JPP mais perto de se tornar o novo partido da Assembleia da República. Filipe Sousa na corrida para as legislativas
Partido madeirense admite viagem para a Assembleia da República em maio. Nas legislativas de há um ano, o PS elegeu dois deputados com menos votos que os arrecadados pelo JPP no domingo.

O Juntos Pelo Povo, partido formado na Madeira em 2014 e presente em eleições legislativas pela primeira vez em 2019, estaria com os dois pés na Assembleia da República se a votação deste domingo nas regionais se replicasse em maio. Ao ECO/Local Online, o fundador e secretário-geral, Élvio Sousa, olha a possibilidade de captar o mesmo número de eleitores a 18 de maio “com reserva”, uma visão conservadora que surge “porque o eleitorado é volátil”, explica. “Se formos eleitos, faremos a defesa intransigente nos círculos pelos quais fomos eleitos”.
Retrocedendo às legislativas de 2024, o partido criado e dirigido por Élvio Sousa ficou a escassas centenas de eleger um deputado na República. Nessa altura não chegou aos 14.500 votos. Nas regionais deste domingo alcançou mais do dobro.

Élvio Sousa admite que “o JPP tem fraca implantação no continente, mas isso deriva do afastamento territorial”. Colocando a prioridade do partido nas eleições autárquicas que decorrerão em setembro ou outubro, o partido irá, contudo, preparar a corrida eleitoral das legislativas em vários círculos do continente e, provavelmente, na Europa e fora da Europa. Lisboa, Porto, Coimbra, Setúbal, Madeira e Açores são círculos com candidatura garantida, diz ao ECO/Local Online.
Mesmo excluindo a eleição nestes distritos, a Madeira será, à partida, a mais provável porta de entrada no parlamento nacional. Élvio Sousa não exclui uma candidatura noutros distritos, mas isso dependerá de uma avaliação a realizar esta semana. O partido já está em contacto com os potenciais cabeças de lista, os quais terão um plano de formação com os princípios que a comissão política irá definir, explica.
A presença do JPP no continente será feita com cartazes, panfletos informativos e contato direto com os cidadãos e o secretário-geral deverá apanhar o avião até ao continente: “Muito provavelmente irei a Lisboa acompanhar o candidato”.

Caso chegue a São Bento e o(s) seu(s) deputado(s) conte(m) para uma solução governativa, o JPP terá latitude para conversar com os dois polos políticos capazes de formar maioria. “Vamos ler os resultados primeiro. É contraproducente fazer essas leituras, primeiro vamos a votos”.
O JPP, assegura, “não é um partido sectário em termos ideológicos. Somos um grupo cívico de cidadãos, 99,9% nunca teve militância partidária”, reforça. Não é o caso do seu irmão e cabeça de lista pela Madeira nas legislativas, Filipe Sousa, que já foi militante e deputado regional pelo PS.
O partido estará disponível para negociar quer com PS quer com PSD na formação de um Governo para a República, assume Élvio Sousa. “Temos de fazer o nosso juízo, ouvindo os órgãos do partido e a vontade da população. A estabilidade é importante. Não podemos andar permanentemente de eleição em eleição”. O posicionamento, à partida, não está à direita nem à esquerda: “Não nos movemos por essas gavetas ideológicas”.
Reduzir a despesa na região é um imperativo de uma qualquer futura negociação, frisa. Só o serviço da dívida mobiliza 600 milhões de euros anualmente, diz. Com a poupança em juros quererá devolver rendimentos aos cidadãos madeirenses.
Temos de fazer o nosso juízo, ouvindo os órgãos do partido e a vontade da população. A estabilidade é importante. Não podemos andar permanentemente de eleição em eleição.
Outros elementos a levar para São Bento são a redução fiscal na Madeira, incluindo uma taxa de IVA especial abaixo dos 10%, e a defesa do princípio da contiguidade territorial do país, colocando as viagens de quem vive nesta região ultraperiférica em igualdade de circunstâncias com qualquer outra parte do continente português.
Para tal, é imprescindível que o Estado não obrigue os madeirenses a pagar do seu bolso as passagens aéreas do Funchal para Lisboa, ficando estes depois dependentes de reembolso, como hoje acontece. “Existe uma grande injustiça nas regiões autónomas quando os cidadãos têm de adiantar 400, 500 euros para viajar até Lisboa. Se um madeirense tiver uma urgência, tem de ter 500 euros para adiantar na compra do bilhete. É uma injustiça”, acentua.

“Corrigir essa situação é uma questão de justiça ou solidariedade nacional”, diz, querendo assim afirmar uma visão nacional destas linhas programáticas. “Essas situações têm que ser afloradas numa perspetiva coletiva, nunca individual ou bairrista”. Relativamente ao Centro Internacional de Negócios, vulgo “zona franca”, mostra-se defensor da sua proteção.
O líder do partido que neste domingo surpreendeu com a elevação a segunda força partidária nas regionais da Madeira, superando o PS, prefere evitar leituras diretas deste ato eleitoral para as legislativas que decorrerão já a 18 de maio, mas, tendo visto o deputado nacional fugir-lhe por escassas centenas de votos no ano passado (quando teve menos de metade do pecúlio deste domingo) admite que o deputado em São Bento está mais perto que nunca.
“O JPP é um partido nacional com forte fundação regional, popular mas não populista”, conta o seu fundador. O partido lidera o segundo maior município madeirense, Santa Cruz, vizinho do Funchal, e onde esta implantado o aeroporto internacional Cristiano Ronaldo.
“Um partido quando governa deixa de ser protesto e passa a ser de consolidação”, define Élvio Sousa. A matriz ideológica é por si descrita como “humanista, centrista e com forte marcação regional”.

O modelo eleitoral em Portugal, método de Hondt, contém variáveis que não permitem leituras lineares dos resultados de anteriores legislativas, mas há ilações possíveis. A distribuição depende, entre outros fatores, da força do partido mais votado, que tem sido, invariavelmente, o PSD. Certo é que o círculo da Madeira tem direito a seis deputados nacionais em cada eleição legislativa.
Nas regionais de domingo, JPP teve 30.094 mil votos. Nas legislativas de 2009, ao CDS bastou metade para eleger o deputado José Manuel Rodrigues para São Bento. Nas últimas legislativas, o Chega conseguiu um mandato em São Bento com 26,3 mil votos e o PS, com menos votos que os conquistados agora pelo JPP, enviou da Madeira para São Bento dois deputados.
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