Formar para além do diploma: uma responsabilidade incontornável do Ensino Superior

  • José Luís Silva
  • 9 Dezembro 2025

Se queremos uma sociedade preparada para os desafios do futuro, precisamos de um Ensino Superior que continue a formar pessoas completas: competentes, conscientes, colaborativas e criativas.

Vivemos uma época marcada por mudanças constantes e aceleradas. A tecnologia transforma o nosso quotidiano a uma velocidade impressionante e a inteligência artificial (IA) desperta tanto expectativas como receios. Por vezes, somos levados a acreditar que, num futuro próximo, delegaremos o pensamento e a tomada de decisões a sistemas automáticos, dispensando o saber humano. Em simultâneo, as redes sociais promovem uma ilusão de sucesso imediato, desprovido de esforço, de resiliência e, sobretudo, de conhecimento. Nada podia estar mais distante da realidade. O sucesso continua a exigir perseverança, compromisso e, acima de tudo, aprendizagem contínua.

É precisamente por isso que o Ensino Superior mantém um papel essencial na capacitação dos cidadãos. Para além de garantir formação científica e técnica, prepara profissionais capazes de pensar de forma crítica, resolver problemas e adaptar-se a realidades em constante evolução. Estudar é, ainda hoje, um investimento seguro, não apenas para quem se qualifica, mas para toda a sociedade que beneficia de cidadãos ativos, qualificados e comprometidos com o bem comum.

Contudo, é fundamental reconhecer que a essência do Ensino Superior não se esgota nos conteúdos transmitidos pelos docentes, nem nos manuais, avaliações ou trabalhos académicos. Cada vez mais, a aprendizagem que transforma acontece fora das salas de aula. É aí que os estudantes aplicam, vivem e consolidam aquilo que aprendem.

O associativismo estudantil é um exemplo marcante dessa dimensão complementar da formação. No seio de uma associação de estudantes, os jovens aprendem a gerir equipas, comunicar eficazmente, organizar eventos, planear orçamentos e assumir responsabilidades reais, onde o erro tem consequências e o sucesso depende do esforço conjunto. São experiências que desenvolvem competências essenciais, muitas vezes designadas de soft skills.

O mesmo acontece nas Tunas, nas Junior Business Solutions, no desporto universitário, no voluntariado e nos programas ambientais como o Eco-Escolas. Qualquer iniciativa exige colocar em prática conceitos fundamentais das ciências empresariais, como a gestão eficiente de recursos, o trabalho cooperativo, a tomada de decisões e a capacidade de adaptação.

É nestes contextos que os estudantes descobrem o seu verdadeiro potencial e consolidam um perfil mais completo e confiante, pronto para enfrentar o mercado de trabalho. Aliás, é cada vez mais comum ver empregadores a valorizar justamente estas experiências extracurriculares, considerando-as indicadores fortes de maturidade, dinamismo e iniciativa.

Capacitar cidadãos implica, portanto, reconhecer que o desenvolvimento académico deve andar de mãos dadas com o desenvolvimento pessoal e social. As notas, os testes e os exames são necessários, mas não podem ser a única medida de avaliação de um estudante. Muitas competências cruciais como a liderança, espírito crítico, criatividade, capacidade de comunicação, ética ganham forma fora dos limites da sala de aula.

As instituições de ensino superior têm a responsabilidade de continuar a promover uma formação integral, que valorize o indivíduo na sua totalidade. Isso significa apoiar e incentivar todos os espaços onde os estudantes crescem, aprendem a trabalhar em conjunto e descobrem a capacidade de transformar o mundo que os rodeia.

Se queremos uma sociedade preparada para os desafios do futuro, precisamos de um Ensino Superior que continue a formar pessoas completas: competentes, conscientes, colaborativas e criativas. Formar muito para além do diploma é, hoje, mais do que uma ambição. É uma responsabilidade.

  • José Luís Silva
  • Vice-presidente do ISCAL

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