Assimetrias regionais económicas disparam com separação de Setúbal e Área Metropolitana de Lisboa

Disparidades do PIB per capita agravaram-se de 44 pontos percentuais para para 90 pontos, em 2023. A Grande Lisboa regista o índice mais elevado e a Península de Setúbal mantém o valor mais baixo.

Com a nova geografia territorial, que separou a Península de Setúbal da Área Metropolitana de Lisboa (AML), as assimetrias regionais económicas “atingiram a sua expressão máxima”, conclui o Instituto Nacional de Estatística (INE), num relatório com as contas regionais preliminares para 2023, divulgado esta terça-feira.

“A nova geografia territorial (NUTS2024), que desagrega a anterior Área Metropolitana de Lisboa em Grande Lisboa e Península de Setúbal, regiões que apresentam o maior e o menor índice do PIB per capita conduziu a um agravamento da disparidade regional, que passou de 44 pontos percentuais (p.p.), em 2021, para 87 p.p., em 2022, aumentando para 90 p.p. em 2023“, destaca o gabinete de estatísticas. O PIB per capita mede a quantidade de riqueza produzida num país por habitante. Ou seja, o diferencial entre a Grande Lisboa, região com maior índice de desigualdade (158) e a Península de Setúbal, que tem o menor índice (67,5), subiu para 90 p.p..

O INE recorda que “a nova organização das unidades territoriais para fins estatísticos foi estabelecida pelo Regulamento Delegado (UE) 2023/674 da Comissão, de 26 de dezembro de 2022 […] relativo à instituição de uma Nomenclatura Comum das Unidades Territoriais Estatísticas (NUTS)”. A NUTS2024, que cria as regiões Península de Setúbal, Grande Lisboa e também a de Oeste e Vale do Tejo, passou então a ser obrigatória na transmissão de informação ao Eurostat desde 1 de janeiro de 2024.

Em 2023, e segundo os dados preliminares, a Grande Lisboa (158) continua com o índice de disparidade regional do PIB per capita mais elevado e superior aos números registados em 2022. Segue-se a Região Autónoma da Madeira (108,3) com o segundo maior índice, superior também ao de 2022, e ao do Algarve (108). Já a Península de Setúbal mantém o indicador mais baixo de todas as regiões (67,5) e inferior ao de 2022, aponta o INE.

Fonte: INE

Os dados preliminares de 2023 indiciam assim um aumento da disparidade regional do PIB per capita face a 2022, tendo o índice da Península de Setúbal melhorado em 1,5 pontos, passando de 69 para 67,5, e o da Grande Lisboa piorado em 2,4 p.p. para 158 pontos.

Já em 2022, o INE refere que “as assimetrias do PIB per capita entre as 26 regiões NUTS III atingiram a sua expressão máxima na comparação do índice da Grande Lisboa (155,6) com o da região Tâmega e Sousa (63,5), tal como acontecia em 2021″. O Alentejo era, há dois anos, a região com maior disparidade regional (62,1 p.p.), fruto da assimetria entre os índices do Alentejo Litoral (135,8) e do Alto Alentejo (73,7).

Em termos nominais de PIB per capita, a maior discrepância observa-se entre a Grande Lisboa, onde cada habitante gera em média 31.618 euros anuais, e a Península de Setúbal, com o valor mais baixo (14.714 euros) — as duas regiões que, antes, constituíam a Área Metropolitana de Lisboa.

“A Península de Setúbal, com 7,8% da população residente, origina no seu território apenas 5,5% do PIB, sendo uma das regiões com menor peso de emprego no total da sua população residente (32,5% face a 59,7% da Grande Lisboa)”, assinala o INE. Estes resultados, acrescenta, “são indissociáveis do facto de grande parte dos residentes na Península de Setúbal exercerem a sua atividade profissional na região da Grande Lisboa, obtendo aí grande parte dos seus rendimentos, especificamente remunerações, contribuindo para o PIB desta região”.

Por isso, a desigualdade ao nível dos rendimentos das famílias, que subiu ligeiramente, “é significativamente inferior à do PIB per capita, devido à correção dos movimentos pendulares que existe na afetação do rendimento disponível, fundamentalmente devido às remunerações, que refletem o local de residência e não o local de trabalho”, explica o INE.

Economia cresce mais na Madeira, Açores e Lisboa e estagna no Alentejo

Em 2023, o crescimento real de 2,5% do PIB do país traduziu-se num crescimento económico em todas as regiões, sendo que foi mais prenunciado na Madeira (4,5%), nos Açores (3,4%), no Algarve e na Grande Lisboa (ambas com 3,3%), e na região do Oeste e Vale do Tejo (2,9%), conclui ainda o INE. A região Norte (2,3%), a Península e Setúbal (1,7%) e o Centro (1,4%) apresentaram crescimentos mais moderados, tendo o Alentejo registado o desempenho mais fraco (0,4%).

Fonte: INE

Nas regiões autónomas e no Algarve, “o acréscimo real do PIB, resultou sobretudo do crescimento mais dinâmico do Valor Acrescentado Bruto (VAB) do ramo do comércio, transportes, alojamento e restauração, atividade com relevância na estrutura produtiva destas regiões e fortemente influenciada pela atividade turística, que registou um acréscimo, em volume, de 6,7%, 5,6% e 4,7% respetivamente”, justifica o gabinete de estatísticas.

No caso da Grande Lisboa, o crescimento do PIB beneficiou sobretudo do contributo o desempenho do “VAB dos ramos das atividades de informação e comunicação e dos serviços prestados às empresas, que registaram acréscimos de 6,1% e 6%, respetivamente e, ainda, o crescimento mais moderado do VAB do comércio, transportes, alojamento e restauração e das atividades imobiliárias (ambas com 3,8%)”, acrescenta.

No Oeste e Vale do Tejo, a variação real do PIB foi ligeiramente superior à do país, “beneficiando do crescimento do VAB dos ramos da agricultura, silvicultura e pesca (8,6%) e da indústria e energia (2,0%) ter sido superior ao nacional”.

Na Península de Setúbal e no Alentejo o crescimento mais moderado do PIB resultou, sobretudo, da diminuição da riqueza criada nas áreas da indústria e energia (-1,3% e -3,8%, respetivamente). “O decréscimo do VAB das atividades informação e comunicação (-4,6%) na Península de Setúbal e o das atividades imobiliárias (-2,0%) no Alentejo, também contribuíram para a evolução mais moderada”, justifica o INE.

Na região Centro, o ligeiro crescimento do PIB foi “influenciado pelos ramos do comércio, transportes, alojamento e restauração (0,5%) e dos serviços prestados às empresas (3,5%), com crescimentos inferiores ao do país”, segundo o mesmo relatório.

(Notícia atualizada às 12h11)

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