BRANDS' Local Online De uma economia sustentável à integração social: os desafios do Porto na próxima década
Na próxima década, a cidade e a região enfrentam um conjunto de desafios económicos e sociais relevantes, em áreas como os transportes, a mobilidade, a transição energética ou questões demográficas.
Para já, são 190, mas os 200 anos da Associação Comercial do Porto estão já ao virar da esquina. Na próxima década, a cidade e a região enfrentam um conjunto de desafios económicos e sociais relevantes, em áreas como os transportes, a mobilidade, a transição energética ou as novas questões demográficas. Para traçar o mapa até 2034, a revista O Tripeiro registou testemunhos de quem conhece o terreno e tem conhecimento para partilhar.
A indústria desempenhou um papel fundamental no crescimento dos principais centros urbanos do país e a região metropolitana do Porto não foi exceção. Ao longo de décadas, a economia regional conheceu uma forte presença da manufatura, com áreas de especialização como a cortiça, têxtil e calçado, metalurgia e metalomecânica.
Após um crescimento exponencial nos últimos anos – interrompido pela pandemia – as exportações de bens na região deram sinal de abrandamento no ano de 2023 e até de recuo em áreas como os têxteis e vestuário, o calçado e produtos de couro, os metais comuns ou o mobiliário. Assim, entre 2022 e 2023, o valor de bens transacionados caiu na ordem dos 116 milhões de euros, ainda que o balanço do intervalo 2011-2023 seja largamente positivo, com um aumento relativo de 68,7% [1].
Markus Kemper, empresário, gestor e presidente da Câmara de Comércio Luso-Alemã (CCILA), “relativiza o abrandamento registado”, mas reconhece que, perante ameaças como a recessão técnica que a Alemanha enfrenta, “a indústria da região Norte se encontra sob pressão”. Na perspetiva do dirigente, para prevenir maiores riscos na próxima década, “torna-se imperativo aproveitar as oportunidades oferecidas pelos fundos europeus à modernização industrial”, assim como à “transição para uma economia mais sustentável”.
O presidente da CCILA – entidade que representa algumas das principais exportadoras nortenhas – aponta também para outros aspetos críticos do desenvolvimento industrial, como a “formação e retenção de talento”, a necessidade de “diversificar mercados e produtos” ou o reforço de “políticas públicas que promovam a inovação e a transição energética”.
O tecido empresarial portuense parece estar a ir ao encontro da necessidade de investir mais recursos em inovação e diversificação, dado que os indicadores disponíveis apontam para um crescimento dessa componente, entre 2019 e 2023, na ordem dos 17% em todas empresas da Área Metropolitana do Porto [AMP][2], ultrapassando pela primeira vez os quatro mil milhões de euros. Kemper vê, também, sinais positivos na resposta que alguns empresários estão a dar à crise do setor automóvel europeu. O gestor assegura que as indústrias que se inserem nesta fileira estão a “explorar novos mercados”, com destaque para a “aeronáutica, defesa e estaleiros navais”, além de estarem também a apostar na “inovação e especialização” para responder às “exigências de segmentos emergentes como a eletromobilidade”.
Olhando para o futuro próximo, o presidente da CCILA considera que o país e a região têm de vencer um conjunto de obstáculos há muito identificados pelos representantes das empresas. A começar pela “burocracia” e a “morosidade processual”, aspetos que “dificultam decisões de investimento e inovação”. Num segundo nível, está o ataque à falta de mão de obra qualificada, área onde vê como ação prioritária o “reforço da formação profissional” e a melhoria dos “mecanismos de recrutamento estrangeiros”. Finalmente, Kemper aponta para a “elevada carga fiscal” existente e para o setor da Justiça, cujo sistema “prejudica a previsibilidade e a segurança” das empresas. “Agir nestas áreas é absolutamente prioritário para que o país se posicione como um destino atrativo para o investimento”, destaca o dirigente.
[1] Fonte: relatório CCDRN – Norte Estrutura Edição Primavera 2024
[2] Fonte: Boletim Económico do Porto 2023
Turismo: caves a Património Mundial
Se há setor que tem marcado a economia regional nos últimos anos é o turismo. A atividade tornou-se central na cidade do Porto, sustentando um conjunto de investimentos públicos e privados em áreas como a reabilitação urbana ou o património, além do reforço da oferta no comércio e serviços.
Após um ano recorde de 2023, o presidente da Associação de Turismo do Porto e Norte (ATPN) aponta para “metas ambiciosas” em 2025, que podem chegar a 14,6 milhões de dormidas e ultrapassar a fasquia dos mil milhões de euros de receitas. É, portanto, possível crescer ainda mais neste setor, de acordo com Luís Pedro Martins, que não nega o impacto da atividade no Centro Histórico do Porto (CHP) – Património Mundial da Humanidade a vários níveis, mas recorda “o contexto” que as zonas ribeirinhas de Porto e Gaia enfrentavam há cerca de duas décadas, onde predominava o “despovoamento” e a “crescente degradação”. “Tínhamos centenas de casas abandonadas, fachadas de prédios em risco, ruas abandonadas a partir do fim da tarde, uma sensação de insegurança sempre presente e pouca atividade económica”, assinala o dirigente, que atribui ao turismo “um papel decisivo na reinvenção e revitalização destas áreas urbanas”.
Além da avaliação positiva, Luís Pedro Martins aponta para o “compromisso” de várias instituições – com o Município do Porto à cabeça – para “gerir de forma sustentável o impacto do turismo na cidade”, reconhecendo que existe um “sentimento de excesso”, mas que este “acontece durante duas semanas no mês de agosto” e se limita à zona do casco antigo portuense. Acresce, na perspetiva do dirigente, o trabalho que a ATPN está a realizar no sentido de que “se diversifique os fluxos turísticos para fora do Porto”, assumindo o desafio de alcançar “um desenvolvimento harmonioso de toda a região”.
Olhando em frente, um dos aspetos que, na perspetiva de Luís Pedro Martins, deve merecer a atenção nos próximos anos é o alargamento da área classificada pela UNESCO às caves do Vinho do Porto. Reconhecendo este núcleo como “um dos maiores símbolos da região”, o dirigente considera que a atribuição do título de Património Mundial às caves “seria um passo importante para assegurar a sua preservação patrimonial e funcional, garantindo que continuam a desempenhar um papel central na promoção do Vinho do Porto, mas também na dinamização turística e económica da região”.
A estratégia que a ATPN tem definida para o futuro próximo baseia-se na qualificação, descentralização e no combate à sazonalidade, alinhando-se pelos mesmos objetivos que o Turismo de Portugal definiu até 2035 e nos quais se incluem “a sustentabilidade, a valorização das comunidades locais e o impacto económico positivo para a região e país”. “O foco”, acrescenta Luís Pedro Martins, “não está no volume, mas no valor que este setor aporta à economia, garantindo um crescimento que seja equilibrado e beneficie todo o território”.
"O Porto é o motor mais visível deste crescimento, mas o nosso trabalho enquanto entidade que promove o Norte está focado em dar a conhecer toda a região”
O dirigente coloca uma grande ênfase na diversificação da oferta, que não apenas reforce “produtos já bem consolidados”, como o turismo de natureza, a gastronomia e o enoturismo, mas permita também que outros projetos se afirmem. “O Porto é o motor mais visível deste crescimento, mas o nosso trabalho enquanto entidade que promove o Norte está focado em dar a conhecer toda a região”, acrescenta Luís Pedro Martins, que sublinha o potencial de vários roteiros emblemáticos, como a Rota dos Vinhos e do Enoturismo ou a Rota do Românico, e antecipa a criação de um novo projeto – designado por As Rotas do Norte – onde serão promovidos estes percursos de forma integrada, valorizando o “património, a arte e a arquitetura” locais.
Por fim, Luís Pedro Martins enaltece o papel que a organização representativa do turismo tem desempenhado no reforço da conetividade aérea, para “estabelecer novas ligações e atrair visitantes de mercados emergentes”. “Também nesta matéria, o ano de 2025 trará excelentes novidades”, antecipa.
Mais e melhor transporte público
Álvaro Costa, especialista em sistemas de transportes e vice-presidente da Associação Comercial do Porto, subscreve a ideia de o Aeroporto Francisco de Sá Carneiro ter uma ambição reforçada no futuro, o que passará forçosamente por uma “intervenção incremental” com mudanças de fundo na infraestrutura.
Entre as alterações que o também professor da Faculdade de Engenharia do Porto (FEUP) gostaria de ver implementadas, está “a relocalização da pista principal para poente da atual”, abrindo espaço à existência de dois taxi-ways, assim como à ampliação do terminal de passageiros e ao aumento do número de posições de parqueamento de aviões, sendo este último “o investimento mais importante a fazer”, de acordo com o especialista.
O Porto, contudo, vai enfrentar um outro desafio de grande escala em termos de transportes na próxima década: a construção da Linha de Alta Velocidade (LAV), que poderá ligar a chamada ‘frente atlântica’ em pouco mais de duas horas, até 2032. Álvaro Costa considera que este projeto “pode diminuir muito os tempos de ligação a destinos importantes como Coimbra, Leiria, Lisboa ou Vigo”, sendo que, no caso da capital, pode ficar “a menos de metade da distância atual” em ligação de comboio.
Mas a questão ferroviária, na perspetiva do consultor de transportes, vai além da LAV – cujas garantias de execução até final da década ainda são escassas. O recurso a este meio de transporte estagnou no seio da AMP nos últimos 30 anos, tendo a sua utilização encurtado para cerca de 1,7% de quota modal, de acordo com o Censos 2021. Para responder a este fenómeno, Álvaro Costa considera que é necessário “aumentar muito a oferta” de comboios e dar resposta a “uma procura latente não correspondida”. Entre os vários investimentos necessários, de acordo com o professor da FEUP, está o reforço das ligações a Viana do Castelo, na linha do Minho; e Régua, na linha do Douro; assim como a reestruturação dos serviços suburbanos, com melhoria do serviço de Guimarães e a integração de Barcelos e Amarante – considerando este último caso como “incompreensível o seu contínuo adiamento”.
Também a ferrovia ligeira – neste caso o projeto do Metro do Porto – terá de alargar a sua resposta e concretizar os planos de expansão previstos para os próximos anos, designadamente a segunda linha de Gondomar e a ligação à Trofa. Além destas, Álvaro Costa entende como necessária a construção de segundas vias em Matosinhos e Maia, além do projeto adiado para o Campo Alegre e a proposta de uma “linha transversal em Vila Nova de Gaia”, que promova a ligação entre as freguesias de Madalena e Vilar do Andorinho, cruzando as linhas Rubi e Amarela.
"Uma rede conectada com autocarros frequentes necessita de uma continuidade de corredores sem destruição do transporte público, mas com um nível de reposta eficaz e abrangente – um género de CAAQ como o da Fernão de Magalhães”
Estes investimentos podem ajudar a inverter a tendência registada na última década, em que o automóvel ganhou espaço ao transporte público, enquanto meio de deslocação preferencial para os movimentos diários da população da AMP, passando de uma quota de 63% para 68%[1]. Na perspetiva de Álvaro Costa, é crucial dotar a rede de pública de “serviços com capacidade, frequência e fiabilidade, necessariamente estruturados em corredores de autocarros de alta qualidade, com teleféricos, travessias fluviais, elevadores e passeios largos para completar as conexões”.
Dando o exemplo das linhas STCP, o professor da FEUP entende que o serviço de autocarros no Grande Porto deveria ser reforçado com “o dobro” dos veículos atuais disponíveis e objeto de outras melhorias para o tornar num meio de transporte “eficaz e concorrencial”. “Uma rede conectada com autocarros frequentes necessita de uma continuidade de corredores sem destruição do transporte público, mas com um nível de reposta eficaz e abrangente – um género de CAAQ como o da Fernão de Magalhães”, especifica Álvaro Costa, acrescentado também a sugestão de ser criado um corredor na VCI e outro na avenida AEP para transporte público rodoviário.
Net zero e a economia circular
Além do impacto social e económico, os transportes serão um fator decisivo para cumprir com a meta da neutralidade carbónica, objetivo que Portugal se comprometeu atingir até 2050 e que a iniciativa Porto Pacto para o Clima prevê antecipar para 2030.
O setor representa cerca de 33% do total de emissões de gases com efeito de estufa na região[1] – 95% das quais são asseguradas por veículos a combustão – sendo, por enquanto, aquele que maior peso relativo assume em toda a cadeia energética e sem dar sinais, nos últimos anos, de grande inversão. Terá, portanto, de ser operada uma verdadeira revolução no domínio da mobilidade para que, tal como defende a Comissão Europeia, dentro de 15 anos, as emissões associadas a meios de transporte sejam reduzidas em 90%.
Para Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde (SPV), a transição energética, entendida como a aposta nas energias renováveis e a eletrificação dos meios de transporte, “é um passo na direção certa”, mas é “insuficiente”. “Precisamos de acelerar”, diz a responsável, apontando para uma visão sobre o desafio ambiental “não apenas como uma jornada tecnológica, mas sobretudo social”.
"Alcançar a meta de redução de 85% das emissões até 2030 exige esforços coordenados em várias áreas”
Neste contexto, a gestão dos resíduos urbanos e o impacto da reciclagem são factos que não podem ser ignorados. “Cada embalagem enviada para reciclagem reduz diretamente a necessidade de matérias-primas”, recorda a CEO da SPV, e diminui “significativamente as emissões de carbono associadas à produção”. “Alcançar a meta de redução de 85% das emissões até 2030 exige esforços coordenados em várias áreas”, acrescenta Ana Trigo Morais.
Apesar dos avanços registados ao nível da gestão de resíduos, aspetos como a recolha seletiva, a valorização e a redução dos desperdícios ainda estão longe do seu potencial máximo. Basta recordar que mais de 30%[2] de todo o lixo recolhido no país é depositado diretamente em aterro, o que leva Ana Trigo Morais a considerar que “ainda há muito a fazer”, “sobretudo ao nível da uniformização do desempenho entre regiões”.
Lembrando que “a reciclagem começa em casa”, a responsável entende que as empresas também “têm de assumir um papel de responsabilidade ativa” nesta matéria, sendo no equilíbrio entre estas duas dimensões “que está a verdadeira mudança”. A responsável defende, por isso, a necessidade de “apostar na educação ambiental” e no “reforço da qualidade de serviço prestado pelos sistemas municipais e intermunicipais de resíduos urbanos”, sendo este “o único caminho para garantir um futuro mais sustentável”.
A líder da SPV recorda, ainda, que “a economia circular é o futuro”, o que vai obrigar a sociedade “a abraçar um modelo onde a reutilização e a redução do consumo de matérias-primas são a regra e não a exceção”. Ana Trigo Morais reconhece que “há um caminho a percorrer por todos”, partindo do conceito de deixar de olhar para a circularidade “como uma exigência externa” e passar a encará-la “como uma oportunidade de inovação, eficiência e crescimento sustentável”. “O setor empresarial começa a perceber que esta é uma questão de competitividade e resiliência”, acrescenta, apontando para a necessidade de “mais incentivos”, “fiscalizações claras” e maior coordenação entre “políticas públicas e iniciativa privada”.
[3] Fonte: INE – Censos 2021
[4] Fonte: Relatório Anual de Energia e Emissões 2020, elaborado pela Agência de Energia do Porto, que inclui 10 dos 17 concelhos da Área Metropolitana
[5] Fonte: Relatório Anual Resíduos Urbanos 2023 – Agência Portuguesa do Ambiente
Sociedade mais plural e intergeracional
A demografia da cidade do Porto mudou substancialmente nos últimos anos. Entre 2013 e 2023, estima-se que a população estrangeira residente tenha crescido mais de 380% e que em toda a Área Metropolitana esse aumento tenha sido na casa dos 300%[1]. Este fenómeno gera tensões sociais evidentes e desafios de integração que, de acordo com o Monsenhor Agostinho Jardim Moreira, terão de ser respondidos de forma “multissetorial”.
"Precisamos de aprender a viver numa sociedade plural, multicultural, multiétnica. Dependemos todos uns dos outros”
Para o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) em Portugal, os problemas que resultam deste novo quadro variam entre as questões de ordem cultural, como a dificuldade de comunicação e as opções religiosas; de ordem formal, como o conhecimento das leis; e de ordem material, como a questão da habitação, o acesso ao trabalho e a mobilidade. “São desafios complexos, que exigem o contributo de todos e requerem a abertura para novas relações e amizades. Precisamos de aprender a viver numa sociedade plural, multicultural, multiétnica”, considera Jardim Moreira, lembrando que “dependemos todos uns dos outros”.
Olhando de forma específica para a habitação, o também pároco de São Nicolau e Vitória entende que “as autarquias têm um papel insubstituível na construção de habitação de renda social ou acessível”, devendo fazê-lo de forma a “evitar ghettos, que geram exclusão e marginalidade” e apostar em “criar espaços livres de encontro, convívio e partilha, onde cada um se sinta respeitado”. Este factor, de resto, é visto pelo responsável como um elemento decisivo na integração de residentes de nacionalidade estrangeira. “Serão os líderes de famílias imigrantes que melhor farão a inclusão e integração dos seus pares”, assinala.
Conhecedor da realidade do Centro Histórico portuense há mais de 50 anos, Agostinho Jardim Moreira também identifica alterações estruturais nesta zona sensível da cidade, onde o turismo trouxe uma “grande renovação do património edificado”, mas ao mesmo tempo representou “perda de população, valores e identidades”. “A presença de desconhecidos, alguns sem dinheiro, outros sem escrúpulos, tem gerado uma insegurança, quer nas ruas, quer em assaltos às habitações e casas de comércio”, reconhece o pároco, que não esconde o facto de a droga ter sido “sempre um flagelo” neste núcleo urbano e que “há a sensação de que a força policial está desmobilizada”. “É público quem são os vendedores a céu aberto e nada acontece”, questiona.
Outro desafio social no centro do Porto são os cidadãos sem abrigo, que apesar de terem diminuído nos últimos anos, continuam a ter uma presença forte nas ruas, sendo a maioria “homens que tiveram de abandonar a família por comportamentos incorretos”, aos quais se somam os dependentes de álcool e estupefacientes, identifica Jardim Moreira. Apontando “várias origens” para este problema, o presidente da EAPN Portugal critica as “políticas assistencialistas”, que promovem “subsidiodependências” em vez de suscitarem “a capacitação e responsabilização das pessoas mais débeis”. “Impõe-se uma renovação estrutural do sistema de valores e organização da sociedade”, defende.
Além dos novos residentes que chegam via imigração, o Porto vive outra transformação demográfica com o crescimento exponencial da população idosa nas últimas décadas – mais de 61 mil pessoas registadas no Censos 2021, num aumento de 56% face aos valores de 1981. A agravar esta trajetória está o facto de mais de metade dos residentes seniores viverem sozinhos, o que coloca problemas sérios para o futuro.
Elísio Costa, coordenador do Centro de Competências em Envelhecimento Ativo e Saudável da Universidade do Porto (Porto4Ageing), lembra que o facto de os idosos viverem sozinhos “não significa necessariamente viver em isolamento”, desde que haja “redes de suporte”. O problema está na “articulação insuficiente entre os setores da saúde e do social” que gera dificuldades “no acesso a cuidados” e no “apoio comunitário”. “É fundamental promover a colaboração entre diferentes organizações do setor público e privado, para cocriar e implementar soluções que assegurem inclusão e bem-estar de forma sustentável”, defende o especialista.
A promoção do envelhecimento ativo será, neste quadro, um dos grandes desafios que a cidade e a região terão de enfrentar. O também professor da Faculdade de Farmácia do Porto defende uma “abordagem integrada” a este fenómeno, que seja capaz de “promover a saúde e prevenir a doença ao longo do ciclo de vida”. Isso implica, entre outras estratégias, criar “programas que incentivem a prática de atividade física, uma alimentação equilibrada e a saúde mental”. Por outro lado, o especialista reitera a necessidade de gerar redes de proximidade, como “iniciativas intergeracionais e vizinhanças solidárias”, que reforcem a socialização e previnam o isolamento, sem descurar a “expansão de serviços de apoio domiciliário integrado”, o “uso de tecnologias de monitorização remota para facilitar a independência dos mais velhos” e a “inclusão digital” que permita o acesso a serviços e uma participação ativa na sociedade.
Este último ponto é particularmente crítico no contexto atual, onde a forte aceleração das tecnologias digitais se torna um factor de exclusão, sobretudo no mundo do trabalho. Elísio Costa reconhece a ameaça e admite que, “para evitar retrocessos”, é necessário ter organizações que invistam na formação contínua e promovam a adaptação dos seus quadros mais experientes às novas tecnologias. O coordenador do Porto4Ageing entende serem “cruciais” as políticas públicas que “incentivem a requalificação, promovam a diversidade etária e estimulem a colaboração intergeracional”. “Assim, em vez de um obstáculo, a transição digital pode ser uma oportunidade para valorizar e integrar os trabalhadores mais velhos no novo paradigma laboral”, conclui.
[6] Fonte: Boletim Económico do Porto 2023
Este artigo foi originalmente publicado no Número 12, 7ª Série, Ano XLIII, da revista O Tripeiro, numa edição especial alusiva aos 190 anos da Associação Comercial do Porto.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
De uma economia sustentável à integração social: os desafios do Porto na próxima década
{{ noCommentsLabel }}