Falência de histórica fábrica de calçado em Felgueiras deixa 80 trabalhadores sem emprego

Depois de uma quebra nas encomendas, a Rolando da Cunha Melo (RCM) pediu a insolvência, deixando cerca de 80 trabalhadores sem emprego. Empresa pagou salários de março e garantiu subsídio de férias.

A Rolando da Cunha Melo (RCM), uma das mais antigas fábricas de calçado do concelho de Felgueiras, avançou com um pedido de insolvência no início deste mês, na sequência da falta de encomendas. Em causa estão cerca de 80 postos de trabalho.

A novidade chegou aos trabalhadores através de uma carta em que era mencionado que a empresa de calçado “já não tem condições para pagar os ordenados referentes ao mês de abril”. Segundo apurou o ECO/Local Online, já pagou o salário do mês de março e garantiu também o pagamento do subsídio de férias.

“A empresa deixou de ter encomendas e começou a perder clientes. Já estava com este problema há mais de um ano. Sempre agiu corretamente com os trabalhadores e não estávamos a contar que fosse uma vítima da crise que esta indústria está a passar no concelho de Felgueiras”, relata fonte conhecedora do processo, que pediu para não ser identificada.

A mesma fonte salvaguarda que a administração da RCM “está a agir de forma correta, conforme o que está previsto na lei” e que “entretanto os trabalhadores vão ser contactados para entregar a declaração que lhes permite o acesso ao apoio social de desemprego”.

O presidente da União das Freguesias de Margaride, Várzea, Lagares, Varziela e Moure, José Lemos, confirma ao ECO/Local Online que os trabalhadores se concentraram na quarta-feira em frente à fábrica felgueirense.

De acordo com dados da consultora InformaDB, relativos a 2022, esta empresa nortenha, que exportava praticamente toda a produção, fechou esse exercício com uma faturação de 4,2 milhões de euros.

Fundada em 1963 por Rolando da Cunha Melo, esta unidade industrial com uma área total de 1.600 metros quadrados começou a laborar com uma equipa de apenas dez trabalhadores e uma produção diária de 25 pares. Nos últimos anos chegou a fabricar cerca de 700 pares de sapatos por dia e a empregar 90 pessoas.

Foi em 1975 que a empresa apostou na internacionalização e começou a exportar para França e, posteriormente, para os Estados Unidos da América. De acordo com os últimos dados oficiais disponíveis, os mercados externos absorviam 96% da produção.

“Crise profunda” no setor do calçado

O desaparecimento da histórica Rolando da Cunha Melo (RCM) é apenas mais um caso na indústria portuguesa do calçado, que só no ano passado perdeu 56 empresas e 1.361 postos de trabalho face a 2022. Como o ECO noticiou no início de março, a falta de encomendas está a parar várias fábricas e a destruir empregos neste setor tradicional, com os empresários do cluster a admitirem que “em 30 anos nos sapatos nunca [viram] uma crise tão profunda”.

A indústria portuguesa vendeu menos dez milhões de pares de calçado no estrangeiro durante o ano passado, segundo dados do INE, compilados pela associação do setor (APICCAPS). Esta redução das quantidades exportadas (-11,3%, para um total de 66 milhões de pares) foi superior à perda de 8% em valor em relação ao ano anterior.

Nas últimas duas semanas, duas das três maiores fabricantes de calçado em Portugal deram sinais de instabilidade. A multinacional dinamarquesa Ecco vai despedir 54 funcionários em Santa Maria da Feira, com a direção da empresa a atribuir a medida à necessidade de garantir a sua “competitividade e sustentabilidade”.

Também a gigante alemã Ara Shoes anunciou o despedimento coletivo de 130 pessoas em Seia, no distrito da Guarda, tendo a Câmara Municipal recebido a garantia de que a empresa se vai manter na cidade. O autarca, Luciano Ribeiro, referiu à Lusa que a empresa germânica alegou a “necessidade de proceder a uma adaptação ao mercado”.

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