“Algarve não tem turismo a mais, tem é outros setores a menos”, diz presidente da Associação Empresarial da região algarvia

Para além do peso do turismo em regiões como a Madeira e Algarve, presidentes das associações empresariais queixam-se das assimetrias regionais e falta de mobilidade interna.

“O Algarve não tem turismo a mais, tem é outros setores a menos e isso é válido para a região e para o conjunto do país”, começa por dizer o presidente da Associação Empresarial da Região do Algarve (NERA), Vítor Neto, na conferência “Pacto Social. Mais economia para todos”, organizada pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP).

Consciente que “o turismo é o setor mais importante da economia do Algarve”, Vítor Neto lamenta que seja “um setor muito subestimado” a nível económico e relembra que é “um dos principais setores económicos do país ao representar 18% do PIB o ano passado”, o que se traduz uma receita de 38 mil milhões de euros a nível nacional”.

Apesar da importância do setor do turismo para a região algarvia, o líder da Associação Empresarial da Região do Algarve realça que o “peso do turismo desequilibrou a situação estrutural da economia de região”, considerando uma “fragilidade” e um “desafio a vencer”.

O peso do turismo desequilibrou a situação estrutural da economia de região.

Vítor Neto

Presidente da Associação Empresarial da Região do Algarve (NERA)

Para o presidente da Associação Empresarial da Região do Algarve, a solução para este desequilíbrio “não passa por ter menos turismo, mas por diversificar a estrutura económica” da região. Sugere a recuperação de outros setores tradicionais como a agricultura e a aposta nas áreas tecnológicas.

O presidente da Associação Comercial e Industrial do Funchal/Câmara de Comércio e Indústria da Madeira (ACIF/CCIM) corrobora a ideia do líder da Associação Empresarial da Região do Algarve e realça que a “dependência do turismo é um desafio muito grande”. “A exportação via turismo seguramente tem um peso cada vez maior e isso terá permitido o nosso crescimento económico”, afirma. No entanto, menciona que a região da “Madeira tem vindo a apostar, cada vez mais, no setor tecnológico”.

O turismo pode alavancar quer as próprias tecnologias, quer o setor do mobiliário, a construção e as áreas premium, inclusive na eficácia energética”, salienta o presidente da Associação Comercial e Industrial do Funchal.

Ao contrário da região do Algarve, o “distrito de Aveiro tem 8.600 empresas praticamente de todos os setores”, avança Fernando Paiva de Castro, presidente da Câmara de Comércio e Indústria do Distrito de Aveiro (AIDA CCI). No entanto, lamenta que Portugal “não consiga ter competitividade entre regiões, entre o litoral e o interior”. Face à assimetria, culpa “as influências políticas e a falta de vontade em reestruturar”. Por fim, termina o discurso ao dizer que “os bebés e os políticos deviam ser mudados com frequência pelo mesmo motivo”.

À semelhança de Aveiro, Leiria é “uma região fortemente exportadora, com indústrias muito diversificadas”, afirma Henrique Carvalho, diretor executivo a Associação Empresarial da Região de Leiria/Câmara de Comércio e Indústria (NERLEI CCI).

Mobilidade interna é um entrave para a competitividade regional

Pedro Fraga, presidente da assembleia geral da Associação Empresarial de Braga (AEB), considera que Portugal tem “claríssimos problemas de coesão territorial”. Exemplifica que um empresário que faça Milão a Roma, que são cerca de 580 quilómetros, vai pagar 44 euros de portagens, de Barcelona a Madrid paga zero, de Valência para Faro paga 57 euros, ou seja, o custo por quilómetro são mais 15%”. Acrescenta ainda que existem regiões no Norte em que os trabalhadores demoram uma hora e meia para fazer 17/18 quilómetros. “Temos problemas seríssimos de mobilidade inter-regional”, remata.

Existem regiões no Norte que os trabalhadores demoram uma hora e meia para fazer 17/18 quilómetros. Temos problemas seríssimos de mobilidade inter-regional.

Pedro Fraga

Presidente da assembleia geral da Associação Empresarial de Braga

De Braga ao Alentejo, a conclusão é a mesma. Rui Espada, presidente do Núcleo Empresarial da Região de Évora (NERE), afirma que a “mobilidade interna da região do Alentejo é limitada” e que isso é claramente um problema para atrair e fixar talento. Lamenta que o “Alentejo represente apenas 6% do PIB nacional”, quando representa um terço do território nacional.

Existe uma disparidade brutal entre o litoral e o interior, seja populacional ou económico. Henrique Carvalho, diretor executivo a Associação Empresarial da Região de Leiria/Câmara de Comércio e Indústria (NERLEI CCI) exemplifica esta assimetria e afirma que a “região de Leiria NUTS III tem cinco concelhos com uma matriz industrial e mais cinco concelhos da região interior quase em desertificação”.

De Portugal às ilhas, Jorge Veiga França, presidente da Associação Comercial e Industrial do Funchal/Câmara de Comércio e Indústria da Madeira (ACIF/CCIM ), é da opinião que a “competitividade regional multiplica o crescimento”.

Por outro lado, na sua intervenção, Mário Fortuna, presidente da Câmara de Comércio e Indústria dos Açores (CCIA), lamenta que os “Açores não têm um único porto considerado com interesse nacional”. Acrescenta que o “Porto das flores foi totalmente destruído há seis oi sete anos e ainda continua destruído.

“Temos um país atrapalhado com processos de coesão e convergência, mas ambos não virtuosos”, conclui Paulo Madruga, associate partner da EY-Parthenon Portugal.

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