Joana Santiago promete certificar Monção e Melgaço dentro da região dos vinhos verdes
Durante este ano de 2023 e até ao final do mês de outubro, a sub-região produziu cerca de 6,4 milhões de litros de vinho certificado como Monção e Melgaço.
Já é uma velha aspiração dos produtores de vinho de Monção e de Melgaço – uma região com o Rio Minho aos pés e sobejamente reconhecida pelo cultivo da casta Alvarinho – a criação de uma Denominação de Origem (DO) dentro da grande Região Demarcada dos Vinhos Verdes, tal como acontece em Bordéus e Borgonha. Joana Santiago, a primeira mulher à frente da direção da APA – Associação de Produtores de Monção e Melgaço, que recentemente assumiu funções, compromete-se a fazer desde desígnio uma das suas bandeiras.
“Se queremos continuar a afirmar a nossa identidade e diferença é necessário que Monção e Melgaço crie a sua própria categoria, com os nossos valores, logo a nossa DO dentro da DO dos vinhos verdes”, começa por afirmar ao ECO/Local Online a líder da APA. Ter nos rótulos das garrafas a garantia da unicidade e diferenciação deste território minhoto será uma das bandeiras no mandato de Joana Santiago, uma apaixonada pela viticultura desde que trocou a advocacia pelo mundo do vinho e da vinha, um legado que a avó deixou na Quinta de Santiago, em Monção.
“Com a DO Monção e Melgaço queremos garantir que o valor gerado pela região, ao longo de várias décadas, não se perde no tempo. As uvas desta região estão entre as mais caras de Portugal. Este valor diminui assimetrias e mantém as pessoas no território”, destaca a enóloga. Além contribuir para a dinamização da economia local, com criação de emprego e fixação de população, nesta região vitivinícola que tem o Norte de Espanha do outro lado do rio.
Ser DO é a maior distinção que uma região ou território pode receber na identificação dos seus vinhos, enquanto marca que materializa a triangulação do saber humano, com as características de um território — solo, clima e geografia –, e o vinho produzido.
Durante este ano de 2023 e até ao final do mês de outubro, esta sub-região produziu cerca de 6,4 milhões de litros de vinho certificado como Monção e Melgaço, representando mais de 70% do volume de vinho certificado na Região dos Vinhos Verdes com indicação de sub-região, calcula esta responsável. Entre os principais mercados para onde exporta figuram os EUA, o Canadá e os países nórdicos.
Esta é uma das nove sub-regiões da Região Demarcada dos Vinhos Verdes a que se somam Lima, Cávado, Ave, Sousa, Basto, Amarante, Baião e Paiva. Apesar do território Melgaço e Monção ter a casta Alvarinho como ex-líbris, também produz mais duas brancas (Trajadura e Loureiro) e quatro tintas (Alvarelhão, Borraçal, Pedral e Vinhão).
Por tudo isto, esta região minhota já tem provas dadas no setor como marca território. “Monção e Melgaço é a única sub-região em Portugal que tem um selo de garantia exclusivo, um reconhecimento que só foi conferido às regiões demarcadas”. Este selo assegura um posicionamento premium nos mercados externos associado a um terroir diferenciado dentro da região.
Além disso, completa, revisitando o passado, “esta é uma marca território com uma história e valor imaterial que retroage à própria Região dos Vinhos Verdes”. A história fala por si. “Já no século XVII vinhos tintos de Monção eram exportados para Inglaterra por uma feitoria inglesa instalada em Viana do Castelo. Este facto só vem dar consistência à pretensão da criação da DO Monção Melgaço“, argumenta.
Para Joana Santiago, “ser DO é a maior distinção que uma região ou território pode receber na identificação dos seus vinhos, enquanto marca que materializa a triangulação do saber humano, com as características de um território – solo, clima e geografia –, e o vinho produzido”. A enóloga partilha, assim, uma visão comum aos dois ex-presidentes Anselmo Mendes e Miguel Queimado que se associam a esta nova direção, encabeçando as presidências do Conselho Fiscal e da Assembleia Geral, respetivamente.
Afinal o que é preciso para uma região ser DO e quanto tempo demora todo este processo?
Antes de mais, responde Joana Santiago, já existe a vontade dos produtores em certificar os seus vinhos com indicação da sua sub-região. “Depois, há um caminho a percorrer de partilha, negociação e de formalização de um caderno de especificações que deverá ser aprovado pelo Estado português e pela Europa”, resume. O caderno de especificações é o documento que caracteriza uma DO.
Mas há um procedimento a seguir: “A Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) propõe ao Instituto do Vinho e da Vinha (IVV) que, por sua vez, envia para a Comissão Europeia (CE) validar. O tempo que pode demorar é sempre difícil de medir, mas, em termos formais, nunca menos que três anos“.
A propósito do próximo ano que se avizinha, Joana Santiago antevê um 2024 “muito desafiante para o setor, onde a palavra de ordem será sempre continuar a exportar cada vez melhor, crescendo em valor”. Até porque, justifica, “num contexto marcado pelo elevado grau de incerteza geopolítica e política monetária restritiva, a economia portuguesa deverá desacelerar em 2024 ao mesmo tempo que as exportações também diminuirão, fruto de uma conjuntura internacional mais adversa”. Mesmo assim, a enóloga está confiante de que “Portugal tem feito uma afirmação qualitativa incrível no mercado internacional a que deverá dar continuidade, contrariando esta tendência”.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Joana Santiago promete certificar Monção e Melgaço dentro da região dos vinhos verdes
{{ noCommentsLabel }}