“Há câmaras onde o Chega vai apostar mais fortemente porque reconhecemos que podemos ganhar”

Coordenador autárquico do Chega explica ao ECO/Local Online a estratégia do partido para as autárquicas. Sintra, Olhão, Évora e Nazaré são alguns dos desafios pela frente.

  • Vitorioso nas legislativas em cerca de seis dezenas de concelhos, o Chega parte como a grande incógnita das autárquicas marcadas pelo Governo para 12 de outubro. Entre deputados, militantes, ex-autarcas do PS e PSD e desconhecidos, o partido com apenas sete anos aponta à vitória em vários municípios. Pedro Pinto, número dois do partido e coordenador autárquico, na calha para ser candidato por Faro, conta ao ECO/Local Online o que se pode esperar da campanha. Já na estrada na corrida autárquica, o partido reconhece que legislativas e autárquicas são eleições com distinta adesão dos eleitores, mas parte com a confiança da base já fidelizada, independente de quem é o candidato autárquico.

Rita Matias em Sintra, Marta Silva no Seixal, Rui Paulo Sousa na Amadora, Pedro Frazão em Oeiras, possivelmente Pedro Pinto em Faro, são exemplos de apostas em deputados do partido para as autárquicas. Porquê?

Vamos continuar a apostar também nos nossos deputados, que foram eleitos à Assembleia da República. Foi uma estratégia que o André [Ventura] definiu. Isto tem um motivo muito simples, de dar importância aos concelhos onde esses deputados vão ser candidatos e dar também uma estratégia de proximidade. O deputado, ao ser candidato a um concelho, vai conhecer ainda mais os problemas do concelho, mais a fundo e poderá até defendê-lo a seguir na Assembleia da República.

Um deputado que seja eleito presidente assume a câmara ou fica no Parlamento?

Há uma coisa que é certa, qualquer deputado que ganhe a Câmara Municipal para onde vai ser candidato – alguns vão ser candidatos à Assembleia Municipal também – vai assumir o cargo de presidente da Câmara da cidade.

Não vamos a eleições para enganar as pessoas. Não vamos com uma cara e depois meter outra. Quando ganharmos eleições e quando ganharmos câmaras, se for deputado assumirá o cargo de presidente. Em relação às vereações, assumirão as vereações não estando no executivo. Aí tinham de optar. Mas também são acordos que se podem fazer depois das eleições, é uma cosa que ainda está muito em embrião.

Têm uma estratégia específica para as câmaras onde consideram haver melhor perspetiva de vitória? Em Sintra, o presidente até está de saída, por limite de mandatos.

No caso de Sintra, por exemplo, sabemos que temos uma excelente candidata, muito conhecida na sociedade, com muita visibilidade nas televisões e com o trabalho, mérito próprio, que ela tem feito. Há câmaras onde vamos apostar mais fortemente porque reconhecemos que podemos ganhar. Vai ser uma aposta forte em publicidade, em presenças do presidente do partido, a todos os níveis. Não só em Sintra, mas noutras câmaras. Sintra, particularmente, que é o concelho do presidente André Ventura. É um concelho onde surpreendentemente, para alguns — não para nós, que andávamos na rua e percebíamos isso –, o Chega ganhou. É um bom exemplo de um concelho onde as pessoas sentiam que foram esquecidas pelo poder central, onde sentem que todos os dias se levantam cedo para trabalhar e depois ao lado há minorias que não fazem nada e até gozam com quem vai trabalhar. Sintra é o paradigma do que pode acontecer no resto do país a nível das autarquias. Se me disser “Sintra é mais difícil de ganhar porque é uma das maiores câmaras do país”. Sim, também acho que, sendo das maiores do país, pode ser difícil ganhar, por isso a grande aposta na deputada Rita Matias. É uma belíssima aposta do partido. Depois, ganhar câmaras mais pequenas… uma câmara com dois mil e tal, três mil habitantes, poderá ser mais fácil ganhar, até porque existe mais esse contacto com a população. Agora, Sintra é uma das grandes apostas, não vou dizer que não.

Sintra é o paradigma do que pode acontecer no resto do país a nível das autarquias. Se me disser “Sintra é mais difícil de ganhar porque é uma das maiores câmaras do país”. Sim, também acho que, sendo das maiores do país, pode ser difícil ganhar, por isso a grande aposta na deputada Rita Matias. É uma belíssima aposta do partido.

Depois de, em 2021, apenas terem eleito deputados municipais, 19 em todo o país, que objetivo definiram agora, quatro anos e uma grande vitória legislativa passados, para número de câmaras?

Se o Chega ganhar uma, já é uma grande vitória. Não temos nenhuma (sorriso). Mas, claro, o objetivo não é esse, é crescer, implantar-se a nível autárquico, semear a palavra do Chega por todas as autarquias do país. Quando digo autarquias, digo câmaras, assembleias municipais e freguesias, e espalhar o símbolo do Chega de norte a sul, Açores e Madeira, com milhares de autarcas por todo o país. Temos uma ideia, é aquela que temos seguido, e tem corrido bem, o Chega tem de se implantar a nível autárquico em todo o país. Se nos perguntar se vamos ganhar 60 câmaras, é difícil. O resultado das legislativas é uma coisa, o resultado das autárquicas é outra. Se calhar, até vamos ganhar alguma câmara onde nas legislativas não ficámos à frente. Tudo pode acontecer. Agora, acho que o Chega vai superar as expectativas. Sentimos que pode acontecer. Uma coisa que tenho sentido depois de 18 de maio, nas minhas redes sociais, quando falamos da luta autárquica, são as pessoas a dizer “contem com o meu voto”. Não sabem quem é o candidato, não querem saber do candidato. Significa que o Chega já conseguiu uma margem de pessoas

Fala do voto fidelizado.

Vão votar por fidelidade e por lealdade ao partido. Isso parece-nos que pode ser o que pode fazer grande diferença nas eleições autárquicas. São eleições difíceis, não sabemos o que vai acontecer. Acho que vamos ser a grande surpresa da noite autárquica. Tenho praticamente a certeza.

Qual é o critério para o presidente do partido se juntar a determinados candidatos autárquicos?

Esse critério não está estabelecido. Há uma coisa que sabemos, que o presidente André Ventura tem feito isso desde sempre, em todas as campanhas eleitorais. Vai sempre aos distritos todos. O Chega, para ter esta implementação nacional que tem hoje, tem andado muitos quilómetros, muito esforço físico até da parte dos seus dirigentes, particularmente do presidente do partido. A campanha deve ser feita mais ou menos da mesma maneira. Sabemos que há sítios onde podemos ganhar.

Nesta quarta-feira, André Ventura esteve em Sintra a acompanhar a candidata Rita Matias (foto da conta do partido no Facebook). “Sintra é o paradigma do que pode acontecer no resto do país a nível das autarquias”, diz Pedro Pinto

Quais?

Não vou revelar, mas sei que há sítios onde podemos ganhar, onde temos muita fé. No Algarve temos fé em alguns municípios, no distrito de Beja, de Castelo Branco, de Évora, de Setúbal, de Lisboa… acho que o Chega pode ter uma implantação autárquica um pouco espalhada por todo o país. Vou dar o exemplo da Câmara de Évora. Há a candidatura do Chega, uma candidatura independente, o PSD, o PS e o PCP. São cinco.

A Câmara de Évora pode ser decidida com 23 ou 24%. Nas últimas autárquicas, quem ganhou teve 27% ou 26%, uma coisa assim… Quatro anos depois, com o crescimento do Chega, que teve 7 ou 8%, tudo pode acontecer.

E o presidente, da CDU, está em limite de mandatos, pelo que haverá uma renovação.

Exatamente. A Câmara de Évora pode ser decidida com 23 ou 24%. Nas últimas autárquicas, quem ganhou teve 27% ou 26%, uma coisa assim [CDU 27,4%; PS 26,3%; PSD 19%]… Quatro anos depois, com o crescimento do Chega, que teve 7%, tudo pode acontecer. A Câmara pode ficar ali nos 22, 23 24%. Não sabemos o que vai acontecer, agora, se vamos lutar em todas as frentes, em todas as câmaras para ter o melhor resultado possível? Sim. Que vamos tentar ganhar? Sim. Podemos ganhar de norte a sul do país? Sim. Não há nenhuma câmara que diga “não ganho de certeza”. É um erro. Também ninguém diria que o Chega ia ganhar em 60 municípios nas eleições de 18 de maio. Se disséssemos isto no dia 16 de maio, diriam “estes tipos são malucos”. A verdade é esta. Ganhámos em concelhos que era impensável alguém de direita ganhar. Marinha Grande, Peniche, Nazaré – na Nazaré ganhou o Partido Socialista praticamente a vida toda, é tradicionalmente um concelho socialista, e o Chega ganhou. Temos também uma belíssima candidata à câmara na Nazaré, na Marinha Grande também.

Já alteraram algum candidato após os resultados das legislativas, quando se tornaram segunda força no Parlamento?

Alterámos, mas não porque o candidato era fraco, foram mesmo decisões pessoais. Foram pessoas que acharam que, pela subida que o partido teve, a responsabilidade era muito maior. Foram dois ou três candidatos. Houve uma candidata que engravidou e achou que não iria conseguir fazer a campanha. Tentámos mudar, “uma coisa não tem nada a ver com a outra”, mas ela não se sentiu em condições físicas. Tivemos outro candidato a dizer “ah, a responsabilidade é muito maior agora”. Foram pessoas sensatas. Prefiro que uma pessoa desista agora nesta altura, do que daqui para a frente dizer “não vou conseguir fazer um bom trabalho”. Mas não é o momento de desistir, é o momento de as pessoas estarem unidas e andarem para a frente.

Fizemos um artigo no Local Online em que politólogos, autarcas e ex-autarcas referiram que ganhar uma câmara é diferente de qualquer outra eleição. Aliás, já o referiu antes nesta entrevista. Muitas pessoas falaram-nos da proximidade do candidato como chave. Os candidatos de um partido tão novo conseguem ter proximidade?

Temos seis anos, mas temos muita proximidade com as pessoas. O Chega é um partido que nunca saiu da rua. Em Olhão, onde o Chega ganhou em 2024 e voltámos a ganhar agora, apostamos no Ricardo Moreira, que foi eleito deputado agora e será o candidato à Câmara Municipal de Olhão. O Ricardo todos os dias está na rua. Os olhanenses conhecem o Ricardo do dia-a-dia.

Acredito que o Ricardo vai ter um grande resultado em Olhão. Não sei se chegará para ganhar. Vai haver uma mudança de conjuntura. O presidente da câmara, do Partido Socialista, vai ser candidato a Faro, está no último mandato. Poderá haver ali uma janela de oportunidade para o Chega ganhar as eleições.

É mesmo de Olhão?

É. Já foi candidato em 2021, esteve sempre com aquelas pessoas. Acredito que o Ricardo vai ter um grande resultado em Olhão. Não sei se chegará para ganhar. Vai haver uma mudança de conjuntura. O presidente da câmara, do Partido Socialista, vai ser candidato a Faro, está no último mandato. Poderá haver ali uma janela de oportunidade para o Chega ganhar as eleições. Digo isto em Olhão e no resto do país, as pessoas do Chega andam muito no contacto, as pessoas conhecem-nos, já sabem quem é a estrutura concelhia, a estrutura distrital. Nos 308 municípios? Seria muito hipócrita ou demagógico dizer que sim. Mas na grande parte dos municípios, as pessoas já nos conhecem. As eleições autárquicas são diferentes? São. São eleições onde muitas vezes se vota pela pessoa e não pelo partido. Aquilo que eu acho é que o Chega já conseguiu criar uma base, um pouco como o PSD e o PS, de pessoas que votam mesmo no partido. E o que temos de fazer? Aquelas pessoas, já sabemos que temos garantidas no partido. Temos de procurar os outros votos. E creio que o Chega está no bom caminho.

No seu caso, é de Lisboa, mas foi eleito para o Parlamento pelo círculo do Algarve e já foi falado para candidato em Faro.

Nasci em Lisboa, mas cresci em Vila Franca a minha vida toda. E vivi em Portalegre. E sou eleito pelo Algarve…

Daí a minha pergunta. Porquê o círculo do Algarve? Ou a candidatura a Faro?

Para já, não está confirmado ainda.

O presidente do Chega, André Ventura (2D), acompanhado pelos deputados Rui Paulo Sousa (E), Pedro Pinto e Rita Matias (D), durante uma visita ao comércio tradicional, em Mem Martins, Sintra, 25 de março de 2025. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSAJOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

E quanto ao círculo eleitoral escolhido para as legislativas?

É uma pergunta em que as pessoas têm de perceber que, primeiro, o país é muito pequeno. Segundo, nós, deputados, somos eleitos por distritos, mas estamos a representar quer os nossos distritos, quer também o país. Terceira coisa, sou secretário-geral do partido e conheço o país desde Caminha a Vila Real de Santo António, desde Sagres a Bragança. Porquê o nosso resultado no Algarve? Para além do líder que nós temos, André Ventura, que entrou muito bem no eleitorado do Algarve. Quando fui eleito em 2022, não se falava do Algarve na Assembleia da República. Naqueles dois anos consegui trazer o Algarve muitas vezes à Assembleia, falar dos problemas dos algarvios, o problema do hospital central do Algarve, dos acessos, da falta de habitação, falta de água – agora, toda a gente diz que está tudo bem, quando voltar a não haver água no Algarve, “ai Jesus que estamos a entrar em seca”.

Os algarvios não se deixaram enganar. Reforçaram ainda mais os votos no Chega, penalizaram o Partido Socialista, a AD teve uma ligeira subida. Significa que o nosso trabalho foi bem feito. Eu, por não ser do Algarve, não quer dizer que não saiba quais são os problemas dos algarvios. Às vezes sinto ainda mais os problemas dos algarvios, porque consigo fazer a comparação entre o que se passa no Algarve ou o que se passa no Minho, por exemplo. E percebemos que o Algarve tem um défice brutal, as pessoas lembram-se do Algarve na altura das férias.

Na região, muitos temem a vitória do Chega nas autárquicas.

O voto no Chega foi, no princípio, um voto de revolta daquelas pessoas, a dizer “esqueceram-se de nós, lembram-se de nós três ou quatro meses num ano”. Numa segunda fase, nestas eleições de 18 de Maio, foi grito de revolta também aliado a um projeto político para ganhar eleições. As pessoas perceberam “estes cumprem aquilo que prometem”. É muito fácil metermos o programa eleitoral no papel e depois esquecemos o que ali está. Depois, passa um bocado ao lado. Foi sempre o erro do PS e do PSD.

Qual a quota de mulheres nas candidaturas a presidente?

Temos muitas mulheres candidatas. À Câmara de Condeixa-a-Nova, à Câmara de Reguengos de Monsaraz, temos a Rita Matias à Câmara de Sintra. Tentámos equilibrar, mas sabemos que é difícil. Temos muitas mulheres na política, mas infelizmente ainda não temos muitas mulheres a quererem dar a cara na política, o que é uma coisa curiosa. Quando procuramos ter candidatas mulheres, percebe-se que elas próprias dizem que vão a número dois. Por vezes não querem dar a cara. É uma coisa que temos de mudar na sociedade. Temos também a Anaísa Gonçalves em Tavira, uma boa candidata também. Procuramos muito inserir as mulheres, tentar ter candidatas mulheres. Se conseguirmos ter 30% seria excelente. Tenho algumas dúvidas, mas seria muito bom.

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