“Acha que a Madeira é um antro de gangsters?” Albuquerque tem a “maior fé” no seu executivo
"Somos portugueses de primeira. Não somos um bando de vadios nem de pessoas aqui destituídas de ética e de moral, nem somos uma colónia", reclama o líder do Governo da Madeira, Miguel Albuquerque.
O presidente do Governo da Madeira, Miguel Albuquerque, afirmou esta terça-feira ter a “maior fé” que nenhum elemento do executivo está envolvido no processo que investiga suspeitas de criminalidade económica e financeira na região, no âmbito da operação “AB INITIO”.
“Você acha que a Madeira é um antro de gangsters e de criminosos e de associações mafiosas? Eu acho que isto até é ofensivo para a dignidade dos cidadãos da Madeira”, disse aos jornalistas, no Funchal, referindo-se ao facto de os órgãos de comunicação social apontarem para mais de 20 suspeitos no processo, alegadamente com base no despacho de apresentação e em fontes do Ministério Público.
Miguel Albuquerque (PSD) considerou ainda ser uma “leviandade” lançar suspeitas sobre toda a gente. “Afinal quem somos nós? Somos portugueses de primeira. Nós não somos um bando de vadios, nem de pessoas aqui destituídas de ética e de moral, nem somos uma colónia”, afirmou.
Em 17 de setembro, a Polícia Judiciária desenvolveu uma operação na Madeira relacionada com suspeitas de criminalidade económica e financeira que denominou “AB INITIO“, no âmbito da qual foram constituídos nove arguidos.
Em causa estão suspeitas da prática dos crimes de participação económica em negócio, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, prevaricação e financiamento proibido de partidos políticos.
Estão a ser investigados pelo menos 25 concursos efetuados entre 2020 e 2024, totalizando mais de um milhão de euros (sem IVA).
“Eu tenho a maior fé que não está ninguém envolvido no Governo nesta questão”, afirmou Miguel Albuquerque, que hoje falou aos jornalistas sobre este processo em dois momentos distintos, primeiro à margem da cerimónia de vinculação à profissão de 95 novos enfermeiros na Madeira, depois à margem de uma cerimónia de entrega de prémios a desportistas.
Miguel Albuquerque negou, por outro lado, ter realizado reuniões com empresários na Quinta Vigia, sede da Presidência do Governo Regional, salientando que se trata de “narrativas” e “coisas absurdas”. “Num processo o que tem que se provar são factos, não são narrativas”, disse.
“Daqui a dias, com estas primeiras páginas, vamos chegar à conclusão que isto é uma terra de mafiosos e de suspeitos”, acrescentou, referindo-se à edição impressa de hoje do DN/Madeira, que identifica mais de 20 possíveis arguidos no processo.
Miguel Albuquerque reiterou estar de consciência tranquila e lamentou que as narrativas que constam do processo passem para a comunicação social, acabando por “queimar pessoas na praça pública” antes de efetuadas as averiguações.
“Claro [que estou de consciência tranquila]. Nós temos todos os procedimentos feitos nos termos legais nas instituições públicas, todas as pessoas tem credibilidade, tem currículo profissional, tem uma vida familiar”, declarou, insistindo que “é intolerável estar a queimar as pessoas na praça pública.”
No âmbito da investigação “AB INITIO”, foram detidos o presidente da Câmara Municipal da Calheta e da Associação de Municípios da Madeira (AMRAM), Carlos Teles, o presidente do conselho diretivo do Instituto da Administração de Saúde da Madeira (Iasaúde), Bruno Freitas, o ex-secretário regional da Agricultura, Humberto Vasconcelos, o antigo diretor da Agricultura e Desenvolvimento Regional, Paulo Santos, duas funcionárias deste mesmo departamento do Governo Regional e os empresários Humberto Drumond e Miguel Nóbrega.
Foi também constituído arguido o secretário-geral do PSD/Madeira e vice-presidente da Assembleia Legislativa regional, José Prada.
Os detidos saíram todos em liberdade na quinta-feira, sujeitos a Termo de Identidade e Residência, proibição de contactarem uns com os outros e obrigação de avisar o tribunal caso se ausentem da Madeira, mas sem confiscação de passaporte.
Apenas ao presidente do conselho consultivo do Instituto da Administração da Saúde da Madeira (Iasaúde), Bruno Freitas, foi decretada a suspensão do cargo público que desempenha.
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