“Infelizmente em Portugal temos esta terrível fobia do mérito”, diz Moreira
Durante o primeiro Fórum Porto de Economia, Moreira destacou a "fobia do mérito" e as assimetrias económicas do país.
“Infelizmente em Portugal temos esta terrível fobia do mérito“, mas “deve ser reconhecido, valorizado”, afirmou esta terça-feira Rui Moreira, durante o primeiro Fórum Porto de Economia. “Acho que é um aspeto relevante nas políticas públicas”, que também “deviam contrariar” a existência de um país de assimetrias económicas, considerou o presidente da câmara portuense.
Rui Moreira defendeu ser “importante que na cidade e na região se fale de mérito” e citou como exemplo o caso das “startups do Porto que têm que concorrer no mercado internacional e precisam de reconhecer o mérito dos seus para que eles façam um pouco mais”. Já “numa empresa que vive de fornecer o Estado, o mérito não é assim muito importante, porque no fundo a pouca eficiência acaba por se repercutir e ser paga de qualquer maneira”, apontou à margem do evento, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, que juntou empresários e académicos.
Por isso mesmo, vivemos num país de assimetrias económicas. “Temos quase um país percecionado em três dimensões: um país que vive à volta da capital, uma economia que vive de fornecer serviços ao Estado, uma economia claramente financeira; temos um Norte em que tem cada vez mais uma pujança industrial e que foi capaz de se requalificar; temos depois todo o interior muito desertificado, com enormes capacidades de desenvolvimento, mas que fica à margem do progresso”, sublinhou.
Rui Moreira não tem dúvidas de que esta assimetria “resulta de políticas públicas. Não acontece por acaso ou pelo menos as políticas públicas deviam contrariar esta realidade e pelo meio falta o mérito”.
Durante o discurso de abertura do Fórum Porto de Economia, o autarca independente assegurou que “este executivo, enquanto cá estiver, vai pugnar para que a cidade continue a crescer”. Até porque, sustentou, “uma das grandes apostas da cidade do Porto tem sido atrair e fixar talento, trazer empresas e empreendedorismo, além de trabalhar com a academia e as escolas, no sentido também de ajustar aquilo que é a qualificação dos nossos quadros àquilo que é a realidade percecionada”.
Este executivo, enquanto cá estiver, vai pugnar para que a cidade continue a crescer.
Os números falam por si: desde 2015 a agência InvestPorto já apoiou mais de 475 empresas e investidores com 550 projetos de investimento na cidade, dos quais 59 foram registados em 2023. Os investimentos concretizados com apoio da InvestPorto representam mais de 1,8 mil milhões de euros investidos na cidade e a criação de 22.500 postos de trabalho diretos. Só o investimento direto estrangeiro (IDE) ronda cerca de 65% dos projetos apoiados desde 2015; ano da criação da agência como força motriz para promover e apoiar os investidores na implementação do negócio. Reino Unido, França, EUA, Israel e Alemanha surgem à cabeça dos investidores internacionais de mais de 40 países que fazem negócio na Invicta.
“Há três anos consecutivos que a fDi Intelligence, revista do Financial Times, coloca o Porto no topo das cidades e regiões europeias do futuro”, assinala o edil. O Porto tem, assim, uma mão cheia de trunfos para captar talento e grandes empresas tecnológicas internacionais, como é o caso das “excelentes universidades”, o ecossistema de inovação e o empreendedorismo “dinâmico, competitivo e cosmopolita” que cresceu sustentadamente nos últimos anos.
“A cidade concentra uma em cada cinco startups portuguesas, o que representa uma fatia equivalente a 19% de todo o tecido empreendedor nacional. Além disso, o Porto apresenta um número de startups per capita 20% superior à média europeia”, realçou Rui Moreira, perante uma plateia cheia de empresários, académicos e estudantes.
Ainda assim, o autarca apontou a “burocracia administrativa, o sistema fiscal, os custos de contexto, a instabilidade legislativa, a morosidade na justiça e a lenta execução dos fundos europeus” como entraves ao desenvolvimento económico do país.
Outro dos problemas apontados por Moreira é a falta doutorados nas empresas; atualmente têm uma representatividade na ordem dos 6%. “Com mais doutorados, as empresas têm melhores condições para apostar na inovação e, a partir daí, desenvolver bens e serviços mais competitivos”, defendeu. A somar a tudo isto, destacou, “faltam às empresas interlocutores válidos para dialogarem com os investigadores no âmbito de projetos de I&D”.
A cidade concentra uma em cada cinco startups portuguesas, o que representa uma fatia equivalente a 19% de todo o tecido empreendedor nacional. Além disso, o Porto apresenta um número de startups per capita 20% superior à média europeia.
Mas as “preocupações” não se ficam por aqui, sendo transversais ao tecido empresarial e académico. “Há também dificuldades no que respeita à conjugação de interesses entre universidades e empresas. As rotinas de produção de conhecimento pelas instituições de ensino superior e a própria natureza desse conhecimento nem sempre são consentâneas com as necessidades do tecido produtivo”, apontou. Por isso mesmo, o autarca defendeu o ajustamento da oferta formativa das universidades às necessidades do tecido empresarial. “Isto passa por oferecer aos estudantes currículos mais transdisciplinares e competências tecnológicas diferenciadoras”, explanou.
Neste encontro que juntou empresas, empreendedores, academia e outros agentes, num “momento dedicado ao talento, ao investimento e ao empreendedorismo que protagonizam a dinâmica do tecido económico da cidade”, o autarca destacou ainda que o meio empresarial deve encarar o desafio da inteligência artificial como uma oportunidade e não como ameaça.
Por fim, Rui Moreira enfatizou a necessidade de haver “pessoas mais qualificadas na nossa economia, com competências críticas para o aumento da produtividade e da competitividade das empresas”. E que contribuam com valor acrescentado. Neste aspeto, o Porto está na dianteira. “Tem excelentes universidades e politécnicos, com capacidade para formar capital humano em áreas científicas e tecnológicas de grande potencial”. Aliás, sublinhou, “este potencial humano pode vir a ser incorporado no tecido económico português”.
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