Produtores de amêndoas “colhem” 59 milhões de euros em exportações

Associação de Promoção de Frutos Secos confia que Portugal poderá vir a ser o quarto maior produtor de amêndoas do mundo. Em 2022, as exportações renderam 59 milhões. Setor reúne-se em Beja.

Mais de 70 produtores de amêndoa e noz reúnem-se esta quinta-feira em Beja. De produtores a processadores, os 56 associados da Portugal Nuts — Associação de Promoção de Frutos Secos produziram o ano passado 7.900 toneladas de miolo de amêndoa e 1.250 toneladas de noz. Em 2022, os produtores de amêndoas exportaram 59 milhões de euros, sendo que Espanha absorve 90% da produção, seguido dos países nórdicos.

Estes 50 produtores (seis dos associados são apenas processadores) empregam 522 pessoas e cobrem uma uma área quase 19 mil hectares de novas plantações nas diferentes culturas (amêndoa e noz), sendo que o amendoal soma uma área de 17.414 hectares e a noz 1.357 hectares. Corresponde a 25% da produção total do país, em ambas as culturas.

“Se olharmos apenas para as plantações modernas, que surgem em 2015 e são totalmente mecanizadas, os associados da Associação de Promoção de Frutos Secos tem quase metade da área das novas plantações em amendoal e noz”, relata o diretor executivo da Associação de Promoção de Frutos Secos, António Saraiva.

Diretor executivo da Associação de Promoção de Frutos Secos, António SaraivaPortugal Nuts

“As áreas plantadas, desde 2014/2015 (17.414 hectares), ainda não atingiram a sua maturidade e a quantidade de amêndoa produzida ainda representa apenas 30% do que será produzido daqui a cinco a seis anos”, realça o mesmo responsável, em entrevista ao ECO/Local Online.

A produção de miolo de amêndoa está a crescer em Portugal e, se o ritmo se mantiver, o “país pode vir a ocupar o quarto lugar entre os maiores produtores do mundo e o segundo maior a nível europeu, a seguir à Espanha”, estima o diretor executivo da associação.

Em 2022, o ano mais recente para o qual há dados definitivos, Portugal ocupava a sexta posição a nível mundial. O país “caminha a passos bastante rápidos para assumir uma posição mais forte e entrarmos dentro dos quatro a cinco maiores produtores mundiais de amêndoa”, contabiliza António Saraiva.

Portugal pode vir a ocupar o quarto lugar entre os maiores produtores do mundo e o segundo maior a nível europeu, a seguir à Espanha.

António Saraiva

Diretor executivo da Associação de Promoção de Frutos Secos

 

Entre 2010 e 2019, Espanha e Portugal foram os países que mais aumentaram a superfície cultivada e o volume de produção de frutos secos: mais 290 mil toneladas em Espanha e 49 mil toneladas em Portugal. O dirigente associativo justifica este aumento com o “bom clima” e os “terrenos com boas condições e disponibilidade de água”. Exemplifica que a “barragem do Alqueva consegue regar três campanhas, mesmo que não chova um milímetro durante o ano”.

É no Alentejo e em Trás-os-Montes que se encontram as maiores produções de amêndoa e noz. É precisamente no Alentejo que está a Pétala Forma, liderada por Daniel Montes e que fatura 200 mil euros por ano. Fundada em 2014, nasceu de uma agricultura familiar, soma 40 hectares de amendoal e vende toda a produção para o grupo espanhol Manolet Almonds, localizada em Elche, na província de Alicante, que comprou recentemente o grupo português Migdalo de Ferreira do Alentejo.

Da amêndoa à noz, e com uma produção maior, está a empresa agrícola Trilho Saloio, localizada em Alcanhões, na região do Ribatejo. Fundada em 2016, conta com 180 hectares de plantação de nogueiras, emprega onze pessoas, fatura 1,4 milhões de euros e prevê este ano chegar a vendas de dois milhões de euros.

Quinta das Chantas, em AlcanhõesTrilho Saloio

A Trilho Saloio é dona da Go Nuts, dedicada ao processamento e embalamento de noz, prestando serviços aos acionistas e a outros produtores nacionais. Fundada em 2021, a Go Nuts é detida por 11 casas agrícolas com um total 320 hectares de nogueira na zona do Ribatejo, o que corresponde a 1.200 toneladas de noz por ano. “A Go Nuts recebe as nozes, lava, seca, calibra e embala”, resume João Sanches, dono da Trilho Saloio e principal acionista da Go Nuts.

O produtor de noz ribatejano conta ao ECO/Local Online que a Go Nuts “consegue vender toda a produção para o mercado nacional, mas prevê este ano exportar metade da produção”, especificamente para Espanha, Itália e Alemanha.

Preço da amêndoa desvalorizou nos últimos anos

O estado da Califórnia é o maior produtor de amêndoas, cultivando aproximadamente 70% da oferta mundial. Como tal, a Europa é muito dependente das produções de amêndoa dos EUA e o “preço por quilo acaba por ser controlado pela Califórnia“, afirma António Saraiva.

O diretor executivo da Associação de Promoção de Frutos Secos frisa que nos últimos dois anos os produtores viram o preço cair drasticamente, com o miolo de amêndoa a ser pago entre 3 a 3,5 euros o quilo, quando antes chegou a ser pago a 9 euros. A descida do preço é justificada pela “abundância das campanhas na Califórnia” e pelo “consumo na altura da pandemia que puxou muitos os preços”, nota ainda.

Daniel Montes, fundador da Pétala FormaDaniel Montes

Daniel Montes, fundador da alentejana Pétala Forma, corrobora a ideia e destaca que “o preço não é definido na Europa, mas sim pelo maior produtor que é a Califórnia”. Constata que nos “últimos três anos houve uma desvalorização”, embora tenha esperança que o preço por quilo chegue aos 4 euros ainda este ano.

Gestão mais eficiente de água

Os produtores de frutos secos em Portugal gastam “menos 30 a 40%” do que os homólogos americanos, mercado de referência neste setor. Um resultado que se deve, por um lado, à utilização de sistemas de rega “gota a gota” nas explorações e, por outro lado, à utilização de diferentes variedades, com outro comportamento.

“Há realmente uma boa eficiência no uso da água e esta cultura, além de muito bem adaptada às condições de clima e de solo que temos na região do Alqueva, tem um uso eficiente da água”, disse à Lusa o presidente da Portugal Nuts — Associação de Promoção de Frutos Secos, Tiago Costa.

Para Tiago Costa, esta realidade faz com que a produção de frutos secos em Portugal seja “mais sustentável a todos os níveis”, tendo em simultâneo uma menor pegada carbónica quando comparada com outros mercados produtores. O presidente da Portugal Nuts acrescentou que o país tem, por tudo isto, “condições para crescer neste setor”.

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