Turismo da Madeira atinge valores “históricos” de 55 milhões de euros em junho

Madeira atingiu, em junho de 2022, valores "históricos" com proveitos de quase 55 milhões de euros e 950.000 dormidas nunca antes alcançados na história do turismo da região.

O secretário regional de turismo e cultura do Governo da Madeira, Eduardo Jesus, fala em valores “históricos” no setor turístico com a retoma da economia que acabou por ter um forte impacto no turismo da região, com conquistas até então nunca conseguidas na história das ilhas da Madeira e de Porto Santo. Em entrevista ao ECO, Eduardo Jesus calcula em quase 55 milhões de euros os proveitos e em 950.000 dormidas só no mês de junho deste ano que considera um “recorde”. Assim como o crescimento exponencial de turistas de Portugal Continental que ultrapassaram os alemães e os ingleses que lideravam o Top Five. O mercado nacional ganhou, assim, um peso na atividade turística do arquipélago. É caso para dizer que o turismo na Madeira está bem e recomenda-se.

Assegura ainda que a pandemia foi “uma oportunidade” para o arquipélago crescer no setor turístico e que acabou por entrar em contracorrente com outros países com o selo destino seguro. Com novos desafios em mãos, a julgar pela marca Madeira, o secretário defende que é importante contrariar essa ideia da “fatalidade da praia” em Porto Santo e alargar, por isso, a época estival para atrair mais turistas. Destaca ainda o orçamento anual na ordem dos 15 milhões de euros, provenientes do orçamento regional da Madeira, para a promoção do destino, sem qualquer apoio de fundos comunitários. Os EUA, Brasil, Canadá e a Polónia estão no radar do turismo madeirense.

Qual o impacto da retoma económica no turismo do arquipélago da Madeira?

O governo regional tem feito de tudo para que este grande motor da economia, que é o turismo, deixe um contributo. E isso tem vindo a suceder já desde a pandemia e neste período posterior a fevereiro deste ano. Em junho de 2022, atingimos o recorde de 54,6 milhões de euros; o que é reflexo da grande ocupação que está a ter a nossa oferta hoteleira. Superámos em quase cinco milhões de euros os proveitos de agosto de 2021 – 50 milhões de euros – que já nessa altura pandémica representaram o melhor desempenho que a Madeira alguma vez teve.

Outro recorde foram as quase 950.000 dormidas registadas em junho deste ano, o que é excecional. No mercado nacional voltamos a crescer e o crescimento aqui relativamente às dormidas de 2019 atinge os 81%; o que é, sem dúvida alguma, extraordinário e excecional.

O que acha que contribuiu para este exponencial crescimento?

Para atingirmos um recorde em relação a proveitos não é só a quantidade de noites que se fica na Madeira que contribui, mas também o valor do rendimento de quarto disponível que, em junho de 2022, superou os 72 euros, ou seja, são mais 47% de rendimento de quarto disponível verificado em 2019, antes da pandemia.

Em todos os indicadores, o mês de junho é extraordinariamente bom para o setor e cumpre aqui a função do estímulo económico de toda a região e, ao mesmo tempo, permite às empresas uma aceleração da recuperação daquelas que foram as circunstâncias que a pandemia nos deixou.

Comparativamente a 2019 registaram-se, em junho deste ano, aumentos de 34% nos hóspedes e 23% nas dormidas. Portanto, estamos a crescer a dois dígitos e com percentagens perfeitamente extraordinárias. Outro indicador importante tem a ver com a estada média que volta a crescer, ou seja, estávamos com 4,5 noites e agora registamos 4,7 noites de estada media no território. E isso reflete-se por força da ocupação de cama que, neste momento, atinge 71,5% que duplicou em relação ao ano passado.

O mês de junho é extraordinariamente bom para o setor e cumpre aqui a função do estímulo económico de toda a região e, ao mesmo tempo, permite às empresas uma aceleração da recuperação daquelas que foram as circunstâncias que a pandemia nos deixou.

Eduardo Jesus

Secretário regional de turismo e cultura do Governo da Madeira

A Madeira continua então a ser apetecível para o mercado estrangeiro?

O mercado estrangeiro registou um acréscimo de quase 13% face a 2019. O que é, sem dúvida alguma, a consolidação de uma tendência que é muito boa, porque há aqui uma diversificação de mercados que é conseguida através desta presença internacional.

Com os constrangimentos que foram existindo, fomos procurando sempre uma alternativa: ou fomos para Leste e Báltico ou Nova Iorque, ou insistimos mais no mercado nacional. E chegámos ao mês de março deste ano já com hóspedes superiores a 3%, quando comparado com período homólogo de 2019, antes da pandemia.

Um aumento significativo apesar da paragem da pandemia…

Crescimento de 3% a um ano é excelente. Temos um propósito de, nos meses que não são tão afetados pela pandemia, que vão de março até dezembro, querermos fazer ainda melhor do que antes da pandemia. Mas ainda assim, em 2021, ano em que estávamos sob o efeito pandémico, o mês de agosto foi o melhor de toda a história do turismo da Madeira que tem mais de 200 anos.

Foi um momento especial, porque estávamos ainda sob o constrangimento pandémico e conseguimos atingir esse recorde em todo o setor turístico, desde hotelaria, passando pela restauração, transferes, etc. Nunca tínhamos tocado os 50 milhões de euros num mês e, em 200 anos de turismo na Madeira que inclui Porto Santo, atingimos esse valor nesse mês de agosto de 2021.

Junho de 2022. Fonte: Direção Regional de Estatística da Madeira (DREM)

Nunca tínhamos tocado os 50 milhões de euros num mês e, em 200 anos de turismo na Madeira que inclui Porto Santo, atingimos esse valor nesse mês de agosto de 2021.

Eduardo Jesus

Secretário regional de turismo e cultura do Governo da Madeira

A pandemia acabou por não prejudicar severamente o arquipélago.

A pandemia foi uma oportunidade que quisemos agarrar e pelos resultados não nos saímos mal.

Quais são os países que mais se posicionam em termos turísticos?

Portugal Continental, Inglaterra, Alemanha, França e Polónia. Os portugueses são, neste momento, os mais relevantes, porque têm 26% da nossa cota de hóspedes, que era uma coisa que não acontecia. Eram inferiores a Inglaterra e Alemanha que eram os maiores, cada um deles com 20%. Mas Portugal ultrapassou esses dois países.

E agora como está a correr a retoma económica?

A festa da flor, em maio deste ano, foi excelente como nunca se viu. As pessoas estão desejosas por sair de casa, e chegou a muita gente a mensagem de sermos um destino seguro. Tivemos 60 mil pessoas no dia do cortejo da festa da flor, na Madeira, o que é um recorde; um número nunca experimentado, mesmo antes da pandemia.

A Madeira andou em contracorrente com o resto do país em termos de turismo durante o ano de 2021?

Sim. O aeroporto da Madeira foi o que registou menos quebra a nível nacional. Fomos o aeroporto que menos perdeu.

A ilha de Porto Santo também registou uma subida de estadias?

Montámos uma operação durante o verão do ano passado, com voos regulares e conseguimos bater o recorde da presença no Porto Santo na época estival. O que em muito também contribuiu o facto de termos alargado o período de verão, uma vez que começou em maio e terminou em meados de outubro. Este ano já começámos em abril para terminar no final de outubro, ou seja, estamos a esbater a sazonalidade de Porto Santo, aumentando a estação de verão. Como estamos a fazer isto? Estamos a colocar eventos de grande notoriedade no Porto Santo para atrair a operação e fazer permanecer as pessoas mais tempo.

Tivemos 60 mil pessoas no dia do cortejo da festa da flor, na Madeira, o que é um recorde; um número nunca experimentado, mesmo antes da pandemia.

Eduardo Jesus

Secretário regional de turismo e cultura do Governo da Madeira

O que explica o aumento de turistas do Continente?

Há varias razões: primeiro houve uma aposta clara da Madeira no mercado nacional, porque conseguimos, através de parcerias com a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que a Madeira fosse o destino preferido em 2020 e 2021 e a APAVT. O que dinamizou a presença do mercado nacional, na Madeira. Um segundo aspeto tem a ver com o facto de as pessoas de Portugal Continental quererem fazer férias num sítio que lhes garantisse confiança por causa da pandemia. Montámos aqui uma operação de controlo de pandemia muito forte, mas que não era invasiva do turismo, e que foi determinante para reconquistar a confiança do viajante que tinha sido abalada pela pandemia.

A proximidade da Madeira a Portugal Continental – uma viagem de uma hora e meia – é outra razão. Fizemos uma campanha, na altura que se chamava “Madeira, o Portugal Tropical”, apelando à substituição de viagens para destinos tropicais ou subtropicais que, em regra demoram muitas horas para lá chegar, por uma ilha que é portuguesa, que tem essas características e as experiências são também num ambiente nacional. E isso funcionou muito bem como mercado Top e houve uma correspondência no mercado na medida do que pretendíamos.

Junho de 2022. Fonte: Direção Regional de Estatística da Madeira (DREM)

Mas conquistaram outros mercados além do nacional.

O que é curioso no meio disto tudo é a nossa aposta nos mercados de Leste e do Báltico que serviram de diversificação de origem de mercado para nós. Só no ano passado, representaram cerca de 8% da nossa atividade turística.

Apostámos fortemente na ligação aos EUA e foi a primeira vez que a Madeira teve uma ligação direta de Nova Iorque desde novembro. Foi um produto trabalhado desde o início, porque o mercado americano tem características próprias e levou-nos a um esforço e investimento grande, mas trouxe, em simultâneo, uma enorme satisfação. Já está no nosso radar para ser retomada em outubro, porque nos meses de verão não vale a pena, uma vez que a preferência do mercado americano, de acordo com os estudos que encomendamos para esse efeito, não justificava manter a ligação.

A guerra na Ucrânia trouxe quebras no turismo.

Perdemos duas operações com 14.000 lugares: uma com a Ucrânia e outra ligação com Moscovo, com 7.000 lugares cada. No entanto, a Polónia, que é país vizinho, está no Top 5 da Madeira e continua a trazer cada vez mais passageiros.

Quantas camas têm a Madeira e o Porto Santo a nível de dormidas?

A madeira tem 32.000 camas na hotelaria e 20 mil camas de alojamento local, ou sejam 52.000 camas. Já o Porto Santo tem 4.000 mil camas, das 3.100 são de hotelaria e 900 de alojamento local. É mais fácil encher o Porto Santo, mas tem a particularidade de ser bastante mais sazonal, porque como destino de praia é mais apetecido no verão.

Temos tentado contrariar essa fatalidade da praia através dos países nórdicos que, durante o inverno, encontram um bom clima e um nível de vida, em Porto Santo, mesmo sem praia, muito mais acessível do que nos países de origem. Temos, por exemplo, duas operações como as cidades de Billund e Copenhaga, na Dinamarca, que funcionam durante todo o inverno e garantiram, durante o período pandémico, que o campo de golfe de Porto Santo fosse o do país com mais voltas diárias. São pessoas que vêm para jogar golfe.

Junho de 2022. Fonte: Direção Regional de Estatística da Madeira (DREM)

 

Relativamente a projetos futuros, qual a estratégia a adotar?

Temos uma estratégia para vigorar, entre 2022 e 2027, que foi aprovada este ano, nomeadamente iniciámos o processo de certificação do destino em termos da sustentabilidade económica, ambiental e social. Estamos a apontar ter no final deste ano. Não envolve só o setor do turismo, mas toda a comunidade. Gostaríamos de retomar, depois desta normalidade, a aposta que tínhamos para o ano de 2020 e que teve de ser adiada que era o reforço do mercado do Brasil, a operação do Canadá e dar continuidade aos EUA, porque era esse o propósito, mas foi conseguido o ano passado.

A estratégia define a nossa visão para este período, o que são os nossos objetivos em termos do setor turístico e já a questão orçamental reflete-se na promoção do destino. Temos um orçamento anual de 15 milhões de euros, provenientes do orçamento regional da Madeira, destinado à promoção desde campanhas digitais, outras em outdoors ou presença em feiras. Não temos nenhuma receita comunitária para a promoção.

Qual é a mais-valia do certificado de sustentabilidade?

Os viajantes têm cada vez mais esse requisito na cabeça, ou seja, existe uma preocupação generalizada que atende ao equilíbrio ambiental e à preocupação de fazer férias com a menor pegada ambiental possível e contribuir, de alguma forma, mesmo que em lazer, para o benefício de todo o planeta. Ao termos uma certificação estamos a testar que a Madeira tem esse tipo de preocupação, práticas e que segue recomendações, além de ter orientações próprias e que é reconhecida nesse sistema que montou. Passa a ser mais um selo que vamos utilizar na comunicação.

Um selo de certificação à semelhança do que usaram contra riscos biológicos, durante a pandemia.

Fomos a única região de turismo com certificação da Madeira contra os riscos biológicos. Começou pelo facto de termos sido pioneiros a desenhar um manual de boas práticas para o setor lidar com a pandemia e logo de seguida transformou-se na possibilidade de uma certificação internacional. Essa mensagem foi fundamental para o reforço do posicionamento da Madeira como destino seguro, neste caso em relação aos riscos biológicos. E as pessoas sabiam quando cá chegavam que descarregavam a aplicação que desenvolvemos chamada Safe Covid.

A nova marca da Madeira tem sido frutífera?

Temos também a nova marca da Madeira, resultante de um trabalho sociológico que envolveu a população, os profissionais, os operadores para percebermos o que é a Madeira e como a poderíamos traduzir numa marca. O resultado foi um sentimento de pertença e de inclusão e, acima de tudo, uma ligação emocional ao destino. O que pretendemos com esta marca é que cada uma das pessoas que venha visitar a Madeira a leve no coração e memória, e possa associar à Madeira boas experiências que aqui viveu e, por consequência, conquistarmos a fidelização ao nosso mercado.

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