Contabilidade para um mundo melhor

  • Marta Almeida e Garry Carnegie
  • 2 Outubro 2025

É crucial para o futuro da profissão desempenhar um papel fundamental na resposta às grandes questões da sociedade e na resolução dos seus problemas complexos.

Já pensou no papel da contabilidade em tornar o mundo melhor? Nos últimos cinco anos, surgiu uma nova definição de contabilidade que descreve a contabilidade como multidimensional, de acordo com a sua essência, nas organizações, nas comunidades e na sociedade. Proposta por Carnegie, Parker e Tsahuridu (CPT), esta definição diz que “a contabilidade é uma prática técnica, social e moral que visa a utilização sustentável dos recursos e a devida responsabilização perante as partes interessadas, de forma a permitir o florescimento das organizações, das pessoas e da natureza”.

A contabilidade, de facto, é fundamental para moldar um mundo melhor, mas ainda não atingiu todo o seu potencial para possibilitar ativamente a melhoria do mundo. A contabilidade não se resume a fazer contabilidade. Não é, portanto, uma mera prática técnica, neutra e benigna. Tanto os contabilistas como os não contabilistas, incluindo os executivos e os gestores das empresas, necessitam de compreender os efeitos da contabilidade no mundo, nas organizações, nas pessoas e na natureza.

É crucial para o futuro da profissão desempenhar um papel fundamental na resposta às grandes questões da sociedade e na resolução dos seus problemas complexos, também designados por wicked problems, como por exemplo a crise climática, pandemias, sustentabilidade, direitos humanos, pobreza e desigualdade, opressão e guerra, fome e insegurança alimentar, abastecimento e gestão de água, movimentos globais de refugiados, prestação de serviços de saúde e habitação, habitat e biodiversidade, corrupção e responsabilização governamental, disponibilidade e acessibilidade à educação. A contabilidade precisa de ser parte da solução, e não parte do problema.

A aplicação da definição CPT traz-nos a um modelo de seis perguntas que devem ser respondidas com cuidado:

  • Prática técnica: Como fazemos contabilidade? Que convenções determinam o que a contabilidade falha em fazer?
  • Prática social: O que faz a contabilidade? Quais os impactos da contabilidade no mundo
  • Prática moral: O que deve fazer a contabilidade? O que é que a contabilidade não deve fazer?

Ao estudar contabilidade, deve ser tido em conta os contextos sociais e organizacionais em que opera. Pense em todos os indicadores-chave de desempenho (KPIs) do mundo. São concebidos para desafiar o comportamento, cada um com as suas próprias consequências.

Seja a favor ou resistente à mudança, a contabilidade tem consequências para o comportamento humano, para moldar culturas organizacionais e para condicionar a forma como nós, humanos, pensamos e agimos. Nós, humanos, também precisamos de conservar, preservar e proteger as espécies não humanas. Daí importa refletir sobre como a informação contabilística que produzimos e usamos para a tomada de decisão impacta – ou ignora – os impactos na sociedade e na natureza.

Para uma educação abrangente em contabilidade é, por isso, essencial estudar a sua natureza, o seu papel, a sua utilização e impacto (i.e., efeitos, intencionais ou não). Os atuais e futuros contabilistas são encorajados a oferecer à sociedade mais do que uma mentalidade contabilística técnica – e aparentemente “correta” -, oferece. Os profissionais de contabilidade do futuro são, portanto, ativamente encorajados não só a servir o interesse público, mas também o interesse do Planeta.

A contabilidade e os contabilistas podem, portanto, tornar-se líderes na promoção do florescimento das organizações, das pessoas e da natureza.

  • Marta Almeida
  • Professora Auxiliar na Nova School of Business and Economics
  • Garry Carnegie
  • Professor Emérito na Universidade RMIT

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