“A linha de alta velocidade não devia ser a prioridade do país”

Para o município de Pombal, concluir a renovação da linha do Oeste é prioritário. Ali, ambiciona-se pela chegada do ensino superior, e o desporto é hipótese, diz o autarca Pedro Pimpão em entrevista.

Num município liderado pelo PSD desde 1993, Pedro Pimpão chegou aos paços do concelho de Pombal nas eleições de 2021, proveniente de uma junta de freguesia. O também presidente dos autarcas social-democratas assume que gostaria de trocar a construção do comboio de alta velocidade pela modernização das atuais linhas ferroviárias e pelo aumento da cobertura geográfica destas, abrindo uma via rápida de escoamento de mercadorias dos parques industriais, nos quais a autarquia está a somar 80 hectares de superfície.

O município de Pombal está a trabalhar em 80 novos hectares de zona industrial e empresarial ao longo do concelho, num investimento que o autarca Pedro Pimpão diz ser de oito milhões de euros, ainda sem contemplar a fase de obra

Pombal tem uma pegada industrial e empresarial reconhecida. Que ações promove o município para dar condições às empresas?

No diagnóstico e análises de contexto que fizemos, percebemos que a principal dificuldade dos empresários é terem terrenos para fixar empresas, é isso que nos é sinalizado, pelo que temos tido uma postura muito agressiva.

O concelho é grande, mas muito dividido nas parcelas de território. Temos trabalhado muito para aumentar a nossa capacidade instalada e atrair empresas. Em todo o concelho, no final deste ano, vamos ter disponível mais de 80.000 metros quadrados novos para fixar empresas.

Como estão distribuídas as infraestruturas pelo concelho?

Neste momento, vamos ampliar o parque industrial Manuel da Mota, numa fase dois, em 30 hectares, e estamos em fase final de negociação para mais 23 hectares. São 50 hectares novos só aqui na zona privilegiada de Pombal, à saída da A1 e do IC2. Depois, estamos com um investimento na ampliação da Zona Industrial da Guia, na zona Oeste do concelho, de mais de 3 milhões de euros, 21 lotes de terreno, 18 hectares.

Outros nove hectares na Albergaria dos Doze, ponta sul do concelho. Somados, dão 80 hectares. Para além do desenvolvimento em parques empresariais novos. Estamos neste momento numa fase de cadastro do parque empresarial sul e no Parque Empresarial de Sicó. E ainda estamos a trabalhar em dois parques empresariais que temos, para disponibilizarmos novos lotes para fixar empresas

Isso custará quanto à câmara?

Estamos a falar de oito milhões de euros, à vontade, ainda sem a obra.

Estão inseridos no distrito de Leiria, com forte concorrência de Leiria e da Marinha Grande. Como se desenrola a concorrência entre municípios para captação de investimento?

Uma das coisas que estamos a fazer é estruturar uma agenda de desenvolvimento económico e atração de investimento onde estejam as várias áreas de ação. Há a parte fiscal, a do território e outras componentes. Temos várias manifestações de interesse de empresas que se querem fixar no território, algumas que já cá estão e querem expandir os seus negócios.

A Invest Pombal é a nossa agenda de atração de investimento, e vai trabalhar com as várias unidades orgânicas dentro do município para captarmos investimento. Temos o gabinete de apoio ao investidor, que dinamizámos, capacitámos e que tem essa missão de perceber, entre os players no mercado, quais as oportunidades de investimento, e depois fazer a ligação dentro do município para ajudar à concretização desse investimento.

Criámos a via verde para o investimento, no sentido de, internamente, nomeadamente no que concerne ao processo de licenciamento, os nossos serviços perceberem que os investimentos que criam postos de trabalho qualificados e trazem valor para o território devem ter processos de licenciamento mais rápidos.

Estamos em vias de assinar um protocolo com o IAPMEI para termos um espaço empresa, físico, no parque industrial Manuel da Mota, com técnicos do município capacitados pelo IAPMEI, no sentido de ajudarmos os empresários a aproveitar novas oportunidades de financiamento, de programas que existem ao nível nacional e internacional, mas também para ser uma porta aberta para investidores e empresários que queiram investir em Pombal.

A Invest Pombal é a nossa agenda de atração de investimento, e vai trabalhar com as várias unidades orgânicas dentro do município para captarmos investimento. Temos o gabinete de apoio ao investidor, que dinamizámos, capacitámos e que tem essa missão de perceber, entre os players no mercado, quais as oportunidades de investimento, e depois fazer a ligação dentro do município para ajudar à concretização desse investimento.

Que empresas destacaria na economia do concelho?

Bons exemplos temos muitos. No setor agroalimentar, a Derovo, uma empresa de referência a nível nacional na transformação do ovo. Ficou conhecida há uns anos pelos ovos quadrados, e tem uma tecnologia muito inovadora associada a novos produtos derivados do ovo. Com visibilidade nacional e internacional, a Sumol e a Cuétara têm a sua produção em Pombal.

Na metalomecânica, a Gosimac é uma empresa de referência a nível nacional e internacional, fazem componentes para satélites da NASA e têm um trabalho notável, sobretudo em inovação e investigação. Contratam investigadores para fazer trabalho à medida das próprias empresas, e estamos a falar de trabalho internacional.

Temos a Iber-Oleff, maior empregador do concelho, com mais de 600 pessoas. Fazem componentes e trabalham, por exemplo, com a Mercedes.

Para as empresas, as vias de comunicação são essenciais. Há boas autoestradas, mas a linha do Norte está saturada e a do Oeste demora a ter as obras concluídas.

O que tenho defendido na ferrovia é o aproveitamento da linha do Oeste. Percebemos que tem um potencial grande de aproveitamento em termos empresariais e cuja eletrificação está adiada há anos e anos.

No programa operacional do centro do Portugal 2030 tinha alocado um investimento de mais de 60 milhões de euros para eletrificação do troço entre Caldas da Rainha e Pombal – zona do Carriço/Louriçal –, e esse investimento está adiado há anos. Isso é uma pena, não só na mobilidade social das pessoas na zona litoral do nosso concelho, na região, mas também em temos empresariais.

Que lhe parece o comboio de alta velocidade?

Ainda agora estava a referir o investimento fortíssimo que vamos fazer na zona industrial da Guia, no potencial de crescimento naquela zona industrial, e de outras, nomeadamente a plataforma Logística regional no Carriço. Uma plataforma intermodal, perto do porto da Figueira da Foz, logo na saída do IC8, da A17, com ligação à A1 e à linha ferroviária do Oeste, zona estratégica em termos de acessibilidades.

Existem muitas potencialidades, e essa requalificação, eletrificação e modernização da linha ferroviária do Oeste ia dar um bom incentivo ao dinamismo empresarial de toda esta zona litoral do país. Lamento que o investimento não seja feito, devia ser prioritário. A linha de alta velocidade para mim, enquanto autarca, uma ligação Porto-Lisboa, não deveria ser a prioridade no país.

[A] requalificação, eletrificação e modernização da linha ferroviária do Oeste ia dar um bom incentivo ao dinamismo empresarial de toda esta zona litoral do país. Lamento que o investimento não seja feito, devia ser prioritário. A linha de alta velocidade para mim, enquanto autarca, uma ligação Porto-Lisboa, não deveria ser a prioridade no país.

Por outro lado, têm duas autoestradas no concelho, o IC2 e o IC8. Necessitam de algum reforço nesta matéria?

Sendo responsabilidade da Infraestruturas de Portugal – mas nós estamos a acompanhar –, está a ser feita a requalificação do IC2 no troço entre Pombal e Leiria, ambicionado há muitos anos. No município de Pombal, avançámos com a contratação do projeto há vários anos, e agora foi inscrito no PRR.

A obra está para ser consignada dentro de semanas. Estamos a falar de uma obra de 17 milhões de euros numa estrada principal entre as duas cidades, com muitos constrangimentos também, ou seja, com um grau de exigência e dificuldade de obra significativo. Mas é mais um investimento muito importante aqui no nosso território.

Na indústria, há uma área especialmente em foco por estes dias, a da defesa. Pombal tem potencial nessa área?

Se há potencial, há. Por tudo aquilo de que já falámos, pela nossa centralidade, pela dinâmica empresarial e porque – com alguma reserva digo isto – temos algumas empresas a trabalhar já hoje na área da defesa aqui em Pombal. Tecnologia associada à área da defesa.

Armamento?

Não é armamento, mas há-de ser tecnologia associada à área da defesa.

Já em funcionamento?

Algumas empresas já estão a trabalhar nesta área.

Que empresas?

Isso já faz parte do negócio das próprias empresas, não posso mesmo… algumas porque não sei, e outras porque sei que fazem parte dos acordos de privacidade das empresas.

Outro tema do dia é a crise na habitação, acentua-se a necessidade de assegurar condições alojamento para os trabalhadores na hora de atrair investimento. Como está Pombal nesse particular?

Ao nível da habitação, estamos com um mercado de habitação muito dinâmico, com novos prédios a serem construídos. Ainda hoje reunia aqui com um construtor, e apesar de o valor dos imóveis estarem a níveis preocupantes, continua a haver procura.

E habitação pública?

Temos aprovada a estratégia local de habitação, onde indicámos o conjunto de intervenções que queríamos fazer. Aliás, demorou muito tempo a ser assinado o protocolo com o IHRU. Já sinalizámos junto do IHRU vários imóveis que identificámos para afetar a habitação. Neste momento, temos uma candidatura superior a dois milhões de euros para aquisição desses imóveis, para depois destiná-los à habitação, e ainda não temos resposta do IHRU.

Espera há quanto tempo?

Há uns meses. Submetemos a candidatura quando o aviso foi aberto e já fizemos alguma pressão para que isso fosse resolvido. É uma das áreas onde seria importante ter maior agilidade. Para nós fazemos a nossa parte, é bom sabermos com o que podemos contar. E no caso do IHRU, uma resposta o mais rápido possível permite-nos perceber qual é o financiamento que temos efetivo.

Considerando os 15 meses que restam para executar PRR, corre-se o risco de o IHRU inviabilizar o investimento?

A única nesta componente PRR é a residência de estudantes, que é um dos pilares da nossa aposta de ensino superior de forma consolidada. Estava presa por um parecer do IMT, estamos a tentar ultrapassá-lo. Entrámos em contacto com o IMT e já passaram dois ou três meses e continuamos sem poder avançar.

E por que está uma residência de estudantes dependente do Instituto da Mobilidade e dos Transportes?

Está próxima da linha ferroviária e o parecer é vinculativo.

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