Atração de talento é desafio para a indústria em Leiria

  • ECO
  • 10 Fevereiro 2023

No terceiro debate ECO Local/novobanco, a economia em toda a região de Leiria foi avaliada. Apesar de se destacar pela forte componente industrial, a atração de talento tem sido difícil na área.

O terceiro debate ECO Local/Novo Banco aconteceu esta quinta-feira, dia 9 de fevereiro, em Leiria. Esta é uma iniciativa que percorre o país para refletir sobre os desafios e oportunidades económicas das diferentes regiões. Desta vez, o mote da conversa foi o estado da economia da região de Leiria e os desafios que está a enfrentar.

António Poças, CEO da inCentea (empresa tecnológica), Catarina Louro, vereadora do pelouro da Economia da Câmara Municipal de Leiria, Luís Ribeiro, administrador novobanco, e Rui Brogueira, CEO da Respol (empresa dedicada à indústria de resina), foram os convidados deste terceiro debate, que contou com a moderação de António Costa, diretor do ECO.

Não sendo uma região turística, a economia de Leiria destaca-se pelo potencial industrial da região. O papel das empresas neste campo é, por isso, fulcral para sustentar o modelo económico desta região, no entanto, perante o cenário de crise, estas também são as primeiras a sair afetadas. Ainda assim, a resiliência dos empresários e a capacidade de contornar as situações desafiadoras acabam por manter esta região entre as mais industriais do país.

“A nossa região tem no seu ADN o empreendedorismo e a resiliência, por isso, sempre que tivemos crises, as nossas empresas e empresários conseguiram dar a volta, conseguiram reinventar-se e readaptar-se. Depois da pandemia, e agora com as consequências da guerra, vemos as empresas, mais uma vez, a reconstruir os seus modelos”, começou por dizer Catarina Louro.

Além da resiliência dos empresas da região, outro ponto destacado pelos empresários presentes no debate foi a entreajuda que existe entre as várias entidades, das mais diversas áreas, fixadas em Leiria. “Este entendimento entre as várias entidades da região e os projetos conjuntos que se desenvolvem é um ponto forte da nossa região“, referiu António Poças, da inCentea.

Este é um dos fatores que leva a que a Respol, mesmo tendo 99% de vendas para o exterior, mantenha a sua sede em Leiria. “Temos o know-how e a tecnologia aqui”, reconheceu Rui Brogueira, que ainda revelou ganhos de mais de 80 milhões de euros na Respol Resinas derivados dessas vendas.

Os números dados por Luís Ribeiro, do novobanco, confirmam esta forte vertente exportadora da região: “37% do VAB da região vem do setor industrial, que é muito superior à média do país, que é de 23%. É, também, a região mais exportadora, as exportações de bens pesam mais aqui do que na média nacional, nomeadamente nos setores de cerâmica, vidros, pedras e plástico”.

Atração de talento é fator crítico na região

Se, por um lado, estar numa região menos central aumenta a retenção de pessoas, por outro lado traz um enorme desafio, que é a atração de talento. “A necessidade de atrair talento é crítica e deve ser um fator de investimento por parte de todas as entidades para potenciar o crescimento da região“, continuou o responsável do novobanco.

A região tem uma taxa de desemprego de 3%, o que, para Rui Brogueira, representa outro desafio no processo de contratação. “Estamos numa zona do país que está praticamente no pleno emprego, o que quer dizer que ir ao mercado à procura de pessoas para trabalhar traz uma dificuldade natural porque esses 3% de desempregados representam praticamente as pessoas que não querem ou que não podem trabalhar“, afirmou.

Para resolver esta questão, tanto Rui Brogueira como António Poças concordaram que a solução passa por ir buscar recursos e talentos a outras zonas do país e, até, a outros países. “O problema da falta de pessoas não é recente. Exige medidas globais que, inevitavelmente, passam por atrair pessoas de outros países. Mas, para isso, é importante haver políticas públicas de acolhimento e esse é um desafio que eu acho central“, destacou o CEO da inCentea.

Por sua vez, a vereadora do pelouro da Economia da Câmara de Leiria referiu que o município tem vindo a fazer investimentos em áreas que considera fundamentais para a atração de pessoas, tais como a saúde, a educação, a cultura, o desporto e a ação social: “Ninguém vem para Leiria se não tiver a oferta que tem em Lisboa, portanto este é um caminho que temos trabalhado e do qual temos obtido um resultado positivo”.

Ainda contribuir para a falta de pessoas juntam-se, também, os novos tempos, que trazem consigo novas formas de trabalho mais atrativas, principalmente para os novos talentos, como é o caso do teletrabalho. “A indústria tem para um licenciado uma visão ´menos sexy´ do que uma empresa de tecnologia, por exemplo”, referiu o CEO da Respol.

A questão é que, sendo Leiria uma região muito industrial, a maioria dos empregos necessitam de pessoas a entrar cedo nas fábricas e a ocupar um posto de trabalho presencial. Para isso, António Poças sugeriu a aposta na automação e ainda reafirmou a necessidade de adaptação a estas novas formas de trabalho: “Temos que estar atentos e disponíveis para acolher a realidade do teletrabalho”.

A par disso, Luís Ribeiro destacou, também, uma outra necessidade da região – dar dimensão às empresas. “Das 36 mil empresas que existem na região, 1% são médias, 4% são pequenas e 95% são micro. Mas, naturalmente, para sustentar um crescimento e para trabalhar em mercados globais, a dimensão também é um desafio e há que potenciar esse crescimento e começar a ter, também, empresas com alguma dimensão“, disse.

Crescimento da região traz desafios na mobilidade e habitação

Contudo, mesmo tendo espaço para crescer mais, a verdade é que já se vão evidenciando alguns desafios fruto do crescimento económico da região. Catarina Louro apontou a mobilidade e a habitação como sendo as duas áreas onde se tem vindo evidenciar uma maior necessidade de atenção devido aos elevados preços das rendas e do trânsito nas horas de ponta.

“Há uns anos atrás não havia horas de ponta em Leiria. Neste momento já temos de reavaliar todos os fluxos de trânsito que existem e estudar soluções. Temos também a habitação mais cara, não existe habitação acessível em Leiria e, nós, enquanto município, tentamos entrar no mercado para controlar preços, para que possamos ter uma melhor oferta”, referiu a vereadora.

A falta de acessibilidade foi outro dos pontos abordados. “Não deixa de ser extraordinário que esta região tenha um nível de empresas exportadoras acima da média do país, mas não tenha um serviço de proximidade adequado no que diz respeito a portos. Temos que utilizar o Porto de Leixões ou o Porto de Sines, uma vez que o Porto de Lisboa e o Porto da Figueira da Foz são muito limitados – e, depois, não temos ferrovia. E era importante pensar-se na ligação ferroviária do centro de Portugal para a Europa“, referiu Rui Brogueira.

Nesse sentido, Catarina Louro garantiu que a câmara tem feito a “pressão política que pode fazer” e mencionou, ainda, a ideia que tiveram sobre a criação de um aeroporto em Leiria, precisamente para facilitar essa logística. A ideia seria aproveitar a base aérea de Monte Real, no entanto, visto não ter havido um consenso nesse âmbito, a vereadora ressalvou que o “importante era trazer um aeroporto para a região centro, não necessariamente em Leiria”.

Veja aqui o debate:

 

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