7132 Hotel, um reencontro com a essência em Vals
Entre montanhas que respiram ancestralidade e águas que revelam o sublime, o 7132 Hotel, em Vals, é um convite para regressarmos à nossa essência, neste sítio tão frágil que anda o mundo.
Há moradas no planeta que não se limitam a existir. Elas esperam sempre por quem quer um dia chegar. E de tantas termas que existem no planeta, as de Vals são silenciosamente sublimes. O 7132 Hotel, aninhado numa serena aldeia da Suíça, é uma dessas moradas. Aqui, onde as montanhas parecem sussurrar ao vento e a luz dança sobre o quartzito coberto de neve, encontra-se um santuário de arquitetura, beleza, mas, sobretudo, introspeção.
Mais do que um edifício que se impõe a uma discreta vila montanhosa, o Hotel 7132 é uma obra esculpida em pedra e vidro. Aqui as linhas arquitetónicas ergueram-se para alcançar o som do silêncio e para nos relembrar o que significa verdadeiramente o sentido do presente, nos dois sentidos.
Pensar que este projeto foi criado em 1996 – e continua tão atual – fragiliza qualquer opinião que possamos ter sobre o edifício. E se o tinha em agenda há mais de vinte anos, concebo acreditar que, se o sonho do arquiteto suíço Peter Zumthor era criar o intangível, confirmo a frase de Saramago: “sempre chegamos onde nos esperam”.
Dentro deste mosteiro de água, pedra e luz, ergue-se um coração. Provavelmente o nosso e o do edifício, em osmose, que bate ao ritmo das águas imaculadas: as puríssimas águas de Vals. Mais do que um arquiteto, Zumthor é um contador de histórias e, com mais de sessenta mil blocos de quartzito local, foi moldado um espaço que não apenas visualizamos, mas que sentimos. Que não apenas nos abriga, mas que transforma e resignifica todas as perguntas sem resposta.
Ao entrar nestas termas intemporais, somos envolvidos por um abraço misterioso de um vazio sublime, simplicidade, mas sobretudo grande humildade. A luz natural filtra-se pelas aberturas, criando sombras que dançam pelas paredes contemporâneas, enquanto o som suave da água ecoa como cânticos ancestrais. A pedra contrasta com as temperaturas quentes da água e, num instante, tudo o que não é essencial dissolve-se num abraço que se faz divino e nos dá todas as respostas. Ficamos apenas no momento, com a respiração e um corpo que flutua, leve, como se pertencêssemos à própria montanha.
E se a água cura e a alma descansa em cada espaço aquático das termas de Vals, a ode devolve o homem à natureza. Nesta obra-prima arquitetónica, olhamos para o céu como se este estivesse ao alcance da nossa insignificância, enquanto nas grutas o silêncio torna-se tão tocável que o mundo exterior desaparece. O corpo encontra paz aqui, e sem perguntas o tempo dilui-se numa serenidade que, nestes tempos dicotómicos, se protege de todos os lugares escuros do mundo.
Alcançar a pureza do mundo
Para os que desejam ver o mundo de outra perspetiva, o Hotel 7132 oferece algo que transcende: um voo de helicóptero pelos Alpes. A proposta é clara, visitar um glaciar onde apenas se chega de helicóptero. Do heliporto privado do hotel, um Airbus EC130, é um helicóptero monomotor amplamente utilizado para transportes de passeios turísticos, por a cabine ser espaçosa, confortável e com acabamentos inesperadamente sofisticados.
E se a experiência que não pode ser traduzida em palavras, à medida que o helicóptero se eleva, o mundo parece expandir-se. Glaciares refletem a luz do sol, vales escondidos revelam conhecimentos antigos, e os picos cobertos de neve erguem-se como catedrais naturais. É fácil sentirmos Deus ou sentido do divino nesta experiência. Se o convite para contemplar a grandeza da terra de uma perspetiva que recorda a nossa pequenez e, ao mesmo tempo, o chamamento da nossa conexão com tudo o que nos rodeia, deparamo-nos com o resgate da essência humana.
A missão da viagem é aterrar num glaciar onde apenas podemos chegar de helicóptero em dias de Inverno e, se a opção é respirar um dos ares mais puros do planeta, o convite a deitar-se na neve promete mudança de todas as perspetivas que trazemos das algibeiras escondidas do nosso mundo interior.
Para momentos verdadeiramente únicos, o hotel organiza piqueniques nestas moradas remotas, onde a apoteose se encontra com a simplicidade. Conte com provas ao nível de estrela Michelin em montanhas intocadas, transformando a experiência numa memória onde a beleza efémera do momento sela o inesquecível.
Uma homenagem às montanhas
No Hotel 7132, até a gastronomia é elevada ao sentido do belo. Cada experiência é um tributo ao que é local, sazonal e cuidadosamente selecionado. No restaurante 7132 Silver, galardoado com estrelas Michelin, os chefs criam pratos que contam histórias, numa fusão de tradição e inovação que nos liga às dádivas da terra.
Já no 7132 Red, a descontração oferece uma experiência que celebra a essência dos Alpes de forma mais desprendida. O Blue Bar na entrada do hotel é o refúgio perfeito para terminar o dia, quando a luz suave e a arquitetura a envolver-nos tornam-se o espaço ideal para refletir sobre a elevação que se sente nestas experiências inesquecíveis.
No pequeno-almoço, vai ficar rendido à compota de figos com mostarda, mas, sobretudo, a duas receitas tradicionais: O Birnenbrot, um pão inesquecível em que o interior é uma massa feita com peras e figos; e a Nusstorte, uma tarte viciante feita com nozes, natas, mel e caramelo. Ambos estão disponíveis para levar, no café que também é loja de design e livraria do hotel, a caminho da vila.
Na extensão do sonho
Para descansar, o 7132 Hotel eleva a experiência do sono a uma viagem de pura contemplação. As suites, projetadas por mestres como Kengo Kuma, Thom Mayne e Tadao Ando, são espaços que equilibram o conforto com uma simplicidade monástica. Para os mais intensos há ainda o quarto assinado por Zumthor, mas para mim seria muito encarnado.
As janelas, que se estendem do chão ao teto, convidam a paisagem alpina a entrar, como se cada amanhecer fosse pintado exclusivamente para nós, viajantes do mundo que vêm à procura de algo com sentido, neste mundo que parece colapsar. Os materiais naturais, as linhas suaves e a harmonia entre interior e a paisagem fazem de cada quarto um retiro pessoal onde a palavra luxo – cada vez mais desadequada – se encontra com a serenidade.
O Hotel 7132 não é apenas uma morada de paragem. É o convite para refletir e nos perdermos em experiências que homenageiam o sentido do belo, para reencontrarmos o que é essencial e para descobrirmos que, no meio das montanhas, somos tão vastos quanto o interior que reconstruímos e o horizonte que contemplamos no sentido do futuro.
Aqui, a arquitetura não é apenas um erguer de pedra, mas uma rendição. De tudo aquilo que é abrupto no mundo e que pode escolher o lado sombra, há uma sobreposição da água leve e fluida sobre a falta de veludo e clareza da pedra. E se as termas de Vals são uma experiência que nos transforma, seja nas horas do nascer do sol, seja nas horas em que o SPA abre depois da meia-noite, para escutarmos sem visão o silêncio da montanha, missão é clara. A não-resposta do impercetível é respondida pela existência de um sentido maior do extraordinário, que acaba sempre por nos reencontrar espiritualmente e religar ao essencial.
- Texto de Sancha Trindade, fundadora da marca CURATED, que pode seguir AQUI.
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