a avançar pelas estradas portuguesas através do “refrescado” Model Y 2025, que tem a responsabilidade de manter a liderança num segmento cada vez mais competitivo.
A proposta da marca norte-americana é clara: oferecer um SUV familiar elétrico com autonomia generosa, tecnologia de ponta e um custo de utilização difícil de igualar, sobretudo quando se considera o financiamento atualmente disponível. Será que, com preços a partir dos 44.990 euros, a nova coqueluche da Tesla justifica o entusiasmo e o investimento?
O Model Y, lançado originalmente em 2020, rapidamente se tornou no automóvel elétrico mais vendido do mundo, superando até modelos convencionais a combustão. A versão 2025 apresenta-se com um design exterior renovado, onde sobressai uma nova assinatura luminosa dianteira e traseira, conferindo-lhe uma presença mais sofisticada e moderna. O perfil mantém-se fiel ao conceito original, privilegiando a eficiência aerodinâmica e o espaço interior.
Ao primeiro olhar, é impossível confundir o novo Model Y com a versão anterior. A dianteira apresenta agora uma barra luminosa que percorre toda a largura do veículo, conferindo-lhe um ar futurista e, ouso dizer, algo intimidante – talvez para assustar a crescente concorrência chinesa. A traseira apresenta outra inovação interessante: uma barra de luz que utiliza um sistema de iluminação indireta e refletida.
Se anteriormente o Model Y parecia um Model 3 com excesso de hidratos de carbono, esta renovação traz-lhe uma personalidade distinta, embora mantenha o perfil lateralmente reconhecível. Está mais longo alguns centímetros (4,79 metros no total), mas a verdadeira melhoria é aerodinâmica, o que contribui para um aumento na autonomia.
O interior também recebeu atualizações subtis, mas significativas. Os bancos são agora mais confortáveis e incluem função de refrigeração à frente – que é uma bênção durante para os dias mais quentes. O material do tablier apresenta um melhor tato, e há um novo ecrã de 8 polegadas para os passageiros traseiros, que evita as habituais queixas dos miúdos em viagens mais longas com as constantes repetições “estamos quase a chegar?”. Agora podem entreter-se com vídeos durante o percurso e evitar uma crise nervosa nos graúdos.
Viagens mais tranquilas e equilibradas
Anteriormente, conduzir um Model Y significava sentir cada buraco, lomba e irregularidade nas costas. A Tesla parece ter ouvido as críticas, oferecendo agora uma suspensão significativamente mais sofisticada. O carro continua firme, mas já não faz estremecer a coluna nos pisos mais degradados da capital.
O novo isolamento acústico e os vidros duplos fazem maravilhas para manter o ruído exterior a uma distância respeitável. Na autoestrada, a direção é precisa e confiante, transmitindo segurança mesmo a velocidades mais elevadas.
O que continua a impressionar é a eficiência. A versão Long Range de tração traseira oferece uma autonomia WLTP de 622 quilómetros, um valor excecional para um SUV elétrico deste porte.
Durante os dias de teste com a versão “Launch Series” (com tração integral), foi possível alcançar autonomias reais na ordem dos 500 quilómetros, mesmo com o ar condicionado ligado e algum “pé pesado” ocasional, sobretudo no arranque, não continuasse a aceleração a ser um ponto forte deste SUV, com os 4,8 segundos do 0-100 km/h a transformarem cada entrada na autoestrada numa pequena montanha-russa.
O novo Model Y é provavelmente o SUV eléctrico mais prático e eficiente do mercado nesta faixa de preço. É como ter um smartphone de última geração: pode não ser perfeito e talvez discordemos da filosofia da empresa que o produz, mas é difícil negar a sua utilidade no quotidiano.
É impossível falar do Tesla sem mencionar o seu característico ecrã central. Com 15,4 polegadas, este ecrã continua a ser o centro nevrálgico de todas as funções. Para os nativos digitais, é intuitivo e agradável. Para quem prefere botões físicos, continua a ser um desafio.
Com um preço de entrada de 44.990 euros para a versão de tração traseira, o novo Model Y não é barato. No entanto, a Tesla continua a destacar-se da maioria das marcas ao oferecer condições de financiamento muito atrativas em comparação com os seus concorrentes, como seja uma TAEG a partir de 4,72% a 96 meses. É difícil igualar esta proposta.
A Launch Series que o ECO testou, com um preço de 60.990 euros, é claramente destinada aos entusiastas dispostos a pagar um prémio para serem os primeiros a ter o modelo renovado e distintivo. Para a maioria dos compradores, as versões regulares representam um melhor equilíbrio entre preço e benefício.
O elefante político na sala
Falar da Tesla é também falar de Elon Musk, que está a afetar negativamente a imagem da marca na Europa. As suas ligações a Donald Trump e manifestações de apoio a partidos de extrema-direita europeus têm causado uma reação negativa em muitos mercados. As vendas caíram quase 50% em janeiro e fevereiro deste ano na Europa, em comparação com o mesmo período de 2024. Em Portugal, as vendas da Tesla caíram cerca de 25% nos primeiros três meses do ano.
Contudo, foi notório a atenção e a curiosidade que o novo Model Y gera na rua, dada a quantidade de olhares curiosos e perguntas sobre autonomia e outras características deste bólide, em comparação com zero comentários políticos sobre o seu fundador. Talvez estejamos mais preocupados com a Euribor do que com os tweets controversos do multimilionário sul-africano.
O novo Tesla Model Y, com tudo o que oferece, é uma excelente proposta de um carro familiar elétrico. A autonomia é impressionante, a tecnologia é avançada e as melhorias de conforto transformaram-no num veículo muito mais agradável para o dia-a-dia. As condições de financiamento atrativas e o acesso à rede Supercharger são trunfos adicionais. Mas nem tudo é bom. A qualidade de construção ainda não rivaliza com os premium alemães, a dependência total do ecrã tátil pode ser frustrante para alguns condutores, e sim, há o “fator Musk” para quem se preocupa com isso.
Após alguns dias de viagens escolares, trajetos casa-trabalho e compras de supermercado, a conclusão é clara: o Model Y é provavelmente o SUV eléctrico mais prático e eficiente do mercado nesta faixa de preço. É como ter um smartphone de última geração: pode não ser perfeito e talvez discordemos da filosofia da empresa que o produz, mas é difícil negar a sua utilidade no quotidiano.
Num mundo cada vez mais polarizado, talvez o Model Y 2025 seja o exemplo perfeito da nossa relação complicada com a tecnologia moderna: sabemos que tem problemas, mas ainda assim, queremos ter um. E talvez esta seja a maior vitória da Tesla – criar produtos que desejamos, mesmo quando estamos zangados com o seu criador. Afinal, já alguma vez tentaram resistir a uma sobremesa deliciosa só porque o chef tem opiniões controversas?
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