A Unir terá 439 linhas e 672 autocarros. Câmara do Porto fica de fora e critica falta de planeamento e informação. "Todos os constrangimentos serão avaliados e resolvidos”, assegura o líder da AMP.
A nova rede de autocarros da Área Metropolitana do Porto (AMP), Unir, arranca esta sexta-feira envolta em polémicas. A Câmara Municipal do Porto — a única das 17 autarquias que não adere –, garante que não está contra. Mas deixa um aviso: “Na qualidade de autoridade de transportes municipal, determinamos as paragens e terminais para o transporte público, e, nesse sentido, não concedemos autorização para que a nova rede Unir transporte passageiros com origem e destino no município do Porto, preservando assim a exclusividade atribuída à STCP”.
Nos últimos dias, a autarquia liderada por Rui Moreira garantiu que iria estar atenta a situações de incumprimento por parte das operadoras de transporte. Manifestou-se preocupada com o facto de o mapa da rede de transportes contemplar paragens em locais para onde não existe autorização. “Para além de analisar toda a informação que tem sido publicada no que diz respeito à nova concessão da rede Unir, temos vindo a articular com a Área Metropolitana com o objetivo de rever a localização de paragens não autorizadas e realizar os ajustes necessários na implementação da nova rede de transportes”, avança o adjunto do presidente da câmara do Porto para a área dos transportes, André Brochado, em declarações ao ECO/Local Online.
Mas o presidente do Conselho Metropolitano do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues, assegura que a Unir não coloca em causa a cumprimento das regras e a manutenção da exclusividade da STCP na operação rodoviária na cidade do Porto, como a câmara liderada por Rui Moreira já acusou. “Isso está fora de causa. A exclusividade da STCP é uma questão legal, não está, nem nunca esteve em causa”, garante Eduardo Vítor Rodrigues ao ECO/Local Online.
São 439 linhas, 33 milhões de quilómetros por ano, 672 autocarros e uma operação de mais de 310 milhões de euros.
Os autocarros da nova rede de transportes públicos metropolitanos do Porto, com imagem uniformizada e adesão a um único sistema de bilhética — o Andante que é o mesmo para o Metro do Porto, STCP e comboios urbanos do Porto –, vão ligar os 17 municípios da AMP. Entre eles constam Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Gondomar, Maia, Vila do Conde, Póvoa de Varzim ou Trofa.
Na cidade do Porto opera exclusivamente a STCP que não sofre alterações e é a empresa municipal que continua a assegurar o transporte rodoviário. “O município do Porto, como parte da sua estratégia de mobilidade para a cidade e com o respaldo dos trabalhadores da empresa, confiou à STCP a exclusividade no transporte de passageiros em modo rodoviário na cidade”, explica o adjunto de Moreira.
Ao todo “são 439 linhas, 33 milhões de quilómetros por ano, 672 autocarros e uma operação de mais de 310 milhões de euros”, contabiliza Eduardo Vítor Rodrigues. O também autarca de Vila Nova de Gaia garante que “todos os constrangimentos serão avaliados e resolvidos“. Na realidade, sustenta, “os primeiros tempos serão de adaptação. Haverá mais linhas, mais horários, mais reforço em períodos de maior procura, mas as alterações necessitam de tempo e da compreensão de todos, dado tratar-se de uma mudança depois de décadas de um modelo obsoleto”.
Em declarações ao ECO/Local Online, o presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde, Vítor Costa, assinala, por sua vez, que “os maiores constrangimentos esperados estão relacionados com a validação dos bilhetes e alguma confusão com os horários”. Questionado se concorda com a câmara do Porto quando refere que há falta de planeamento, o autarca de Vila do Conde responde: “O município tem estado em estrito contacto com a Área Metropolitano do Porto a trabalhar por forma a corrigir alguns problemas nos trajetos”.
Desde a bilheteira aos horários até à questão das paragens da rede em locais da STCP são várias as dúvidas levantadas. A autarquia da Invicta está de pé atrás, ainda que o adjunto de Rui Moreira garanta: “Não estamos contra a Unir; pelo contrário, reconhecemos como um agente importante na promoção do transporte público metropolitano e na fomentação da mobilidade sustentável”.
Mas há agulhas por acertar. “Uma empresa tomou a decisão, à revelia das orientações do município do Porto, de afixar um aviso no Parque Terminal das Camélias, informando os utilizadores de que o término das linhas no Porto, a partir do dia 1 de dezembro, aconteceria na Rua Alexandre Herculano. O que não irá acontecer, uma vez que o seu terminus será no Terminal Parque das Camélias”, conta André Brochado.
Na cidade, a Unir pode ter apenas início e fim de linhas (nos terminais da Asprela, Bom Sucesso, Camélias, Campanhã, Casa da Música e Estádio do Dragão), mas não pode recolher passageiros noutros pontos.
A câmara do Porto receia que ocorram alguns transtornos. “Consideramos que existiu falta de planeamento e organização pela AMP no arranque da rede Unir, especialmente no que diz respeito à divulgação de informações ao público”, detalha André Brochado. “A informação é deficitária, pouco clara, suscita muitas dúvidas e não existe um canal de comunicação prático e objetivo para o esclarecimento dos utilizadores”, completa. O adjunto do presidente da câmara do Porto para a área dos transportes avança mesmo que “até às 15h de 29 de novembro [a dois dias do arranque] apenas o Lote 3 – Vila do Conde e Póvoa de Varzim – e o Lote 4 – Vila Nova de Gaia e Espinho – tinham os horários publicados”.
A “falta de planeamento” levanta ainda a questão da gestão de trânsito e um cenário, que a correr menos bem, pode ser algo confuso. Alias, detalha o adjunto de Moreira, “a informação disponível e que consta das peças técnicas do concurso público é o número de circulações e toques nos terminais e interfaces ao longo do dia, o que se revela francamente insuficiente para um eficiente exercício de planeamento e gestão de tráfego na cidade, que não é compaginável com os constrangimentos já experimentados motivados quer pelos problemas da VCI quer pelas obras da Metro”.
Mas, no final, as populações dos municípios da AMP vão sair beneficiadas com “mais e melhor mobilidade, porque aumentam as linhas e a rede, assim como as frequências e a qualidade do serviço, melhor respeito ambiental, com autocarros mais recentes e frotas elétricas, enfim, um caminho para melhor cidade”, garante Eduardo Vítor Rodrigues.
O também presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia diz que estão em curso várias ações para informar os munícipes. Entre elas: “um site com conversor de linhas, brochuras municipais, publicidade institucional, notícias, avisos nas missas, agrupamentos e empresas, sabendo que haverá sempre dúvidas numa área metropolitana com mais de 1,7 milhões de pessoas”.
No caso de Vila do Conde, o município disponibilizou os horários nas redes sociais e site, e contou também com a colaboração das juntas de freguesia para a divulgação, avançou o autarca Vítor Costa.
A nova rede – e respetiva imagem – irá substituir os serviços efetuados pelos cerca de 30 operadores privados rodoviários na AMP, como por exemplo a Caima, AV Feirense, Transdev, UT Carvalhos, Gondomarense, Pacense, Arriva, Maré, Landim, Valpi, Litoral Norte, Souto, MGC, Seluve, Espírito Santo, entre outros.
“Esta rede é uma mais-valia claramente, não só pelo facto de poder ser utilizado o andante em todo o concelho, mas também porque permite ligar varias freguesias as estações de metro”, conclui o líder da AMP.
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Rede de autocarros a (des)Unir a Área Metropolitana do Porto
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