BRANDS' Local Online Vasco Morgado: “O Estado deve parar de olhar a cultura como um nicho”

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  • 18 Junho 2024

A freguesia de Santo António tem 3 teatros a funcionar no Parque Mayer, algo visto pela última vez na década de 90. Em entrevista ao ECO Local, o presidente reforça o papel da poder local na cultura.

Nascido entre ensaios e peças de teatro, Vasco Morgado é, além de presidente da Junta de Freguesia de Santo António, um acérrimo defensor da promoção da cultura. Filho dos atores Vasco Morgado Jr e Vera Mónica, o autarca vê com orgulho o facto de ter ajudado a levar um terceiro teatro ao Parque Mayer, que agora conta com a Tenda, o Teatro Maria Vitória e o Cineteatro Capitólio.

Não tem dúvidas de que a cultura, em todas as suas expressões, deve estar ao alcance de todos, um dos motivos que levou a junta que lidera a organizar o ciclo de Conferências ao Parque. A estreia aconteceu a 5 de junho com o tema “Cultura e os Desafios do Poder Local”, que serviu de pontapé de partida para várias sessões sobre temas pertinentes da atualidade. O ECO Local falou com Vasco Morgado sobre a iniciativa, a relação das autarquias com os agentes culturais e o papel do Estado no apoio ao setor.

Cultura e os Desafios do Poder Local foi o tema que deu o pontapé de partida ao ciclo de Conferências ao Parque. Para alguém que, como foi dito durante o evento, caiu no caldeirão da cultura quando era pequeno, qual é a importância de dedicar um dia de reflexão e debate em torno deste tema?

A cultura em Portugal tem sido sempre tratada como um daqueles parentes de quem todos gostamos, mas de quem só nos lembramos quando precisamos de alguma coisa. O tema da cultura deve estar sempre no léxico de todos. Dedicar um dia ao tema com os painéis que conseguimos ter é, sem dúvida, a prova de que o saber não ocupa lugar. É um privilégio ouvir e sentir o pulso a tantos que efetivamente são uma mais-valia para a área, em conjunto com muitos outros que não vieram nesta oportunidade, mas que de certeza marcarão presença nas próximas conferencias sobre o tema.

Como autarca, o que considera que pode e deve ser melhorado na relação do poder local com os agentes culturais?

O que deve e tem que ser efetivamente melhorado são as competências das câmaras municipais e freguesias, pois só com decisão direta e local podemos estar cada vez mais próximos das pessoas e da cultura.

Vasco Morgado, Presidente da Junta de Freguesia de Santo António.
O Parque Mayer não tinha três teatros a funcionar em simultâneo desde a década de 90. Que planos tem para este espaço que apontou como o coração da cultura do país?

Como diz o atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, o Parque Mayer que se quer atual, como uma espécie de Parque Mayer 2.0, tem de ser um local que seja considerado uma “aldeia cultural”. Ao abrir este horizonte, estaremos a potenciar o mercado cultural de forma sustentada e estratégica. Estaremos a preparar o futuro. A formação de profissionais num ambiente de partilha e intercâmbio fomenta a necessidade e o ensejo de conjugar esforços com outras culturas.

Este espaço de ensino renovado é o palco onde poderemos cruzar todas estas diferentes realidades e reencontrar um local onde a internacionalização possa voltar a ser verdade. Quando tempos negros assolam a Europa, permitamos que Lisboa, cidade branca, contribua com a sua melhor nitescência. Queremos um Parque Mayer urbi et orbi, ou seja, para a cidade e para o mundo.

No evento esteve ainda presente o Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Carlos Abreu Amorim, que reforçou o compromisso do Governo para com a cultura e elencou algumas medidas que o executivo pretende fazer avançar. Entre elas, a revisão do estatuto dos profissionais da cultura. O que é, na sua perspetiva de autarca e de alguém muito próximo da cultura portuguesa, essencial que o Estado central faça para apoiar este setor?

Para começar, o Estado deve parar de olhar a cultura como um nicho. Estes últimos anos foram um descalabro, marcados pela separação do “nós” e “eles”. A cultura, seja ela qual for, tem de ser vista como um todo, porque tudo é cultura e quem decide do que gosta é o ser humano por si mesmo – pode ir desde um pintor renascentista até à Revista à Portuguesa ou mesmo uma banda desenhada do Tio Patinhas. O tempo dos educadores do povo já passou há muito. Há espaço para tudo, desde o erudito ao popular. Temos de parar com a cultura do cancelamento higiénico woke porque isso já existiu e tinha um nome: censura! Acho que, por exemplo, a carteira profissional [de artista] devia voltar a existir, assim como a criação de uma “Ordem dos Artistas” para ajudar e defender o setor.

Este ciclo de Conferências no Parque é para continuar. Por que razão é esta uma grande aposta da Junta de Freguesia de Santo António?

Claro que sim! É importante fazer conferências deste tipo, onde o problema é tratado por “tu”, sem dogmas, credos ou politiquice. Os problemas existem, temos de os encarar de frente e dar uma resposta concreta.

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