
Há verdadeiramente luxo em Portugal?
Patrícia Barão, Partner e Head of Residential da Dils Portugal, partilha uma reflexão sobre a maturidade (ou falta dela) do mercado de luxo português. O potencial existe. Falta consistência?
Será que Portugal pode ser considerado um destino consolidado de luxo? Nos últimos anos, o país tem conquistado uma posição de destaque neste segmento, mas ainda há um longo caminho a percorrer para se equiparar a mercados maduros, como Paris, Londres ou Nova Iorque. O mercado residencial considerado de luxo tem apresentado um crescimento sustentado, com uma valorização superior a 20% entre 2021 e 2024, mas o verdadeiro luxo não se mede apenas pelo valor das casas, define-se pela exclusividade, pela experiência e pela capacidade de oferecer um serviço absolutamente diferenciado.
Com uma oferta que se expande e se diversifica, Portugal atrai cada vez mais investidores, tanto nacionais como estrangeiros. No mercado do luxo, os portugueses continuam a representar a maioria dos compradores, mas a nível internacional destacam-se os brasileiros, americanos e franceses, refletindo uma tendência de globalização do mercado. Apesar desse interesse crescente, é necessário questionar se Portugal está realmente preparado para atender aos elevados padrões de exigência deste segmento ou se ainda está a construir o seu caminho.
Os prémios e distinções internacionais acumulados nos últimos anos têm reforçado a imagem de Portugal como um destino de excelência. O país foi novamente distinguido como o melhor destino de golfe do mundo nos World Golf Awards e o Algarve recebeu, pela terceira vez, o prémio de Melhor Destino de Praia do Mundo nos World Travel Awards 2024. Estas conquistas são sinais positivos, mas será que são suficientes para consolidar Portugal como um destino de luxo? Ter reconhecimento internacional é importante, mas a consistência da experiência oferecida vai determinar a reputação a longo prazo.
Lisboa, Cascais e o Triângulo Dourado (Quinta do Lago, Vale do Lobo e Vilamoura) continuam a ser os locais mais procurados por este público. Mais recentemente, a Comporta e Melides surgiram como destinos de eleição para projetos imobiliários exclusivos, explorando um conceito de luxo mais ligado à autenticidade e à proximidade com a natureza. No entanto, o luxo vai muito além da localização. O verdadeiro desafio é garantir que a experiência vivida nesses locais está à altura do que se espera de um mercado de topo.
Uma das principais tendências neste setor é o conceito de serviced living, que procura oferecer aos residentes um conjunto de serviços exclusivos que elevam a experiência de habitação a um novo nível. Falamos de projetos que disponibilizam espaços de lazer incríveis, amenities de última geração que vão para além do que atualmente conhecemos, restaurantes com chefs premiados e serviços de concierge personalizados. Estes elementos são fundamentais para criar um ambiente verdadeiramente exclusivo, mas será que já existe uma oferta suficientemente diversificada e consistente em Portugal?
Outro aspeto determinante neste mercado é a qualidade do design e da construção. As branded residences, que combinam arquitetura de excelência com a sofisticação de uma marca reconhecida, estão a ganhar cada vez mais terreno. A atenção ao detalhe, a escolha dos materiais, a personalização dos espaços e a integração de tecnologia avançada são fatores que diferenciam um imóvel de luxo de uma mera casa que vale milhões. Além disso, a sustentabilidade tornou-se um critério essencial, casas inteligentes, energeticamente eficientes e alinhadas com práticas ecológicas são agora um requisito indispensável para os compradores mais exigentes.
Portugal tem potencial para se afirmar como um destino de luxo, mas para isso é necessário garantir que a oferta acompanha a crescente exigência do mercado global. Não basta ter imóveis de valores elevados ou localizações privilegiadas, é fundamental criar experiências únicas, oferecer serviços impecáveis e manter um nível de qualidade irrepreensível. O luxo é, acima de tudo, uma promessa de exclusividade e de excelência, e Portugal ainda tem desafios a superar para consolidar essa promessa de forma consistente.
O crescimento do setor é inegável, mas a questão mantém-se: há verdadeiramente luxo em Portugal ou ainda estamos a dar os primeiros passos rumo a um mercado exclusivo reconhecido internacionalmente?
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