Pescadores portugueses apanham mais peixe em 2023. Preço médio cai 8,5%

Direção-Geral de Recursos Naturais e Serviços Marítimos mostra que os pescadores trouxeram mais peixe para terra em 2023, com descida do preço médio. Atividade é mais valiosa nas ilhas e no Algarve.

Os pescadores portugueses capturaram 118 mil toneladas de peixe no ano passado, o que compara com 107 mil toneladas registadas em 2022. Apesar desta recuperação em termos homólogos, o peixe capturado ainda está abaixo dos valores registados em 2021, que se cifrou em 124 mil toneladas. Entre janeiro a dezembro de 2023, o valor médio do peixe comercializado rondou os 2,27 euros por quilo, um valor inferior ao que tinha sido conseguido no ano anterior.

Analisando a evolução deste indicador nos últimos dez anos, os valores têm oscilado bastante. Neste horizonte temporal, foi no ano de 2013 que foi batido o recorde da década, com a captura de um total de 131 toneladas de peixe. Por oposição, foi em 2020 que foi capturado menos peixe (99 mil toneladas).

A Docapesca descreve ao ECO/Local Online que as quantidades têm sido “relativamente estáveis, registando sempre algumas oscilações ao longo dos anos”, assinalando que isso “depende de fatores da natureza”. Através de fonte oficial, recorda o período entre 2014 e 2019 em que a captura da sardinha, uma espécie muito relevante para os volume globais, esteve limitada e sujeita a regras de captura, o que acabou por baixar os níveis médios.

Houve um período entre 2014 e 2019 em que a captura da sardinha estava mais limitada e sujeita a regras de captura o que acabou por baixar os níveis médios.

Fonte oficial da Docapesca

No ano passado, o aumento de peixe capturado foi uma realidade nas regiões Norte e Centro, na Área Metropolitana de Lisboa e também no Alentejo e no Algarve. No entanto, o maior registo foi obtido nas lotas do Centro (41,6 mil toneladas), seguido pela região da capital (32,4 mil toneladas) e pelo Norte (18,9 mil toneladas), de acordo com dados provisórios da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), que o ECO teve acesso.

Nas ilhas, o cenário é um pouco diferente. Na Região Autónoma dos Açores, o peixe capturado durante o ano passado (9,4 mil toneladas) ficou aquém dos valores registados em 2022 (10,1 mil toneladas) e em 2021 (11,8 mil toneladas).

Já na Região Autónoma da Madeira, no ano passado foram capturadas 4,9 mil toneladas de peixe. Um valor superior a 2022 (3,9 mil toneladas), mas abaixo dos números de 2021 (5 mil toneladas).

Já de acordo com dados do INE, em 2022 foram capturadas pela frota portuguesa 165.801 toneladas de pescado, o que relativamente a 2021 representou um decréscimo de 10,6% na produção da pesca nacional. Pedro Jorge, presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais (ADAPI) explica a diferença dos números pelo facto de a Docapesca registar apenas o peixe fresco descarregado nas lotas em Portugal.

O responsável lembra ao ECO/Local Online que “há muito peixe fresco capturado por portugueses em lotas fora de Portugal”. Há um conjunto de 15 navios portugueses a pescar e descarregar nas lotas espanholas”, exemplifica ainda o líder da ADAPI.

Temos de conjugar as capturas de pesqueiros internos e externos. Das 166 mil toneladas capturadas em 2022, 23% foram de pesqueiros externos.

Pedro Jorge

Presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais

Temos de conjugar as capturas de pesqueiros internos e externos. Das 166 mil toneladas capturadas em 2022, 23% foram de pesqueiros externos”, realça o representante da Associação dos Armadores das Pescas Industriais. Pedro Jorge acrescenta ainda que a captura dos pesqueiros externos “tem um peso muito grande”, que em 2020 representaram 28% da produção e em 2021 foram 20%.

Preço médio baixa 8,5%. Nas ilhas é mais valioso

Por outro lado, ao longo do ano passado, o preço médio por quilo diminuiu 8,5%, para 2,27 euros (vs. 2,48 euros registados em 2022). Foi a região do Algarve que registou a maior descida do preço médio (18 cêntimos), seguida pela Área Metropolitana de Lisboa, onde caiu 17 cêntimos, e do Centro, que viu o valor médio ser desvalorizado em 15 cêntimos. No Alentejo a queda foi menos expressiva (-13 cêntimos). A região Norte foi mesmo a única em que o preço médio do peixe subiu em 2023, três cêntimos acima do ano anterior.

Em termos absolutos, o peixe algarvio continua a ser o mais caro, com um preço médio por quilo de 3,60 euros (compara com 4,42 euros em 2022). O Norte ocupa a segunda posição em termos de valor (2,46 euros), seguido do Centro (2,32 euros). Os mais baratos são os da Área Metropolitana de Lisboa (1,48 euros) e do Alentejo (1,61 euros).

Na Região Autónoma da Madeira e dos Açores, o peixe é mais valioso. O ano passado, o preço médio por quilo nos Açores foi de 4,18 euros, enquanto na Madeira foi de 4,04 euros. O preço médio foi superior ao de 2022 em ambas as regiões.

O peixe-espada preto é um peixe que se pesca muito nas ilhas e tem um valor muito elevado no mercado, enquanto há espécies que se pescam no continente em grandes quantidades, como por exemplo o carapau, mas que têm uma valor muito inferior.

Pedro Jorge

Presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais

Pedro Jorge, presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais, explica que o preço médio do peixe nas ilhas é superior porque as espécies capturadas são “mais valiosas”. “O peixe-espada preto é um peixe que se pesca muito nas ilhas e tem um valor muito elevado no mercado, enquanto há espécies que se pescam no continente em grandes quantidades, como por exemplo o carapau, mas que tem uma valor muito inferior”, diz Pedro Jorge, acrescentado ainda que nos “Açores é pescado peixe com muita qualidade”.

Uma opinião partilhada pela Docapesca, que sublinha ao ECO/Local Online que nas “ilhas são pescadas espécies com maior valor comercial. Enquanto no continente, apesar de a variedade ser maior, a existência de maiores quantidades de cavala, carapau ou sardinha acabam por “puxar o preço médio mais para baixo”.

No território continental, de janeiro a dezembro do ano passado, o peixe mais capturado foi a cavala, seguido da sardinha e carapau. Nos Açores, a categoria mais capturada foi a dos esparídeos diversos e das lulas, enquanto na Madeira foram os espargos e o peixe-espada preto.

Exportações a caminho dos 1.500 milhões

Em 2022, as exportações nacionais de pescado ultrapassaram os 1.300 milhões de euros, segundo dados do INE, tendo a ministra da Agricultura calculado em abril que seria “expectável” que no ano que terminou, e para o qual ainda não há números fechados, as vendas no exterior crescessem 15%, ultrapassando, pela primeira vez, a fasquia dos 1.500 milhões de euros.

Segundo dados da Associação Nacional da Indústria pelo Frio e Comércio de Produtos Alimentares (ALIF), o pescado português é o segundo produto agroalimentar com mais peso nas exportações, atrás das vendas agregadas de frutas, legumes e flores. A fileira da pesca, aquacultura e transformação do mercado emprega 60.000 pessoas e representa um Valor Acrescentado Bruto (VAB) superior a 2.000 milhões de euros.

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