Do palco do famoso Festival de Cinema de Cannes (França), comitiva portuguesa composta por municípios e empresas trouxe para casa uma “palma de ouro” de milhares de euros de investimento imobiliário.
O Fundão foi um dos municípios portugueses que, juntamente com Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia, esteve no Palais des Festivals, palco do famoso Festival de Cinema de Cannes (França), e trouxe para casa uma “palma de ouro” de milhares de euros de investimento imobiliário. Um “prémio” que resultou da participação no MIPIM, a maior feira mundial do setor imobiliário, com mais autarquias e empresários de vários pontos do país a “sondarem” investidores para os seus projetos.
“Tivemos um contacto com um potencial investidor estrangeiro que está muito interessado em investir três milhões de euros na construção de habitação no Fundão, para colocar no mercado de arrendamento ou para vender”, começa por contar Ricardo Gonçalves, chefe da Divisão de Inovação e Planeamento deste município, em declarações ao ECO/Local Online.
Já é a terceira vez que participa no MIPIM. Face à “pressão” sentida nalgumas áreas do imobiliário, o município da Beira Baixa optou, logo no primeiro ano, por arriscar participar num evento desta dimensão. “Também fomos para fazer contactos, angariar eventuais investidores e inspirarmo-nos nas soluções que algumas cidades estão a adotar”, lembra Ricardo Gonçalves, no stand situado em frente ao espaço do Greater Porto, que juntou as câmaras do Porto, Matosinhos e Gaia.
E a estratégia parece ter resultado. “O primeiro ano que viemos à feira foi logo um sucesso, pois conhecemos investidores que depois compraram pequenos imóveis no centro da cidade, reabilitaram e colocaram no mercado do arrendamento”, avança o responsável autárquico.
Este ano, a Câmara do Fundão elevou a fasquia, de olhos postos na urgente necessidade de construir mais casas para responder ao crescente aumento de trabalhadores devido à instalação de mais empresas, nomeadamente tecnológicas. “Viemos captar investimento para responder à falta de habitação, apresentando as novas oportunidades resultantes da revisão ao Plano Diretor Municipal (PDM)”, conta Ricardo Gonçalves, enquanto aponta para uma imagem da cidade conhecida também pela produção de cerejas. Na prática, explana, o município quer usar o trunfo do PDM “prever uma expansão da cidade em áreas residenciais e coliving”.
Ainda recentemente o autarca Paulo Fernandes afirmou que são precisas 500 casas para responder à falta de habitação no concelho, que tem conseguido atrair talento para novas empresas, principalmente tecnológicas, além de fixar mais população. “Mais de 15% dos residentes são estrangeiros. Temos 74 nacionalidades a viver no Fundão”, realça Ricardo Gonçalves.
Tivemos um contacto com um potencial investidor estrangeiro que está muito interessado em investir três milhões de euros na construção de habitação no Fundão para colocar no mercado de arrendamento ou para vender.
O Fundão tem captado investimentos no turismo, na indústria, na agricultura ou na área digital, que assegura cerca de mil postos de trabalho, assinala o chefe da Divisão de Inovação e Planeamento. Em Cannes, o município quis ainda “conhecer potenciais parceiros para ajudar a desenvolver iniciativas no concelho, como a criação de uma cidade digital”. Na prática, descreve, “é uma solução para gerir cidades”, apresentada em 3D e que vai reunir “dados sobre a iluminação pública, tráfego ou gestão de resíduos, permitindo fazer simulações sobre o funcionamento da cidade”.
Porto, Matosinhos e Gaia captam investimento
Também as autarquias do Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia – reunidas no projeto Greater Porto – piscaram o olho aos investidores estrangeiros e colocaram igualmente a tónica na habitação. Entre 2024 e 2030, os três municípios contam construir mais de 45 mil fogos numa altura em que a habitação é um dos temas centrais do debate público, avança o vereador do Urbanismo e da Habitação do município portuense, Pedro Baganha.
Já o vereador da Economia, Ricardo Valente, antecipa “trazer para o território mais de 10 mil milhões de euros de investimento imobiliário até 2030”, que será canalizado para áreas como a habitação, indústria, hotelaria ou logística. “No ano passado tivemos mais de 100 milhões de euros captados nos três dias de feira”, calcula o responsável.
Região de Lisboa pisca o olho a investidores
Também a Câmara Municipal de Almada viajou até Cannes com as “vizinhas” Lisboa e Vila Franca de Xira para criar valor acrescentado para a região. “Viemos ver o que as outras cidades europeias estão a fazer ao nível da mobilidade, por exemplo, e já contactámos com investidores de várias áreas. Temos levado muitos ensinamentos daqui ao longo dos anos”, salienta ao ECO/Local Online a autarca de Almada, Inês de Medeiros, notando que este “é um dos municípios com maiores problemas de habitação” e onde residem 177 mil habitantes.
Para Diogo Ivo Cruz, diretor da Invest Lisboa, é uma mais-valia as três autarquias promoverem o território em conjunto. “A missão da Invest Lisboa é a atração de investimentos para a cidade de Lisboa. Mas, ao longo dos anos fomos percebendo que, num evento como o MIPIM, faz todo o sentido estar associado a outros municípios e ir com uma unidade geográfica de atração de investimentos“, sustenta. Além das autarquias de Lisboa, Almada e Vila Franca de Xira, fez-se acompanhar por 20 empresas, como a Delta, a Iberian Property ou a Portugal Solutions.
Viemos ver o que as outras cidades europeias estão a fazer ao nível da mobilidade, por exemplo, e já contactámos com investidores de várias áreas.
O projeto imobiliário na antiga Feira Popular de Lisboa e que mudará a face da zona de Entrecampos — cinco anos depois da venda em hasta pública dos terrenos onde se localizava –, foi um dos que esteve em destaque nesta feira. Interpelado sobre o valor dos investimentos resultantes do MIPIM, Diogo Ivo Cruz é perentório em afirmar que “é difícil medir o impacto” porque é “uma feira sobretudo de contactos, netwoking e não de resultados imediatos”. Aliás, sublinha, “cria-se um posicionamento entre investidores e operadores que só dá fruto alguns anos depois“.
Da construção ao imobiliário
Esta iniciativa conjunta para captar investimento não se cinge apenas às câmaras municipais. No caso do Porto, Matosinhos e Vila Nova Gaia, os municípios fizeram-se também acompanhar de 15 empresas. “As empresas que estão connosco são absolutamente fundamentais para escalar o impacto de investimento no nosso território”, frisa o presidente do conselho de administração da Gaiurb, António Miguel Castro.
A Emerge – Mota-Engil Real Estate Developers, por exemplo, pretendeu “estabelecer contactos com outros investidores que queiram alinhar com os projetos e propósitos” da empresa imobiliária, refere o CEO Vítor Pinho, em declarações ao ECO/Local Online. Levou à feira alguns dos mais emblemáticos projetos, como o OPO City, um empreendimento de uso misto de grande escala, com “um investimento superior a 300 milhões de euros”, calcula. Soma 270 mil metros quadrados de área bruta de construção, dos quais 10% destinados a uso residencial, sendo o restante para serviços e comércio.
A Emerge também viajou para o MIPIM com o projeto do condomínio privado de luxo Aurios, entre a zona de Bonfim e Campanhã, no Porto, que estará concluído em agosto de 2025. Ou com o projeto do antigo matadouro, em Campanhã, onde estão em curso um conjunto de obras num investimento de 40 milhões de euros. Deste espaço, 40% está alocado à câmara portuense e os restantes 60% vão ser promovidos pela Emerge e colocados no mercado para escritórios e uma pequena parte para restauração.
Também o Grupo Casais quis mostrar a potenciais investidores uma solução de construção híbrida que combina o uso de madeira e betão a nível estrutural, com fachadas pré-fabricadas modulares. Trata-se de uma solução mais amiga do ambiente; com redução na pegada de carbono, resíduos de construção, além de prazos de entrega mais céleres do que a construção convencional, descreve o CEO, António Carlos Rodrigues. Uma solução que já está a ser explicada em Espanha.
A partilhar o mesmo stand, Artur Varum, CEO da Civilria, já pode ser considerado um veterano nesta feira. “Vale a pena participar no MIPIM para fortificar relações com parceiros e entidades institucionais”, assim como para conhecer operadores no mercado que se possam instalar nos empreendimentos que constrói.
Porém, o empresário de Aveiro não esteve em França para levar investidores na bagagem de regresso. “Não procuramos investidores internacionais, pois o nosso financiamento é na banca. É uma participação mais institucional da empresa do que [propriamente] angariar clientes”, refere. Entre os projetos mostrados em Cannes está a nova Icon Tower, onde a Deloitte está a concentrar os escritórios do Porto, ou dois empreendimentos em Gaia ainda em fase de licenciamento.
(A jornalista viajou para Cannes a convite da Greater Porto).
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