Fogos causam impacto “tremendo” na animação turística na Madeira. Há 90% dos serviços cancelados

Presidente da Associação Comercial e Industrial do Funchal fala em "tremendo" e "avultado" impacto dos fogos nas atividades de animação turística da Madeira. Há 80 a 90% de cancelamentos registados.

Os fogos que lavram há mais de uma semana na Madeira estão gerar “um impacto tremendo” e a “penalizar” as atividades de animação turística que já registam entre 80 a 90% de cancelamentos dos serviços, apesar de o alojamento turístico manter a normalidade. A garantia é dada ao ECO/Local Online pelo presidente da Associação Comercial e Industrial do Funchal (ACIF), Jorge Veiga França, que diz, para já, não ser possível calcular o valor dos prejuízos.

“O setor que está a ser severamente penalizado, neste momento, é o da animação turística, pois grande parte das nossas atrações turísticas terrestres realiza-se nas zonas montanhosas que foram fortemente fustigadas pelos incêndios”, sublinha o presidente da ACIF em declarações ao ECO/Local Online.

Os incêndios deflagram há dez dias e já destruíram cerca de 5.000 hectares do território da Madeira. Esta sexta-feira, o presidente do Governo Regional deu conta de apenas uma frente ativa, a norte do Pico Ruivo, concelho de Santana. Miguel Albuquerque considerou, por isso, a situação “mais calma”.

Sem, contudo, conseguir avançar com o valor dos prejuízos, uma coisa é certa para Jorge Veiga França: “Temos um impacto grande no setor da animação turística, com cancelamentos avultados nas atividades de animação turística programadas para as nossas serras desde 18 de agosto, sem possibilidade de reagendamento”.

Aliás, detalha, “no que concerne à animação turística os cancelamentos rondam os 80% a 90%, só não sendo mais porque as empresas conseguiram desviar alguns dos programas agendados para locais não atingidos pelos fogos”.

No que concerne à animação turística, os cancelamentos rondam os 80% a 90%, só não sendo mais porque as empresas conseguiram desviar alguns dos programas agendados para locais não atingidos pelos fogo.

Jorge Veiga França

Presidente da Associação Comercial e Industrial do Funchal (ACIF)

“Pela informação recolhida junto dos nossos associados, nesta semana apenas foi possível realizar entre 10% a 20% dos serviços, havendo percursos totalmente devastados [pelos fogos]”, detalhou. Como é o caso, elenca, “do percurso da Trompica, muito utilizado pelos turistas dos navios de cruzeiro para passeios de todo o terreno“.

A somar a estes programas, o setor regista avultados cancelamentos dos passeios pedestres por causa dos incêndios, designadamente “o percurso PR1 Pico do Areeiro que irá estar encerrado por muitos meses, sendo o mais vendido e insubstituível“. Aliás, lamenta, “com a cordilheira central queimada não é possível fazer travessias na ilha, o que tem um impacto tremendo na atividade turística“.

Um dos grandes atrativos para os turistas é igualmente a área de floresta Laurissilva, património mundial natural da UNESCO desde 1999, que está a ser afetada pelas chamas. “Esta é uma das principais atrações turísticas. Se a floresta Laurissilva for destruída [pelo fogo], demorará 180 a 200 anos até recuperar completamente“, alerta, por sua vez, o investigador Jorge Capelo, considerando tratar-se de uma “perda biodiversidade seríssima”.

Com o setor de mãos atadas, o presidente da ACIF acredita que, por enquanto, só resta encontrar alternativas aos programas que estão a ser cancelados por causa do fogo, para o setor sobreviver. “Para já, a palavra de ordem é reinventar, dentro do possível, os serviços”, frisa Jorge Veiga França.

O percurso PR1 Pico do Areeiro, que irá estar encerrado por muitos meses, é o percurso mais vendido e insubstituível.

Jorge Veiga França

Presidente da Associação Comercial e Industrial do Funchal (ACIF)

A associação vai manter-se atenta à situação e “a acompanhar os representantes do setor para obter uma avaliação mais atualizada, após a extinção dos fogos, sobre o impacto no território e percursos mais procurados, de forma a mobilizar todos os recursos para a recuperação do património afetado“.

Neste momento não é, contudo, possível apurar o valor dos prejuízos resultantes dos fogos. “Não temos elementos que nos permitam quantificar, para já, o impacto desta catástrofe“, afirma este responsável. “Há que ter em conta que o impacto económico na atividade turística dependerá do tempo de inoperacionalidade dos percursos, o que ainda não é possível determinar.”

Ainda assim, nota o líder da ACIF, “tendo vido a público que a área ardida ultrapassa já os 5.000 hectares, depreende-se que o impacto no património e consequentemente económico será extremamente avultado“.

Já em relação ao alojamento e à atividade das agências de viagens, a Secretaria Regional de Economia, Turismo e Cultura da Madeira “não perspetiva qualquer impacto económico”, como o ECO noticiou esta sexta-feira. Sob a tutela de Eduardo Jesus, este organismo refere apenas “cancelamentos residuais” e, assegura, que nada têm a ver com os fogos.

Mais do que os incêndios, o maior desafio para as operações turísticas tem sido os condicionamentos no Aeroporto do Funchal, principalmente devido aos limites de vento impostos, que já deveriam ter sido revistos,

Pedro Costa Ferreira

Presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT)

Posição corroborada pelo líder da ACIF: “Por agora, não temos conhecimento de cancelamentos de estadas, mas sim de atividades turísticas na ilha”. Mas há relatos do aumento dos pedidos de informação da parte dos turistas antes de viajarem, receosos com a sua segurança. “Neste momento, tem havido muitos pedidos de informação de clientes com reservas para próximas semanas que estão, naturalmente, apreensivos com estas últimas notícias, o que futuramente poderá, ou não, ditar alguns cancelamentos”.

A situação é confirmada ao ECO/Local Online pelo presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), Pedro Costa Ferreira: “Houve, naturalmente, muitas questões e preocupações levantadas pelos clientes que tinham férias reservadas, assim como pelos operadores internacionais junto às agências de incoming“. Mesmo assim, os clientes não cancelaram as viagens, “continuando as operações a decorrer com normalidade”.

A APAVT também não registou cancelamentos em alojamentos turísticos. “Com base no inquérito realizado aos nossos capítulos de distribuição e de incoming, que reúnem, respetivamente, as agências de viagens retalhistas de outgoing e as agências de viagens de incoming (recetivas), os associados confirmaram que não há cancelamentos para a Madeira, exceto alguns casos pontuais e residuais”, detalha Pedro Costa Ferreira.

Aliás, justifica, “os agentes de viagens são profundos conhecedores do destino turístico Madeira e têm bem a noção de que o foco principal do incêndio está em zonas inacessíveis, quer a residentes quer a turistas, não afetando a essência do produto turístico oferecido, nem a satisfação obtida pela extraordinária experiência que representa passar uns dias de lazer na ilha”.

Para Pedro Costa Ferreira, “mais do que os incêndios, o maior desafio para as operações turísticas tem sido os condicionamentos no Aeroporto do Funchal, principalmente devido aos limites de vento impostos, que já deveriam ter sido revistos”.

Em relação à inoperacionalidade do Aeroporto Internacional da Madeira, este “já está a funcionar em pleno, e as situações de passageiros afetados por voos cancelados têm vindo a ser resolvidas”, avança, por sua vez, o presidente da ACIF. Ventos fortes concionaram a operação no Aeroporto da Madeira.

Para atenuar os constrangimentos inerentes aos frequentes episódios que se verificam, a ACIF sugere como a alternativa a solução “Madeira + 1”, utilizando as infraestruturas e transporte marítimo para o Porto Santo. Aliás, propõe, “a médio/longo prazo, deverá ser equacionada uma maior integração entre os dois aeroportos da RAM, eventualmente com recurso a um ferry mais rápido”.

Dotar um local nas imediações do aeroporto, de equipamento e infraestruturas básicas, para abrigar as pessoas desalojadas em virtude destas situações é outra das sugestões.

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