Portimão vai receber “fábrica” de transformação de águas residuais para aplicação na agricultura

  • ECO
  • 25 Setembro 2024

Unidade demonstradora será implementada na Mexilhoeira Grande em outubro de 2026. Unidade, parte de um projeto europeu de 11 milhões de euros, que aproveitará água do bagaço de azeitona.

O projeto para uma nova unidade demonstradora de transformação e tratamento das águas residuais do bagaço da azeitona, agora na fase de estudo de implementação, vai ser realidade em outubro de 2026. A infraestrutura visa promover novas fontes de abastecimento de água à agricultura e contará com armazéns de instalação e um conjunto de equipamentos destinados a reutilizar água tradicionalmente desperdiçada, designadamente secadores industriais, centrífugas industriais e tanques de aquacultura.

A entrada em funcionamento da totalidade deste empreendimento está prevista para outubro de 2026, anunciou ao ECO/Local Online a associação privada sem fins lucrativos MORE CoLab, responsável por esta unidade demonstradora.

Alexandre Gonçalves, coordenador científico da MORE CoLAB, explicou ao ECO/Local Online que a infraestrutura permitirá a produção de biogás e de energia através das designadas áreas agrovoltaicas. Nestas, os painéis fotovoltaicos convivem com a agricultura, aproveitando o espaço no solo abaixo destes para cultivo. Adicionalmente, surgirá um sistema de aquacultura multitrófica, que consiste na produção de algas e camarões.

A unidade demonstradora, composta por vários subsistemas, ocupará cerca de seis hectares na freguesia de Mexilhoeira Grande, no concelho de Portimão. Esta área incluirá a zona agrovoltaica, lagoa de irrigação, salinas e unidades de tratamento de água e dessalinização.

Vamos tentar otimizar o processo para recuperar o máximo de água possível. Mas a estimativa inicial é que talvez sejamos capazes de recuperar metade. Diria que eventualmente poderemos recuperar para irrigação 350 a 400 litros de água por cada tonelada de bagaço de azeitona

Alexandre Gonçalves

Coordenador científico da MORE CoLAB

No caso do tratamento do bagaço da azeitona, uma parte consiste em “água fitotóxica”, significando que não pode ser utilizada na rega, pelo que exige tratamento, segundo explica Alexandre Gonçalves. O bagaço de azeitona é composto em cerca de 70% por esta água fitotóxica. Os restantes 30% constituem “a fase sólida que será encaminhada para o digestor para produção de biogás (energia) e fertilizantes orgânicos para utilização na agricultura”, esclarece o coordenador científico da MORE CoLAB.

A unidade está inserida no projeto europeu CisWEFE-NEX, ao qual foi alocado um investimento comunitário de 11,5 milhões de euros. Destes, 3,4 milhões de euros são geridos pela MORE CoLAB, responsável por esta unidade demonstradora a erguer em Portimão.

O projeto tem como regiões-piloto o Alentejo, Algarve e Andaluzia, zonas afetadas há vários anos por escassez de pluviosidade. A transformação das águas residuais é apresentada pelos responsáveis da MORECoLAB como um meio de contribuir para a redução do stress hídrico.

“Vamos tentar otimizar o processo para recuperar o máximo de água possível. Mas a estimativa inicial é que talvez sejamos capazes de recuperar metade. Diria que eventualmente poderemos recuperar para irrigação de 350 a 400 litros de água por cada tonelada de bagaço de azeitona”, antevê o coordenador científico.

 

Representação dos subsistemas da fábrica da MORE CoLab

A associação aponta especificamente o Algarve, onde as seis albufeiras da região apresentaram, em maio deste ano, níveis de armazenamento abaixo dos 50%, segundo dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Já o relatório de julho do Observatório da Água no Algarve, da Agência Portuguesa do Ambiente, aponta mesmo para seca extrema e severa, no barlavento e sotavento.

Esta iniciativa conta com a colaboração da Universidade de Aveiro, das CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional) do Alentejo e do Algarve, entre outras. Tem uma duração de 60 meses e conta com 26 parceiros de nove países.

 

Notícia atualizada às 12h30 de 26 de setembro com informações adicionais e citação de Alexandre Gonçalves

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