Um carro “made in Portugal” nos Olímpicos, ganhar voz com a IA e insetos à mesa. Os projetos mais inovadores financiados pelo PRR
Perto de 900 empresas e 225 universidades e centros de inovação estão a desenvolver projetos inovadores no âmbito do programa das Agendas Mobilizadoras, que visam aumentar a competitividade.
A inovação subiu ao palco do Europarque, em Santa Maria da Feira, na passada terça-feira. Os consórcios formados por empresas e instituições científicas no âmbito do programa das Agendas Mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) apresentaram os desenvolvimentos alcançados no âmbito dos seus projetos, dos quais vão nascer novos produtos e serviços. Um carro totalmente “made in Portugal” da Toyota, que vai estar nos Jogos Olímpicos, satélites a limpar lixo no Espaço, fios de fibra reciclada ou a proteína hidrolisada no alimento de peixes fazem parte da montra dos projetos mais inovadores desenvolvidos com financiamento do PRR.
As 53 agendas mobilizadoras apoiadas pelo PRR – 31 para a Inovação Empresarial e 22 agendas verdes – juntaram 891 empresas e 225 universidades e recolhem um investimento de 7,7 mil milhões de euros e contam com um incentivo de 2,9 mil milhões de euros. Os projetos, com graus de execução que variam, têm que estar concluídos até 2026 e vão criar 18 mil postos de trabalho, dos quais 11 mil são qualificados, contribuindo para aumentar a produção e competitividade das empresas e aumentar a riqueza nacional.
De Ovar para Paris, APM português foi a estrela em Santa Maria da Feira
Estacionado à entrada do Europarque, em Santa Maria da Feira, o APM (Acessible People Mover, em inglês) produzido pela Salvador Caetano concentrou todas as atenções no 2º Encontro Anual das Agendas Mobilizadoras. Produzidos na fábrica da Toyota Caetano, em Ovar, 250 carros “made in Portugal” vão viajar até Paris, para marcarem presença nos Jogos Olímpicos que vão decorrer entre 26 de julho e 11 de agosto. Este veículo elétrico inclusivo oferecerá transporte acessível, incluindo para pessoas em cadeiras de rodas, e desempenhará funções adicionais, como transporte de mercadorias e veículo de assistência de emergência.
O APM, um dos produtos desenvolvidos pelo consórcio Be.Neutral, liderado pela Nos, é apenas um dos 48 produtos e serviços de mobilidade sustentável integrada criados a partir de Portugal que este consórcio empresarial está a criar para acelerar a redução das emissões de carbono nas cidades.
Empresa de Coimbra ajuda a manter o Espaço limpo
Espera-se que em 2030 haja 100 mil satélites no Espaço. Um número que vai exigir novas ferramentas e novas soluções para resolver os problemas criados por este “trânsito” espacial e evitar colisões, com o lixo no espaço a impedir as operações. A Neuraspace, empresa de Coimbra, criou uma ferramenta que permite detetar com precisão o risco de colisão com lixo espacial a que estão sujeitos os 300 satélites na plataforma da empresa criada por Nuno Sebastião.
A agenda liderada pela Neuraspace, um dos quatro projetos na área da aeronáutica, espaço e turismo, tem ainda como objetivo desenvolver soluções de gestão de tráfego espacial e, assim, facilitar as atividades dos operadores de satélites.
Albertina e o Gervásio põem IA a falar português
Muito provavelmente já utilizou, nem que só uma vez, o ChatGPT. A capacidade destes modelos de linguagem generativa é enorme, mas até agora há uma coisa que não fazem, ou faziam: “falar” português. Mas isso vai mudar.
O projeto Accelerat.ai, liderado pela Defined.ai, quer juntar a língua portuguesa à Inteligência Artificial. Através da Albertina e do Gervásio, o Accelerat.ai vai criar o primeiro grande modelo de Inteligência Artificial generativa para a língua portuguesa.
O objetivo é desenvolver uma tecnologia que permitirá otimizar o atendimento ao cliente, através de sistemas virtuais emparelhados com centros de contacto, como um serviço em português.
Projeto Lusitano quer roupa sustentável
A agenda mobilizadora liderada pela Nau Verde, Projeto Lusitano – Agenda Mobilizadora para a Inovação Empresarial da Indústria Têxtil e do Vestuário de Portugal, promete transformar a indústria, tornando o setor mais sustentável e competitivo. Para isso vai deitar mão à inovação para gerar soluções que reduzam pegada ambiental, através da criação de fios de fibras recicladas e naturais.
O projeto está ainda a recorrer à inovação para criar sistemas inteligentes, alinhados de Indústria 4.0 e Internet das coisas, e de sistemas de tratamento e reaproveitamento de efluentes, para reduzir o consumo de recursos hídricos.
Trazer os insetos para a mesa
O projeto Insectera, liderado pela Ingredient Odyssey, promete trazer os insetos para a alimentação. Esta agenda mobilizadora prevê criar 105 novos produtos derivados de insetos, que vão desde a comida – humana e animal –, à cosmética, bioplásticos e à biorremediação. Com os ensaios a correr, a agenda já está a desenvolver ração e compostos para galinhas e porcos. Os cães foram os primeiros a provar esta nova comida e, segundo os testes, a ração produzida à base de insetos foi a escolhida.
“Cheirar” a resistência a antibióticos
O projeto SMARTGNOSTICS, liderado pela ALS Life Sciences Portugal, está a trabalhar no desenvolvimento de dispositivos que permitirão a identificação rápida e precisa de microorganismos e genes de resistência aos antibióticos, contando para isso com a ajuda da inteligência artificial. Segundo o responsável pela apresentação desta agenda, a resistência dos antibióticos é um problema muito grave, com mais de 700 mil mortes mundiais causadas pela resistência aos antibióticos.
O projeto está a desenvolver três dispositivos, atualmente com um grau de execução de 30%: biosensor (deteção de bactérias e resistências a antibióticos); um nariz artificial (deteção de focos bacteriológicos onde elas não deviam estar, por exemplo infeções hospitalares); e a plataforma SERS (prever onde há resíduos em cargas muito elevadas). Além de tratamentos mais eficazes, o projeto também contribui para a redução do uso indiscriminado de antibióticos, bem como para prevenção de surtos infecciosos.
Recuperar a voz com IA
O Center for Responsible AI, liderado pela Unbabel, vai desenvolver 21 produtos até 2026. Através de uma parceria de 10 startups e sete centros de investigação, esta agenda está a desenvolver produtos com base em inteligência artificial que vão desde o atendimento ao cliente às aplicações médicas.
Segundo Paulo Dimas, CEO da Center for Responsible AI, o projeto está a desenvolver soluções que vão, por exemplo, aumentar a eficiência dos hospitais nas altas médicas, algo muito importante “porque é o momento que o hospital fatura”. Mas o potencial vai bem além disto. Este consórcio criou, por exemplo, um leitor de sinais musculares e um sistema de IA que ajuda pessoas que perderam a capacidade de falar a comunicar mais facilmente, permitindo a estas pessoas “recuperar a voz com IA”.
Um projeto sobre linhas
A agenda Produzir Material Circulante Ferroviário em Portugal, liderado pela SERMEC II, foi criado para produzir material circulante em Portugal. Com um valor total de cerca de 70 milhões de euros, o objetivo deste projeto é revitalizar a ferrovia nacional através da construção de carruagens para a produção de um comboio totalmente português, composto por três carruagens.
Com este investimento, o consórcio quer contribuir para a diversificação da estrutura produtiva e especialização da economia portuguesa. A expectativa é que este comboio chegue aos carris em 2025.
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