Beat Therapeutics procura investimento para travar cancros agressivos com planta medicinal moçambicana
"Nesta área estamos sempre à procura de financiamento", desabafa Ângela Carvalho. "No próximo ano, vamos procurar ativamente investimento privado que nos permita escalar o desenvolvimento do composto"
A Beat Therapeutics tem o grande objetivo de transformar o tratamento do cancro, desenvolvendo terapias inovadoras para cancros agressivos. Esta startup, que nasceu de um spin-off da investigação da Universidade do Porto, em 2023, recebeu 75 mil euros do fundo Woman in Tech EU. No cerne de tudo está o composto (BBIT20) extraído de uma planta utilizada na medicina tradicional em Moçambique, a árvore Fruta Sapo.
“Um dos parceiros do projeto é a Universidade Pedagógica de Maputo, em Moçambique”, conta ao ECO Ângela Carvalho. “Colaboram há muitos anos com uma das minhas cofundadoras, a professora Maria José Ferreira, no estudo de plantas medicinais. Esta nova molécula surge como um derivado de um extrato de um produto natural”, explica a presidente executiva da Beat Therapeutics, sublinhando que este estudo já vinha a ser desenvolvido há vários anos.
“O que este nosso candidato a fármaco faz é inibir uma via de reparação do ADN nas células cancerígenas. E como tipicamente estas células já têm alguns erros associados, por causa da própria formação do cancro, ao inibir esta via, seletivamente, mata as células cancerígenas. Existe todo um leque de tumores em que o composto pode ser utilizado. Temos provas de conceito em quatro tipos de tumores, maioritariamente no ovário e no cancro pancreático, cancros com uma elevada densidade terapêutica”, conta Ângela Carvalho, frisando que o projeto ainda está numa fase pré-clínica.
“Neste momento, precisamos terminar todo o percurso pré-clínico, fazer o pack regulamentar, todos os ensaios obrigatórios, escalar a produção da molécula em laboratórios certificados e, após essa conclusão bem-sucedida, avançar para os ensaios clínicos”, acrescenta, frisando que são precisos pelo menos quatro anos para chegar aos ensaios em humanos.
Além de tempo, é preciso dinheiro. “Fomos apoiados pela Portugal Ventures no âmbito da call Inove ID e por alguns projetos europeus, como o EIT Health InnoStars. Foram essenciais para nos permitir ter um tempo de operação que nos permitisse procurar investimento e financiamento adicional e desenvolver alguns ensaios em laboratório para levarmos o projeto até um ponto em que ele se torne atrativo para investimento”, conta a responsável. “No próximo ano, vamos procurar ativamente investimento privado que nos permita escalar o desenvolvimento do composto”, revela.
“Nesta área estamos sempre à procura de financiamento”, desabafa. “Fiz um mapeamento das candidaturas disponíveis e encontrei o programa Woman in Tech EU. Fazia todo o sentido candidatar-nos, porque apoia o desenvolvimento de projetos de deep tech, a área em que estamos”, sublinha.
E como é que se procura investimento? “Depende muito do projeto e da ambição do mesmo”, responde Maria do Céu Carvalho. “Existe uma série de oportunidades no Portugal 2030 para projetos na área da ciência e tecnologia e que nos dá algumas taxas de financiamento bastante interessantes”, diz a partner da KPMG, encarregue da inovação e desenvolvimento e dos incentivos. “Mas, em projetos mais disruptivos temos de ir à Liga dos Campeões na Europa, ou seja diretamente na Comissão Europeia”, afirma perentória.
Veja a entrevista na íntegra:
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Beat Therapeutics procura investimento para travar cancros agressivos com planta medicinal moçambicana
{{ noCommentsLabel }}