Capacidade turística na serra algarvia dispara com investimento neerlandês de 175 milhões
Já com aval camarário, o projeto Alma de São Brás adicionará 908 camas a um município que hoje supera em pouco as 1.100. Promotor procura investidor e empresa para exploração de hotel e alojamentos.
A vila de São Brás de Alportel poderá ganhar uma dinâmica turística inédita antes do final da década, decorrente da construção do empreendimento Alma de São Brás. Promovido por investidores neerlandeses, o projeto abrange zona de construção e de contemplação da riqueza paisagística da Serra do Caldeirão. Considerando a vertente hoteleira e a intervenção ao longo de 200 hectares de terreno, a soma envolvida para ativar todas as valências oscilará entre os 125 milhões e os 175 milhões de euros, assegura ao ECO/Local Online o porta-voz da empresa IMP BV, Bart Dura. Este projeto aposta no conceito de hotéis de saúde e bem-estar, ligado a terapias de relaxamento e ioga, e que tem conquistado mercado em diferentes empreendimentos, do Dubai a Montenegro, resume Bart Dura.
Finalizada a construção na Alma de São Brás, o município de São Brás de Alportel quase duplicará a sua atual capacidade hoteleira. Hoje, detém 80 camas de hotelaria e 1.075 de alojamento local, explica a porta-voz da autarquia ao ECO/Local Online. Só o empreendimento da empresa neerlandesa somará 908 camas, das quais mais de um quarto em T1 com 50 metros quadrados dentro de um hotel. As demais repartem-se por apartamentos e villas de tipologia T2 a T5, com áreas de 100 a 200 metros quadrados.
Quando, em 2008, foram desafiados por dois compatriotas neerlandeses residentes em Lagoa, no Algarve, a tornarem-se parceiros num terreno na Serra do Caldeirão, os responsáveis da IMP BV viram a oportunidade de investir em turismo para aproveitar o afluxo de britânicos e nórdicos que então eram atraídos em grande escala pelo Algarve. “Era um projeto turístico único, quando comparado com tudo o resto existente ao longo da costa”, relata.
A crise mundial que se seguiu fez congelar os planos, explica Bart Dura. Em 2011, os dois investidores neerlandeses originais afastam-se e a IMP BV fica única proprietária, mantendo o empreendimento no congelador entre 2011 e 2018, diz o responsável da empresa. No final da década passada, já atento ao novo mapa de turistas que afluem ao Algarve, mais diversificado por nacionalidades do que nos tempos da quase “monocultura” britânica, retomaram um projeto que, reforça Bart Dura “não é turismo de praia, mas mais tranquilo, de natureza e espiritual”.
O promotor procura agora um investidor que pretenda explorar o hotel e o restante empreendimento turístico, mas não faz depender desse capital o arranque dos trabalhos. Apesar de a própria Câmara Municipal de São Brás de Alportel já dado o “aval e apoio inequívocos” à construção – “o maior título de loteamento alguma vez emitido no concelho”, afiança a autarquia –, falta a licença final, destaca Bart Dura, apontando uma realidade em que “existe muita papelada”.
Ultrapassada que seja a etapa burocrática, a construção das infraestruturas e reabilitação do edifício central terão início em 2025, decorrendo depois três anos até ao prazo previsto para conclusão, antevê o investidor neerlandês. Para os responsáveis de São Brás de Alportel, será a conclusão de um “projeto estruturante” e “um alicerce da política de coesão territorial”, na ótica da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) Algarve.
A área do terreno atinge os 200 hectares (2.046.464 metros quadrados), com altitudes entre 225 e 550 metros, dois lagos que ocupam quase 4 mil metros quadrados e cinco mil sobreiros dispersos ao longo da propriedade, a qual é atravessada pela Ribeira de Alportel, indica a empresa promotora, num documento a que o ECO/Local Online teve acesso. Conforme destaca a autarquia, a herdade localiza-se “no sopé da Serra do Caldeirão e nas encostas da Ribeira do Alportel, apenas a quatro quilómetros da vila de São Brás de Alportel”, enquanto “o empreendimento vai ocupar 50 hectares da propriedade e terá uma área de construção nova de 31.500 metros quadrados que vão permitir a capacidade diária de acolhimento de 909 pessoas, colocando-se entre os 10 maiores deste género na Região do Algarve”.
Este projeto não é para um turismo habitual. Se for um turista de Albufeira, não é o nosso tipo de cliente, não será adequado para nós.
O descritivo do projeto aponta um hotel com 120 quartos, 45 apartamentos T2 e T3 e ainda 49 villas de tipologias T4 e T5. A servir o espaço, um restaurante com cozinha inspirada na cultura algarvia e um spa. O edifício central será erguido sobre as ruínas de uma antiga quinta ligada à exploração de cortiça.
Naquela herdade, explica Bart Dura, a praia está a meia hora, o aeroporto a 25 minutos, existem campos de golfe nas imediações para os aficionados e a imersão na natureza está assegurada para os clientes que não encaixam no cliché do turismo algarvio vigente nas ruas de Albufeira. “Este projeto não é para um turismo habitual. Se for um turista de Albufeira, não é o nosso tipo de cliente, não será adequado para nós”, reforça o gestor.
“Vamo-nos focar no turismo de interior, mais orientado para o descanso e a natureza”, explica Bart Dura, dizendo que a Alma de São Brás “é o sítio perfeito para um retiro. Queremos integrar o desenvolvimento na natureza para que os nossos clientes encontrem a paz no seu quotidiano”.
Sem surpresa, a memória descritiva do projeto alude ao “Algarve secreto” e aborda qualidades do local, como “verdadeiro silêncio e pureza do ar, longe da agitação da costa”. Termos como “retiro”, “estado de alma sustentável”, “caráter rural intocado do Algarve”, “experiências enriquecedoras” e “nómadas progressistas” sustentam os valores que a empresa neerlandesa pretende transmitir na promoção do empreendimento. O uso recorrente de cortiça, a promoção de circuitos para caminhadas entre sobreiros e de passeios de bicicleta, e os workshops de trabalhos manuais são alguns dos caminhos para exaltar a noção de sustentabilidade.
Exemplificando com um projeto de grandes dimensões nos Países Baixos, com 130 quartos, 450 apartamentos e um restaurante, cuja data de abertura prevista é o dia 1 de março de 2025, Bart Dura defende a experiência da empresa IMT em construção e imobiliária, contando que já segue na quinta geração ligada à construção. No modelo pretendido para a gestão hoteleira, Bart Dura aponta o exemplo da Six Senses, proprietária de resorts de luxo e turismo de natureza em destinos orientais como a Tailândia e o Vietname, mas também na Turquia e, desde 2015, também Portugal.
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