Porto avança com oito medidas para baixar as rendas na cidade
Pacote do Governo deve incluir menos impostos para habitação acessível privada ou agilização do registo predial. Conheça a estratégia da Câmara do Porto para reduzir os custos com o arrendamento.
No concelho do Porto, tal como acontece no resto do país, o preço da habitação tem vindo a “aumentar muito mais do que o rendimento dos agregados familiares”, com a oferta disponível a ser “insuficiente” para a procura atual, o que, reconhece o vereador da Câmara do Porto com o Pelouro da Habitação, origina uma “crise de acessibilidade à habitação com preços muitas vezes incomportáveis para o bolso dos portugueses”.
Em declarações ao ECO, Pedro Baganha assume que é “imprescindível uma política orientada para a classe média e para o mercado de renda acessível”, estando a autarquia portuense a avançar com as suas próprias “ferramentas” para atacar este problema na habitação. Entre elas, estão oito medidas com que, a par da iniciativa municipal, procura “atrair o investimento privado no aumento da oferta da habitação para renda acessível”.
- No Plano Diretor Municipal (PDM) está a introduzir um conjunto de incentivos à promoção privada, como a densificação estratégica de algumas partes da cidade, a majoração de índices, a redução das taxas urbanísticas e o zonamento inclusivo, que obriga as maiores operações urbanísticas no centro da cidade a uma dotação específica destinada à habitação para arrendamento acessível.
- O programa municipal “Porto com Sentido” proporciona às famílias o acesso ao arrendamento habitacional a preços inferiores aos de mercado em todas as freguesias do concelho. Procura captar alojamentos privados para o mercado de arrendamento a custos acessíveis, tendo como destinatários famílias da classe média, tendo até ao momento contemplado 310 beneficiários nas cerca de 165 habitações entregues.
- Dirigido às habitações destinadas ao arrendamento acessível de iniciativa privada que se encontram ainda em fase de projeto, construção ou requalificação, o “Build to Rent”, inserido no mesmo programa, tem como vantagens para o promotor privado a segurança no cumprimento contratual, a redução do risco e benefícios fiscais, como a isenção total de IRS/IRC e do IMI. Nesta modalidade tem 55 fogos em Campanhã com aprovação prévia e 40 com propostas em curso nas freguesias de Paranhos e Cedofeita.
- Ainda no mercado de renda acessível, o município tem em curso quatro projetos para a construção de novas habitações: em Lordelo do Ouro com cerca de 300 habitações, Faria de Guimarães com 80 fogos, e Monte Pedral e Monte da Bela com 330 e 232 fogos, respetivamente, num total aproximado de mil novas casas.
- A reabilitação da propriedade municipal, por outro lado, vai contribuir para o reforço de oferta de habitação ao mercado de arredamento acessível com cerca de 200 novos fogos, nas contas da autarquia liderada pelo independente Rui Moreira.
- Ainda de iniciativa municipal, encontram-se em curso outros projetos enquadrados no programa das ilhas do Porto para renda condicionada, com operações na Ilha da Lomba para 47 fogos, Rua das Antas com quatro fogos e São João Novo com três fogos.
- A sociedade de reabilitação urbana Porto Vivo criou recentemente o Balcão da Habitação Acessível, para informar e apoiar os interessados na instrução de candidaturas que visem a reabilitação de núcleos degradados (ilhas) e de habitação própria e permanente, nos termos do 1º Direito – Programa de Apoio ao Acesso à Habitação e da Estratégia Local de Habitação. Só no primeiro mês houve cerca de 600 consultas.
- Para responder à “fragilidade económica”, o Porto Solidário – Fundo Municipal de Emergência Social atribui apoios à renda no mercado livre de arrendamento. Visa “promover a manutenção dos agregados familiares nas suas habitações arrendadas e casas próprias, combatendo o desenraizamento e contribuindo para a redução do endividamento familiar, diminuindo a asfixia financeira de muitas famílias”. Desde 2014 já ajudou 4.500 famílias, num investimento superior a 13 milhões de euros.
Regras simples e menos impostos para habitação acessível
A poucos dias de o Governo socialista aprovar um novo pacote legislativo sobre habitação, na reunião de Conselho de Ministros agendada para esta quinta-feira, Pedro Baganha lembra que “a resolução da carência ou dificuldade de acesso à habitação passa efetivamente pela adoção de medidas concretas, com o intuito específico de aumentar a oferta de habitação disponível”.
O detalhe das medidas ainda não é conhecido, mas o primeiro-ministro, António Costa, antecipou, em entrevista à RTP, que desse pacote devem constar a disponibilização de mais solos para construção de habitação, incentivos à construção por parte de privados e aos proprietários para colocarem casas no mercado de arrendamento, além de apoios para os jovens conseguirem arrendar casa. Os proprietários duvidam da eficácia do novo pacote.
Como é que os municípios devem ser incluídos e participar neste dossiê? “O direito constitucional à habitação deve ser garantido, em primeiro lugar, pelo Estado. No entanto, as autarquias, por estarem mais próximas do território e das populações, são imprescindíveis para a implementação das políticas públicas de habitação. O Estado Central deve garantir o devido enquadramento jurídico-regulamentar, mas também financeiro, delegando o mais possível a implementação em concreto das soluções habitacionais que vierem a ser previstas”, responde o vereador.
O autarca que tem igualmente o pelouro do urbanismo e do espaço público sublinha que, no que respeita à promoção privada, “uma das medidas necessárias passaria por um regime regulamentar e fiscal mais favorável à disponibilização de habitação acessível privada, bem como um pacote de incentivo ao terceiro setor e ao setor cooperativo”, notando que “neste momento é crítica a adoção de mecanismos de compensação dos proprietários privados de habitação com renda acessível pelo teto imposto à subida das rendas”.
Uma medida muito necessária seria a adoção de mecanismos de agilização do registo predial das propriedades municipais, muitas delas omissas nas conservatórias por serem antigas.
No que respeita à promoção pública financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), Pedro Baganha sublinha ao ECO que “uma medida muito necessária seria a adoção de mecanismos de agilização do registo predial das propriedades municipais, muitas delas omissas nas conservatórias por serem antigas”, notando que esse registo é “imprescindível” para garantir o financiamento através da chamada bazuca europeia.
Finalmente, o responsável máximo pela habitação na cidade Invicta reclama uma revisão das regras para a “elegibilidade de financiamento complementar” no PRR, cuja execução pode ser acelerada com a “desburocratização do processo de apresentação, avaliação e aprovação de candidaturas, que é ainda moroso e complexo”. “Devem ser garantidas condições de agilidade procedimental, de forma a que os apoios cheguem rapidamente aos municípios, para que assim possam cumprir as metas e eixos definidos na política de habitação”, conclui.
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