Exclusivo Cascais reclama 3,8 milhões ao Governo por causa da descentralização na educação
Carlos Carreiras, autarca de Cascais, reclama 3,8 milhões do Governo por causa da descentralização de competências na área da educação, acusando o Estado de quebrar a confiança dos municípios.
O presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, reclama do Governo o pagamento de 3,8 milhões de euros em dívida desde 2017, na sequência da “pioneira” descentralização de competências da área da educação no município. Esta dívida reporta-se a refeições, encargos com pessoal e outras despesas correntes como água, luz ou gás que foram pagas pela autarquia, acabando por colocar em causa a saúde financeira do município.
Por enquanto, Carlos Carreiras quer “evitar seguir [com a reclamação da dívida] para a Justiça”, resolvendo o problema a bem, na esfera política. O autarca social-democrata vai enviar uma carta ao Executivo socialista, a dar conta da situação que está prejudicar os cofres municipais. “Vamos manifestar ao Governo este nosso descontentamento pela dívida do Ministério da Educação à Câmara de Cascais, acumulada de 2017 a 2022, na ordem dos 3.773.465 euros”, avança o autarca social-democrata, em declarações ao ECO/Local Online.
“Este montante em dívida refere-se, essencialmente, a refeições escolares, pessoal e despesas correntes como água, luz e gás” efetuadas ainda no âmbito do contrato interadministrativo de delegação de competências, assinado em maio de 2015 com o então ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, e o ministro da Educação, Nuno Crato.
Vamos manifestar ao Governo este nosso descontentamento pela dívida do Ministério da Educação à Câmara de Cascais, acumulada de 2017 a 2022, na ordem dos 3.773.465 euros.
Já antes de o Governo ter imposto, a 1 de abril de 2022, a descentralização de competências a todos os municípios no âmbito da educação, já a autarquia de Cascais tinha, em 2015, contratualizado com o Estado a delegação de competências nesta área, assim como no campo da formação. O contrato em causa abrangia áreas como a gestão de recursos, as políticas educativas, a administração educativa, a gestão e desenvolvimento do currículo, além da organização pedagógica e administrativa.
A Câmara Municipal de Cascais não foi a única a participar neste projeto piloto no país. “As autarquias de Oeiras e da Amadora também assumiram a descentralização de competências na educação”, recorda o edil.
Governo “quebra” confiança dos municípios
A situação tem vindo a piorar, completa o autarca eleito pelo PSD, pois “de janeiro a abril deste ano, os agrupamentos de escolas tiveram de utilizar as verbas ainda transferidas pela Câmara Municipal de Cascais em 2022“.
Os próximos tempos não se avizinham melhores. A agravar a dívida de 3,8 milhões de euros, chegou ao município o aviso da suspensão do contrato interadministrativo de delegação de competências. “O Instituto de Gestão Financeira da Educação [IGEFE] decidiu, em meados de abril, suspender a transferência de verbas para a Câmara Municipal de Cascais relativas ao contrato interadministrativo de delegação de competências, com efeitos em janeiro de 2023″, sublinha o autarca.
Carlos Carreiras lamenta haver “uma falta de definição e de orientação, ao não assumir os compromissos, o que leva à quebra de confiança por parte das autarquias” em relação às políticas do Governo. “Estamos a reclamar do Estado 3,8 milhões de euros que é apenas e só aquilo que se comprometeu a pagar“, reitera o social-democrata.
O Instituto de Gestão Financeira da Educação [IGEFE] decidiu unilateralmente, em meados de abril, suspender a transferência de verbas para a Câmara Municipal de Cascais relativas ao contrato interadministrativo de delegação de competências, com efeitos a janeiro de 2023.
Este dossiê da transferência de competências na área da educação já deu muito que falar. Depois de várias rondas de negociação e apesar de alguns percalços, o Governo e a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) chegaram a entendimento, tendo assinado a 22 de julho de 2022, o acordo setorial de compromisso.
Entre as grandes novidades, ao nível de cedências da parte do Governo às reivindicações dos autarcas — que até motivaram a saída do edil do Porto, Rui Moreira, da ANMP –, esteve o aumento de 20 mil euros para 31 mil para obras de manutenção por escola, por ano, que, em 2023, dispara para 37 mil euros. O que representou um aumento de 85% face ao valor base.
Ainda assim, o autarca de Cascais considera que “tudo não passa de um mito que foi anunciado com pompa e circunstância, pois até à data, não há nada na prática“. Até porque, justifica Carreiras, “quando anunciou isso, o Governo estava com intenção de colocar essas verbas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e depois chegou à conclusão que já não cabia no PRR e nem sequer em nenhum outro plano de apoios comunitários”. Portanto, critica, “tem de sair do Orçamento do Estado, mas não consta lá esse investimento“.
Entretanto, a autarquia contabiliza já ter investido cerca de 30 milhões de euros, entre 2013 e 2022, em obras no parque escolar. Prevê ainda executar, entre 2023 e 2026, várias empreitadas orçadas em 63,9 milhões de euros.
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