Moedas “abandonou a reunião” de Câmara e não ficou para audição do presidente da Carris, acusam PS e Livre
Presidente da Carris assegurou que empresa considerava elevador da Glória "seguríssimo" e disse-se "incrédulo" com o acidente, assegura o vereador do Livre, Rui Tavares.
A reunião desta segunda-feira na Câmara Municipal de Lisboa foi interrompida ao final da manhã para análise das propostas entregues pelos vereadores para próximos passos no caso do acidente do elevador da Glória. Antes da pausa, Carlos Moedas “abandonou a reunião”, acusa o vereador socialista Pedro Anastácio.
Segundo apurou o ECO/Local Online, o vice-presidente da Câmara, Filipe Anacoreta Correia, informou que Moedas saiu para se encontrar com a ministra da Saúde a propósito da visita a feridos hospitalizados.
Carlos Moedas participou, segundo afirma, por sua vez o vereador do Livre Rui Tavares, “no primeiro ponto, que tinha a ver com a ratificação do luto municipal”, efetuou depois “uma declaração mais genérica” e “não fez nem perguntas ao presidente do Conselho de Administração da Carris, nem esteve já nessa parte das perguntas” feitas ao presidente do conselho de administração da Carris.
Do lado do executivo, a coligação que governa a capital apresentou várias propostas, entre as quais a atribuição do nome do guarda-freio André Marques a uma rua ou espaço público, e ainda que a Carris crie uma bolsa de estudo para os descendentes “para assegurar os respetivos estudos” e a atribuição à viúva e descendentes do trabalhador de uma pensão de sobrevivência. A Carris deverá ainda batizar um elétrico articulado com o nome de André Marques. Entre outras medidas, Moedas quer ainda que se construa um memorial coletivo às vítimas do acidente, coincidindo com uma das medidas apresentadas pelo PS na sexta-feira.
Na reunião, assegura Rui Tavares, o presidente do conselho de administração da Carris, Pedro Bogas, terá dito a propósito do elevador que a companhia considerava o elevador da Glória “seguríssimo”. Tavares saliente que “nem foi seguro, foi o superlativo que foi utilizado”. E, prossegue Tavares nas declarações aos jornalistas à saída da reunião, o presidente da Carris terá acrescentado: “Estamos incrédulos com o que aconteceu”.
Para o vereador do Livre, “isto significa que há matéria de segurança que não está a ser seguida como deve ser pela Câmara Municipal de Lisboa”. “Lamento que o senhor presidente de Câmara não tenha ficado nesta reunião para, na primeira ocasião que teve de discutir com o Executivo da cidade de Lisboa, para discutir mais profundamente”, acrescentou.
Pedro Anastácio acusa Carlos Moedas de ser, ao longo do mandato, “pouco presente nas reuniões de Câmara”. “É o momento mais trágico em 60 anos na cidade de Lisboa”, pelo que “o que tinha de fazer era estar na reunião e devia ter feito esta convocatória antes”.
A reunião será retomada às 14h30, quando será deliberado sobre as medidas das três propostas em cima da mesa, do PS, do PCP e do Executivo liderado por Carlos Moedas.
Entre os vários partidos, o PCP pretende analisar a passagem da manutenção de novo para dentro da própria estrutura da Carris, acabando com a entrega do serviço a privados.
Para o PS, a questão não está tanto na externalização, mas se a manutenção “é segura e dá confiança a todas as pessoas que utilizam a infraestrutura. É este o quadro da avaliação da manutenção”, defende Pedro Anastácio.
Já o líder do Livre Rui Tavares entende que o relatório não permite “chegar a conclusões definitivas”, mas possibilita “alguma exclusão de partes”. Tavares considera que as “consequências políticas têm de ser apuradas”. “Há responsabilidade, o que no nosso entendimento é diferente de culpa, a apurar”, diz.
Mostrando-se crítico de Moedas por ter concedido uma entrevista antes de falar na Câmara, o líder do partido parceiro do PS na candidatura à Câmara a 12 de outubro afirma ainda que o autarca “quer pôr o país todo a discutir o trambolho e se há uma responsabilidade direta dele sobre o trambolho da cabina um do elevador da Glória. Isto não é um debate que esteja à altura do que queremos discutir neste país”.
Por outro lado, o vereador do Cidadãos por Lisboa Rui Franco considera que “Carlos Moedas entendeu no tom que apresentou na entrevista na televisão passar ao ataque num momento em que toda a oposição tinha tido muito cuidado com não misturar a avaliação crítica e perspetiva daquilo que se passou com o momento de honrar as vítimas”. Franco diz que “este escrutínio começa, terá que ser feito” e que a Câmara “falhou” na responsabilidade de ter o equipamento aberto ao público em condições de segurança. “Todos os procedimentos que eram ou não feitos são da inteira e exclusiva responsabilidade do município de Lisboa e o que este colapso”, acusa o vereador.
Do lado do PS de Lisboa, acusa-se ainda o presidente da Câmara de ter desrespeitado a memória do ex-ministro Jorge Coelho quando se referiu ao caso da queda da ponte de Entre-os-Rios. “É inaceitável que um presidente da Câmara Municipal de Lisboa esteja disponível para atacar a memória de uma pessoa falecida para tentar apagar a sua responsabilidade”. Moedas “não se retratou” e o mesmo sucedeu com o vice-presidente Filipe Anacoreta Correia, acusou o vereador socialista.
À entrada para a reunião de Câmara, o vice-presidente com o pelouro da Mobilidade, Filipe Anacoreta Correia, apontou uma “avaliação para o futuro, constituindo uma equipa para a conceção do novo sistema tecnológico deste elevador, envolvendo se possível a Ordem dos Engenheiros, o LNEC”.
Tal como o ECO/Local Online noticiou na sexta-feira, os vereadores do Partido Socialista entregaram uma proposta para agilizar a entrega de documentação e informação pela administração da Carris. Nela, dava-se um prazo de 24 horas para que o órgão liderado por Pedro Bogas apresente a informação, que, segundo a proposta, também deverá ser disponibilizada ao público em geral.
O acidente no elevador da Glória, que vitimou fatalmente 16 cidadãos de várias nacionalidades, deveu-se, segundo as primeiras análises conhecidas, do desligamento do cabo que une os dois veículos numa das carruagens.
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