Ricardo Valente demite-se de vereador da Câmara do Porto e recusa ser candidato em 2025
Responsável da Economia e Finanças sai em janeiro. Vereador dispensa gestão corrente e recusa fazer parte da luta política do movimento de Moreira. Ao ECO, garante que não será candidato a presidente.
O vereador da Economia, Emprego e Empreendedorismo da Câmara Municipal do Porto apresentou a renúncia ao cargo, colocando o lugar à disposição do presidente da autarquia, com efeito imediato. Contudo, confirma Ricardo Valente ao ECO/Local Online, durante a reunião que teve com Rui Moreira no gabinete do presidente, às 17h00 de terça-feira, aceitou o pedido do líder do município para se manter no cargo até janeiro.
Ricardo Valente, que tutela ainda o pelouro das Finanças na autarquia, ao qual também renuncia, diz ao ECO ter sido “sensível aos argumentos para adiar a saída até ao mês de janteiro. Fui sensível perante o meu compromisso com ele [Rui Moreira] e com a cidade. Se é preciso tempo para preparar e fazer a transição, de acordo. Entendi os argumentos, é demonstração de que não estamos em rota de colisão”.
“A saída agora tem a ver com sentimento de trabalho concluído”, diz, enunciando como últimos passos a aprovação do orçamento municipal — “o maior de sempre”, destaca –, o sucesso na linha de financiamento de 220 milhões de euros junto do BEI — “algo que procurávamos há bastante tempo” — e a aprovação do regulamento do alojamento local na passada segunda-feira. “É um final de ciclo”, afirma.
“Não sou uma pessoa com lógica de gestão corrente. Sempre me habituei e estar nas coisas quando faziam sentido”, justifica, defendendo que 2025 será um ano em gestão corrente e com uma “alteração de foco”, que incluirá o “combate político”.
Nesta frente política, o vereador assume desconforto com a manifestação de interesse de membros do movimento criado por Rui Moreira em fazerem parte da corrida eleitoral às autárquicas de 2025.
Não quero estar refém dentro de um executivo com este tipo de questões. Não tenho nada contra, mas não quero estar. Chegamos ao momento em que entramos na luta política, na qual não tenho interesse.
“Não quero estar refém dentro de um executivo com este tipo de questões. Não tenho nada contra, mas não quero estar. Em primeiro porque já não faço parte. Em segundo lugar, o momento é outro, já não sou nem quero ser ator deste tempo. Chegamos ao momento em que entramos na luta política, na qual não tenho interesse”.
Recorde-se que, na sexta-feira, o “Porto o nosso movimento”, grupo independente de cidadãos criado por Rui Moreira, deu o primeiro passo para ir a votos no ato de setembro ou outubro, apesar de já não ter o ainda presidente como líder, já que, por lei, não é possível fazer mais que três mandatos consecutivos à frente de uma autarquia.
Rui Moreira é presidente desde 2013. “Este grupo de cidadãos tem a experiência e a competência necessárias para garantir que este caminho de melhoria e de progresso tem continuidade no tempo”, indicou o “Porto o nosso movimento” na recomendação de candidatura datada de 29 de novembro.
Perante este avanço público, o demissionário vereador da Economia e responsável também pelas Finanças, reconhece que a sua demissão “pode ser associada”, mas assegura: “Tinha na minha cabeça fazê-lo após a aprovação do regulamento do alojamento local, numa reunião que foi adiada de 25 novembro para 2 de dezembro. Pelo meio, acontece a reunião do movimento, do qual não faço parte há dois anos. Não vou negar que tudo o que aconteceu me deixou ainda mais certo, do ponto de vista da minha decisão. Nos próximos tempos, o enfoque muda, e não quero estar parte desse momento”.
“Não serei candidato à Câmara do Porto”
Eleito vereador na candidatura de Luís Filipe Menezes em 2013 e chamado a funções executivas por Rui Moreira em 2016, Ricardo Valente assegura agora ao ECO/Local Online que não será candidato em 2025, apesar da sua ligação à Iniciativa Liberal, mas garante que, depois de analisar as candidaturas que se venham a apresentar, assumirá o apoio a um dos candidatos. Certo, é que não apoiará a IL numa candidatura independente. Se o fará numa coligação, fica por saber.
“Não serei candidato à câmara do Porto. Não estou com essa predisposição neste momento. Sou militante da Iniciativa Liberal, mas de base, não faço parte de nenhum órgão. É certo que a IL ainda nem discutiu, ou se discutiu, não falou comigo, mas não estou disponível para candidaturas independentes da IL, com muito respeito. Não estarei disponível, do mesmo modo que não estarei sem saber quem será o líder. Não passo cheques em branco”.
O endosse de uma candidatura fica, contudo, assumido: “Se me perguntar se, como cidadão do Porto, chegada a altura das eleições, o Ricardo Valente estará do lado de um dos candidatos, obviamente que estarei. Sou cidadão, resido na cidade do Porto, tenho ideias do caminho que a cidade deve seguir. Irei fazer escolhas. A minha participação política não acaba em ser candidato. Não estou minimamente desvinculado do que é o meu pensamento”.
Nada contra o doutor Rui Moreira, bem pelo contrário. Tive sempre toda a liberdade. Divergimos até publicamente. Eu era o único vereador que votava contra, o que ele sempre me permitiu. Em nenhum momento senti constrangimento na atuação nas minhas áreas, e se tivesse sentido que não havia confiança, teria saído.
Esta “não é uma saída em colisão” com Moreira, assegura. “Nada contra o doutor Rui Moreira, bem pelo contrário. Tive sempre toda a liberdade. Divergimos até publicamente. Eu era o único vereador que votava contra, o que ele sempre me permitiu. Em nenhum momento senti constrangimento na atuação nas minhas áreas, e se tivesse sentido que não havia confiança, teria saído. É uma questão de fechar o ciclo. Acho que chegou o momento”.
Ricardo Valente assegura que na reunião de terça-feira, Moreira “foi muito cortês, como sempre”, e acredita que o presidente da Invicta ficou surpreendido, apesar de o vereador “várias vezes ter dado nota do desconforto em relação ao aproximar ao final de ciclo. Foi surpresa. As pessoas conversam, mas chega o momento em da hora da verdade.Foi público desde que viemos de férias. Dei nota da necessidade de aprovar o orçamento municipal, porque já antecipava” estas questão políticas. “Conseguimos um recorde, temos o orçamento aprovado durante o mês de novembro”, destaca.
“Vim gerir áreas estruturantes para a cidade e o trabalho está concluído. A minha saída não prejudica cidade. A política precisa de ser regenerada. Acho que já fiz a minha parte. Abandonei funções privadas, não estou na política porque precisava de emprego. Estou cansado. Neste momento preciso de parar para pensar. Sempre tive vida para além da política”.
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