
Rendas em alta, espaço em falta: o luxo global e o caso português
O mercado global do retalho de luxo acelerou em 2024, com aumentos nas rendas e novas aberturas. Lisboa destaca-se pela forte procura, mas enfrenta escassez de espaços nas zonas premium.
Num cenário global em constante transformação, o retalho de luxo voltou a afirmar a sua resiliência e capacidade de reinvenção. O mais recente Luxury Report da Savills aponta para uma recuperação vigorosa em 2024, marcada por um aumento de 12% nas inaugurações de novas lojas em todo o mundo, após a desaceleração de 2023. Uma tendência impulsionada pela combinação de fatores estruturais — desde a retoma do turismo internacional à consolidação de novas estratégias omnicanal —, que confirma o retalho físico como pilar incontornável no universo das marcas de prestígio.
Entre os destaques do relatório, a Quinta Avenida, em Nova Iorque, mantém-se como a artéria comercial mais exclusiva do mundo, com rendas prime a atingirem os 26.000€/m². Já na Europa, a Bond Street, em Londres, ascende à liderança, ultrapassando a Via Monte Napoleone, em Milão, com um valor de 15.333€/m², refletindo um crescimento de 20% num só ano. A Madison Avenue, também em Nova Iorque, surge agora no segundo lugar do ranking, num movimento que sublinha a força renovada dos grandes centros urbanos como epicentros do consumo de luxo.

Mas é na Ásia que se regista o ritmo mais acelerado de expansão: a China representou 40% de todas as novas aberturas em 2024, reforçando a sua posição como motor global do setor. A região Ásia-Pacífico (excluindo China) cresceu 52% em número de inaugurações, superando pela primeira vez a América do Norte e a Europa. O Japão, neste panorama, destaca-se como o país mais atrativo para novas lojas, beneficiando de uma procura interna robusta e de um consumidor cada vez mais sofisticado.
Em Portugal, o crescimento não é menos expressivo — embora marcado por constrangimentos estruturais. Em Lisboa e no Porto, a procura por espaços de retalho de luxo continua a superar largamente a oferta, sobretudo nas zonas mais emblemáticas como a Avenida da Liberdade e os Aliados. A falta de espaços disponíveis limita a entrada de novas marcas, mas não esmorece o apetite do setor.
“A Avenida da Liberdade mantém o seu estatuto como o coração do luxo nacional. Há interesse ativo por parte das marcas em expandir ou relocalizar, o que demonstra a atratividade do nosso mercado. A nova oferta prevista para 2027 poderá finalmente responder a essa procura reprimida”, afirma José Galvão, Head of Retail da Savills Portugal.

Com o crescimento da hotelaria de luxo, o aumento do turismo de alto rendimento e uma maior internacionalização das cidades portuguesas, o país afirma-se como um destino estratégico para as marcas de luxo. Lisboa, em particular, prepara-se para dar o salto com a abertura de novos espaços que poderão reposicionar a capital no mapa europeu do retalho premium. O luxo é cada vez mais, uma questão de localização — e de visão.
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